A história de Búzios
Essa terra dos buzios visitada por nômades, habitada por índios expulsos por colonizadores que fundaram a aldeia e se tornaram pescadores é, hoje, uma cidade que encanta os visitantes pelo seu alto astral, suas 23 praias e, principalmente, pela qualidade de vida
Se Pedro Alvarez Cabral tivesse aportado na "baía formosa" da costa buziana, teria encontrado índios Tupinambás, um subgrupo da nação dos Tamoios, que viviam da caça e pesca e do cultivo do milho e mandioca. Seus ancestrais, povos nômades, nos visitaram há cerca de 2 mil 500 anos, cálculo feito pelo estudo de alguns sambaquis (restos de cozinha e esqueletos) encontrados na região.
A briga colonizadora entre franceses e portugueses dizimou os aguerrridos Tupinambás que de herança deixaram nomes como jerivá ou jeribá (palmeira baba-de-boi que dá um coquinho doce ) e que, muitos anos depois, passou a nominar uma praia e seu bairro, mas com a escrita alterada pelo povo buziano para Geribá. E, ainda, tucum ou tucuns (palmeira de cujas folhas se extraem fibras e, de cujas sementes das nozes saem um rico óleo).
A colonização de Búzios
A convivencia dos nativos com os jesuitas e a vida nas fazendas pioneiras da cidade
A terra dos índios se tornou aldeia e recebeu o nome de Armação dos Búzios, cuja origem é controversa: uma garante que vem da exploração da pesca da baleia que denominou antes a aldeia como Armação das Baleias; outra cita a palavra Armação como "local em que se aparelhavam navios para a pesca da baleia" (Aurélio); e ainda uma outra que afirma que o nome se originou dos "moluscos gastrópodes cujas carapaças vazias eram chamadas de "atapu" pelos índios, e batizadas de Buzios pelos portugueses" (Márcio Werneck, 1997).
Com as chamadas ¨Armações¨ (acampamentos ou postos avançados, erguidos com a função de capturar índios para o trabalho escravo, de armazenar Ibirapitanga e de consertar e reformar embarcações) começa a nascer Búzios.
Em 1532 chega a primeira expedição de caráter colonizador com Martim Afonso de Souza, já com o conhecimento dos resultados das jornadas anteriores de Américo Vespúcio e suas Entradas. Os portugueses tinham duas opções para se estabelecer no Brasil.
Martim Afonso de Souza já sabia que por favorecimento real teria assegurado para ele e seu irmão as duas melhores capitanias, então resolve de maneira estratégica escolher as capitanias de Pernambuco e São Vicente, passando o armazém fortificado de Cabo Frio para a ilha de Itamaracá em Pernambuco e fundando a colônia em são Vicente para as incursões atrás do sonhado ouro peruano, até então, sob poder dos espanhóis. Dois anos mais tarde foram criadas as capitanias hereditárias e Búzios estaria situada no segundo quinhão da capitania de Martim Afonso de Souza.
Em 1555, por não aceitar o tratado de Tordesilhas entre Portugal e Espanha, a França invade o território brasileiro ao comando de Villegaignon e funda na Baia de Guanabara a França Antártica. Sua intenção nesta ação objetiva e politicamente expansiva era a exploração de ibirapitanga em troca de objetos sem muito valor, de maneira amistosa, conquistando assim a confiança dos donos das terras.
A estratégia teve um sucesso tão grande que iludiu nossos índios e os mesmos fundaram com apoio logístico francês uma confederação contra os portugueses que se chamava, Confederação dos Tamoios. Esta grande demonstração de força indígena expandiu-se em todo litoral e uniu três poderosas nações, Tupinambás, Tamoios e Aimorés.
Pitorescamente, a segunda parte do nome da cidade de ARMAÇÃO DOS "Buzios" vem da forma de comunicação utilizada pelos povos indígenas nestes locais onde se utilizavam dos Atapus (conchas vazias de imensos moluscos gastrópodes), como corneta quando avistavam os portugueses, podendo premeditar um ataque com quilômetros de antecedência. O atapú foi batizado pelos portugueses como Búzios, devido ao som ser estridente como o de uma buzina.
