O fato de eu estar aqui e agora não passa de um incidente no continuum espaço-tempo. Um grupo de átomos se posicionou de forma a criar um arranjo mais complexo de matéria, e o resultado final foi a gota de protoplasma: eu.
Seus constituintes existem desde o início do Universo, e sempre vão existir.
Suas formas eternamente mutantes enchem o cosmos manifesto, e não há nenhuma diferença fundamental entre elas, seja em mim ou na poeira interestelar.
Este mundo de aparências não é sólido o suficiente para perdurar.
Ele é aquilo que os hindus chamam de maya, “o que não é”, ou seja, ilusão.
A origem da ilusão é uma alteração simples. Como nossos sentidos não gostam de mudanças, assumiram o trabalho de parar o mundo. Eles selecionam uma parte da mudança, trancam-na em uma “fase” e a encaram como realidade imutável.
Keats, o poeta, deslumbrado com esse fato, escreveu:
A poesia do Universo jamais morre.
Enquanto entendermos o mundo como um conjunto de formas fixas, estaremos participando de uma realidade estagnada. O fluxo de inteligência parou numa estação no meio do caminho. Quando ele seguir em frente, a realidade mudará outra vez.
Assistimos a um período em que uma verdadeira mudança está em marcha. Depois de passarmos séculos dissecando e desmistificando a natureza, a ciência se prepara para se juntar ao fluxo novamente. Nas palavras do Prêmio Nobel Ilya Prigogine, a ciência está agora suficientemente madura para respeitar a natureza.
A próxima fase, na qual estabeleceremos uma relação mais primordial com o Universo, ele descreve como um momento de “novo fascínio pela natureza”. O fascínio, ou encantamento, é nosso estado natural. Posso ser uma simples gota de protoplasma, mas aqui e agora não canso de me encantar comigo mesmo e com o próprio encantamento.
A verdadeira saúde é o crescimento, e você não pode crescer a menos que seu ponto de vista seja inocente, de encanto e, acima de tudo, temporário. Nada é fixo, e a vida está sempre aberta à aventura.
O Talmud traz uma passagem maravilhosa que diz que Deus criou o Universo com as seguintes palavras: “Espero que funcione!”. Eis aí uma atitude sábia deixar que a vida seja o que ela é. Esse é o comportamento natural das crianças, seres que não se entediam, não são críticos nem se deprimem. Você sabe que se tornou adulto quando se vê presa dessas características.
A moderna psicologia vem tentando determinar a idade em que a personalidade humana para de crescer. Até agora, nenhum limite foi estabelecido. A evolução é um processo contínuo cujo término a ciência ainda não descobriu, embora ainda não o considere inteligente.
No momento, a ideia de uma Natureza inteligente seria considerada um exercício de fé.
A ciência não aprova a fé porque ela não é objetiva, e, portanto, não pode ser provada. No entanto, a atual revolução científica começou quando alguns pensadores passaram a ver que fazemos parte da natureza, e, por isso, não podemos separá-la daquilo que acreditamos que ela é.
A fé é uma força primordial da natureza. Todos acreditam em alguma coisa; os valores que abraçamos e as coisas que acreditamos serem reais formam nosso sistema de crenças.
No efeito placebo, o paciente que acredita nos efeitos do comprimido inócuo consegue a cura. Esse é o sistema de crenças em funcionamento. O corpo acompanha a fé para conseguir resultados. Se dissermos a um paciente que o comprimido que ele está tomando vai acabar com sua dor, mas antes injetarmos em seu organismo uma droga que bloqueie o efeito narcótico dos analgésicos, o efeito placebo não vai funcionar. Isso mostra que a fé do paciente de fato produz moléculas analgésicas reais (as endorfinas), que a outra droga bloqueia.
A fé não se limita aos comprimidos. Ela pode estar em tudo e em todos, afetando todos os tipos de reação biológica.
Na cura pela fé, por exemplo, a pessoa deve acreditar que vai ficar boa, postura que também deve ser adotada por aquele que pratica a cura. Nos casos de regressão espontânea da doença, o paciente deve acreditar em si mesmo. Ninguém, nem mesmo os céticos, sobrevive sem algum sistema de crenças.
Um cientista treinado por métodos objetivos tradicionais pode afirmar que não acredita na inteligência infinita do Universo. No entanto, toda vez que faz uma experiência expressa sua crença de que há uma ordem qualquer que pode ser desvendada e que dará os mesmos resultados se ele repetir a experiência corretamente em uma segunda vez. Sem essa crença, a ciência não seria possível.
Alcançamos um alto nível de fé quando reconhecemos e entendemos a natureza da inteligência em nível racional. Trata-se da crença na racionalização consciente.
O mais alto nível de fé surge quando a mente entra em contato com a própria inteligência. A mente não mais precisa de razões para crer na inteligência da natureza, pois nesse momento sente-se integrada a ela sente-se em casa.
Essa manifestação de fé já produziu as mais profundas reverências da humanidade por si mesma: “Tu decretarás uma coisa, e ela se estabelecerá em ti. E teu caminho será iluminado”. Ou então: “Peça, e receberás; procura, e encontrarás; bata, e a porta te será aberta”. Os indivíduos conscientes a ponto de verdadeiramente acreditarem nessas afirmações não sentem o fracasso, não sofrem, não adoecem. Eles só experimentam a força, a paz, a vitalidade e a totalidade.
Assim, a fé desconhece limites, pois a inteligência tem a capacidade infinita de criar novos aspectos da realidade.
Estamos chegando perto do sentido daquelas palavras védicas o Universo é o macrocosmo e o homem, o microcosmo.
Quando vencermos a distância que separa nossa vida interior e a realidade externa, a natureza se tornará encantada mais uma vez. A crença na inteligência universal, para citar o professor Napoleon Hill, “restaura a fé quando todo o resto falha, desafiando todas as regras da ciência moderna. Ela cura as feridas produzidas pela tristeza e pelo desapontamento, quaisquer que sejam suas causas”.
A fé é um passo inevitável em direção ao autoconhecimento.
Deepak Chopra
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