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sábado, 1 de março de 2014

CARNAVAL - Banda de Ipanema comemora 50 carnavais de muita irreverência

Banda de Ipanema comemora 50 carnavais de muita irreverência

Grupo arrastou cerca de 45 mil foliões na orla da Zona Sul com o mesmo fôlego das primeiras edições
Foliões da banda costumam ousar na irreverência Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Foliões da banda costumam ousar na irreverência Domingos Peixoto / Agência O Globo



RIO - Em plena ditadura militar, um grupo de garotos de Ipanema criou uma banda que faria história. Inspirados na Philarmônica Em Boca Dura, de Ubá, em Minas Gerais, eles pegaram instrumentos de sopro e percussão, sem saber executá-los, e cruzaram a Avenida Vieira Souto e a Rua Visconde de Pirajá vestindo ternos brancos. Mesmo com as Forças Armadas nas ruas, não deixaram o sonho de lado. Ali nascia, em 13 de fevereiro de 1965, a Banda de Ipanema, que desfilou na neste sábado pela 50 ª vez pelas ruas do bairro, reunindo cerca de 45 mil foliões e nomes como Paulinho da Viola e a drag queen Isabelita dos Patins.

— Eu não sou um dos fundadores, mas no ano seguinte da criação da banda, já estava com amigos e músicos participando do desfile, que é marcado por irreverência, humor crítico e, sobretudo, carnaval afirmou Paulinho da Viola.
Após 50 edições, os garotos, hoje senhores, têm tudo para brindar um evento que virou referência turística, atrai multidões e é tombado como Patrimônio Cultural Carioca desde 2004. O primeiro desfile reuniu 130 amigos. Hoje, a banda chega a arrastar 80 mil foliões. Carlos Drummond de Andrade, Oscar Niemeyer, Leila Diniz e Chico Buarque já desfilaram. Dodô da Portela foi destaque. A banda se tornou referência pelos acordes que ecoam dos mais de 70 instrumentos de sopro, entre trompetes, trombones e saxofones, e do batuque dos surdos e bumbos, sob a batuta de três maestros.

A ideia da banda surgiu numa visita a Ubá, em 1959, quando os amigos José Ruy Dutra e Albino Pinheiro, entre outros fundadores, viram um desfile da Philarmônica Em Boca Dura. Um show caótico, alegre e inusitado, no qual os homens usavam ternos brancos surrados e as mulheres, vestidos comportados, fingindo tocar instrumentos de sopro.

— Era isso que queríamos. O povo mineiro já tinha incorporado o espírito irreverente e transformava aquele evento em uma grande festa popular conta José Ruy, hoje com 80 anos.

Décadas depois, Cláudio Pinheiro, de 78, outro fundador da banda, relembra situações inusitadas pelas quais o grupo passou. A faixa com os dizeres: “Yolhesman Crisbeles”, que abre os desfiles da Banda de Ipanema, desde o período da ditadura, não tem qualquer conotação política ou crítica aos militares. Na época, agentes do Exército pensavam ser uma ironia em relação ao regime. Porém, Cláudio, às gargalhadas, relembra que a mensagem foi tirada de uma pregação na Central do Brasil feita por um homem que vendia bíblias. Eles acharam que soava bem e passaram a usá-la em faixas.

— Não tínhamos força para derrubar esse sistema. A gente só queria tomar as nossas cervejas e dar risadas, comemorando o carnaval na rua. Alguns brincam que quer dizer ‘tudo o que você queira e nada que você não queira’ conta Cláudio.

— Não temos compromisso com censura nem preconceito. Somos a favor da liberdade democrática.

Travestida de Carmem Miranda, Juju Maravilha, que há 15 anos sai no bloco da Zona Sul, foi uma das primeiras a chegar na concentração:

— Sou a pessoa mais parecida com Carmem Miranda no mundo. Isso quem disse foi a própria irmã dela gaba-se o travesti.

À frente do bloco, uma das faixas tinha a inscrição “Banda de Ipanema, festa de todos 50 anos de democracia nas ruas”. Assim é como gosta de ser conhecido o bloco mais tradicional da Zona Sul.

— Somos uma banda libertária. Temos índio, branco, preto, gay, árabes, judeus, católicos e protestantes. Aqui pode vir quem quiser. Não temos abadá nem cordão de isolamento. Por isso é que reunimos multidões todos os anos disse José Ruy Dutra, um dos oito fundadores vivos do banda.

— É maravilhoso estar aqui. A Banda representa a filosofia de Ipanema disse a Maria Vasco, primeira porta-bandeira a desfilar na banda.

Também houve espaço para o ressentimento de Isabelita dos Patins:

— Nós drags não temos mais incentivo para desfilar na banda. Quando o Albino era vivo, ele entregava um envelope com o dinheiro do táxi e alguns drinks. Por isso que a banda não têm mais drags e personagens. Só venho de teimoso que sou para agradecer o carinho que as pessoas têm por mim. Mas já estou indo embora.

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