Aos Tupinambás, restou o destino da morte que vinha por vingança, graças ao fato ocorrido na capitania da Bahia, onde os indígenas comeram em um ritual antropofágico o donatário da capitania, Francisco Pereira Coutinho, causando grande indignação na corte Luso-Brasileira. Este genocídio dura 62 anos e o nosso litoral é banhando por um mar de sangue, derramado em nome de interesses feudais que acreditava na indigência de índios, matando e escravizando civilizações em nome de "Deus".
Em 1565, Estácio de Sá derrota os franceses depois de dez anos de resistência e estes por terem conhecimento que os militares portugueses haviam iniciado aparelhagem do local com armações de captura e armazéns de Pau-Brasil, refugiam-se em Buzios e Cabo Frio.
Entre 1567 e 1574 os portugueses chegam com tropas e a batalha contra os franceses e a confederação dos Tamoios tem inicio em território buziano e cabo-friense. A igreja católica em 1591 implanta o projeto jesuítico com uma nova visionária a fim de acabar com as barbáries contra a nação indígena dando apoio e cobertura aos povos massacrados pela escravização, instalando-se sempre em lugares de conflito onde há também o tráfico de índios.
Em 1600 as incursões iniciadas por Estevão Gomes 62 anos antes e ratificadas com a aniquilação dos franceses e a confederação dos Tamoios em Búzios e Cabo Frio, retornam a Guanabara deixando nas adjacências de uma das Armações o desenvolvimento colonizador.
Foi introduzida a indústria da pesca da baleia em 1603 no nordeste do Brasil. A estrutura da pequena vila da armação foi aproveitada, a fim de criar um posto de mastreação e velame (provavelmente clandestina, de corsários, pois a primeira armação legal da região foi instalada em 1729 em São Sebastião com monopólio do governo português) para embarcações pesqueiras de baleias.
Em 1630, com a condenação do escravismo indígena divulgado pela igreja católica desde 1591, faz os jesuítas interferirem na briga, deslocando-se para as áreas de conflitos na intenção de cateczar, educar e dar apoio aos índios. Brás de Pina constrói em 1743 a 1ª igreja católica em Buzios, tornando-se a partir de então distrito da cidade de cabo frio e devido a necessidade do desenvolvimento da pesca as baleias para o aproveitamento do óleo na iluminação pública e na construção civil, ele recebe em 1746 o direito legal de explorar a caça da baleia no Brasil, fato que teria dado origem ao nome da praia dos Ossos. Outra hipótese para o nome teria sido um grande genocídio indígena cometido em 1865 com aproximadamente 5000 mortos.
Dezenas de escravos ficavam em roçados de banana, milho e feijão das fazendas da região, como a pioneira Fazenda Santo Inácio de Campos Novos (na região da Rasa), originalmente construída pelos jesuítas que ali viviam em 1630 a catequizar índios e confiscada, em 1757, pelos portugueses e vendida a fazendeiros ricos e escravagistas que enfrentaram mais tarde a resistência de quilombos.
Em 1759, Marques do Pombal expulsa os jesuítas do território português pela oposição ferrenha ao escravismo. A fazenda Santo Inácio dos Campos Novos é vendida para grandes fazendeiros. No início do século, a Campos Novos foi comprada pelo empreendedor alemão Eugène Honold que tentou transformá-la em fonte de exportação de banana. Querido por uns, odiado por outros, "o alemão" desistiu, entregou a terra para feitores que passaram a ter graves problemas com empregados e arrendatários (atualmente está decadente, deteriorada, saqueada e abandonada pelo o governo de Cabo Frio que se tornou proprietário, em 1993, num processo de desapropriação).
Com a evolução da colonização, famílias influentes penetraram de forma definitiva na vida e no desenvolvimento de uma nova civilização, passando a lotear as terras herdadas, organizando-se em comunidades e deixando descendentes nativos, misturados aos negros e a muitas outras raças de visitantes que resolveram viver em Búzios, conquistados pela exuberância da natureza.
Antonio Alípio da Silva foi o primeiro representante político do então 3º distrito e a partir de 1940 começou a vida política de Buzios com a participação de alguns representantes na câmara municipal de Cabo Frio.
Búzios cresceu e começou a receber personalidades ilustres como Brigite Bardot que abriu as portas da cidade para o mundo no ano de 1962.
A emancipação veio no ano 1996 e o povo elegeu no voto popular o Prefeito Delmíres de Oliveira Braga, nativo, filho de pescador, conduziu a cidade até o ano de 2000, conseguindo se reeleger por mais quatro anos na intenção de continuar melhorando a qualidade de vida dos seus habitantes e turistas.
A aldeia de Búzios
A diferença social e a forma de vida nos princípios da aldeia de pescadores, as casas eram toscas, a comida pouca, a água escassa e a vida muito dura
As casas eram toscas, de pau-a-pique, cobertas de sapé ou telhas tipo colonial, moldadas originalmente nas coxas dos escravos. Em algumas casas as paredes tinham estuque misturado com óleo de baleia para lhes dar maior consistência. Iluminação só a lamparinas com óleo de baleia, óleo de mamona, óleo da semente da frutinha conhecida por "baga" e, depois, com o "revolucionário" querosene Jacaré.
Veja sobre as Colônias dos Pescadores, principal meio de trabalho dos antigos moradores da península
Colônias de Pesca em
Búzios
As marcas de um passado vivido na base da pesca, hoje apagadas pelo turismo
Principal meio de trabalho dos antigos moradores da península depois do turismo, a pesca em Búzios formou um meio de aprendizagem, cultura e subsistência. Apesar dos ventos buzianos soprarem 300 dias por ano dificultando a prática da pesca, os nativos não desanimam, partem da praia do Canto e navegam por mais de uma hora por dia para chegar aos melhores pontos de pesca com anzol, as ilhas Âncora, Gravatá e Ilhota.
A cidade conta com algumas colônias, uma delas localizada no centro muito bem orgnizada, os pescadores pagam R$ 5,00 mensais para ter serviço médico e cadastro na Captania dos Portos. A Colônia da Rua das Pedras ainda oferece escolas de Alfabetização e aulas de Inglês, em geral filhos de pescadores da aldeia. O local é muito bem aproveitado e a organização dos participantes também formou um coral que se apresenta nos fins-de-semana e uma feirinha de artesanatos que apresenta produtos de todos os tipos aos sábados. Na colônia se encontra também o Museu Histórico de Armação dos Búzios que mostra histórias e fatos da cidade.
![Praia do canto no centro de Buzios](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_siSBnaab8ELaM_P7uZStfcJOk6FV6yP3B6fQBxL2QOqTXOTEaethpIrPxuIJ2ZBGgvWmWAboXOSGwYLSVnxnx8oEwmALZ_N_mDsjI1FuI3yH51M4INy85eKmJRN0S0-cw-i6LzDMBTfn2P=s0-d)
ttp://www.buziosturismo.com/por/servicos_colonia.php
São oferecidos trabalhos sociais pela associação, como a legalização das embarcações, o cadastro dos pescadores de Buzios no ministério da agricultura, aulas de espanhol e inglês, serviço dentário, cursos de capacitação profissional, apontando sempre para a conscientização e preservação da pesca artesanal, mostrando os importância e os valores da profissão. Na Colônia ainda são promovidas reuniões entre os pescadores todas as terças para resolver todos os problemas ligados a comunidade pesqueira e o desenvolvimento de novas técnicas.
Para aqueles que vem a Búzios com o fim de se aventurar nas águas da península em busca de boa pesca, na colônia é possível alugar um barco para a prática ou para passear pela região. Por menos de R$ 30 por hora os visitantes tem a opção de alugar uma trainera e a vantagem de pescar ao lado de pescadores natos e ainda desfrutar do conforto. Brasileiros, Argentinos, Italianos e turistas dos lugares mais inóspitos nunca deixam de venerar a boa caipirinha servida a bordo.
A festa mais importante da comunidade de pescadores é a de São Pedro, em 29 de junho. A imagem de N.Sra. de Santana parte da igrejinha da padroeira da pesca e é levada até um barco. Os barcos dos pescadores são enfeitados com bandeirinhas coloridas e partem numa procissão que dura o dia todo. À tarde, o barco que transportava a imagem encosta no deck e uma multidão a acompanha de volta até a igreja. Como o festejo acontece no período de férias, a cidade fica lotada de turistas de todas as partes do mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário