Marselha (em francês Marseille e em occitano Marselha; antigamente conhecida como Massalia - do grego: Μασσαλία) é a segunda maior cidade de França e a mais antiga cidade francesa.[2] Localizada na antiga província da Provença e na costa do Mediterrâneo, é o maior porto comercial do país. A população municipal é 852.395 habitantes (censo de 2007 - INSEE[3]) distribuídos por 240,62 km², que atinge 1.601.095 habitantes (censo de 2006 - INSEE[4]) na região metropolitana (equivalente a aire urbaine em francês - área urbana) de Marselha-Aix-en-Provenceem 2.830,2 km², a terceira mais populosa da França após Paris e Lyon.
Marselha é a capital administrativa da região (préfecture de région) de Provence-Alpes-Côte d'Azur e do departamento (préfecture départementale) de Bouches-du-Rhône (Bocas do Ródano). Foi povoada pelos gregos no século VII a.C. e passou para o domínio romano em 49 a.C.
O antigo porto de Marselha.
História
Pré-história e antiguidade clássica: do paleolítico a próspero "empório" grego
Porto velho de Marsella (Vieux-Port de Marseille).
Diversos achados e estudos arqueológicos de diferentes assentamentos comprovam a presença humana de maneira contínua em Marsella desde a pré-história. As pinturas rupestres paleolíticas na Caverna de Cosquer, próximo ao calanque de Morgiou, datadas entre 27000 e 19000 a.C., atestam a presença humana na área de Marselha há mais de 30 000 anos.[5] No sítio arqueológico da colina de Saint-Charles,[6]no centro urbano, recentes escavações têm encontrado ruínas de moradias e construções de tijolo de barro e terra modelada do Neolítico, cerca de 6000 a.C. Estas técnicas de construção poderiam confirmar as teorias de John Guilaine sobre a propagação da cultura neolítica através da migração de povos do Oriente Médio através do Mediterrâneo.[7]
A cidade de Marselha propriamente dita foi fundada em 600 a.C. pelos gregos de Foceia, napenínsula de Anatólia,[8] como um porto comercial sob o nome de Μασσαλία (Massalia). Embora as circunstâncias e a data precisa da fundação desta colônia continuam imprecisas, a lenda sobrevive.
O desenvolviento posterior de Massalia, que atingiria um significativo número habitantes e a categoria de pólis (cidade-estado), a transformou em um porto grego de referência na Europa Ocidental. Mais adiante se aliou, por proteção, à República Romana em suas disputas com etruscos, celtas e cartagineses. Esta aliança fez a colônia grega prosperar graças a sua posição como ponte de comércio entre Roma e os povos do interior da Gália, facilitando o intercâmbio de bens manufaturados, escravos e, particularmente, devinho, cuja elaboração e cultivo em Marselha remonta ao século IV a.C., como demonstram a escavações na colina de Saint-Charles, com a descoberta de substratos de viticultura, os mais antigos descobertos na França.[6] Em 49 a. C., como consequência de seu apoio ao partido de Pompeu o Grande em sua disputa com Júlio César, foi anexada a Roma por este último após vencer e capturar a sua frota, adotando o nome latino de Massilia.
A administração romana manteve a fundação construída pelos gregos, como atestam os achados arqueológicos que mostram também trabalhos de ampliação e obras de infraestruturas inovadoras dos romanos, como o esgoto, do qual Marselha foi a primeira vila na Gália a ser equipada. Pátria do famoso marinheiro Piteas, Massilia foi controlada por um conselho de 15 senadores eleitos entre os 600 do Senado, embora o poder executivo fosse desempenhado por apenas três deles.
De acordo com a tradição católica, Maria Madalena difundiu o cristianismo na Provença a partir de Massilia junto com Lázaro de Betânia,[9] que seria, segundo alguns autores, o primeiro bispo da diocese de Marselha.[10] Do período de expansão cristã se conserva o epitáfio dos prováveis mártires Volusiano e Fortunato, considerada a mais antiga das inscrições cristãs.[11]
Idade Média: cidade da Provença
Marselha em 1575.
Após o colapso do Império Romano na Europa Ocidental, no século V, a cidade passou a ser governada pelos visigodos que a cederam aos ostrogodos, após a Batalha de Vouillé em507, para evitar que caísse nas mãos dos francos que, entretanto, acabaram ocupando-a. No íncio do século VIII, a destruição do Reino hispânico visigótico pelos Omíadas e a instauração de seu poder na Península Ibérica, iniciou um período de disputa pelo controle da Europa Ocidental com o Império Carolíngio, o que afetou o desenvolvimento de Marselha e as demais vilas francas da costa mediterrânea, principalmente na primeira metade doséculo IX, com o assédio das rotas comerciais pela pirataria. Marselha foi atacada e saqueada duas vezes naquele período por tropas muçulmanas enviadas de Al-Andalus, em838 e 846.[12] A decadência econômica se manifestou durante todo o século X, e Marselha não pode manter seus privilégios municipais,[13] porém foi recuperando-se uma vez integrada as possessões dos condes da Provença. Em 1262, a cidade se rebelou sobBonifácio VI de Castellana e Hugues des Baux, primo de Barral des Baux, contra o governo dos angevinos, porém foi derrotada por Carlos I da Sicília e Nápoles.[14][15] Em 1348, a cidade foi um dos focos de penetração na Europa da devastadora epidemia de peste bubônica (peste negra), por sua condição de porto, resultando na morte de cerca de 15.000 de seus 25.000 habitantes.[16] Além disso, sem se recuperar do desastre demográfico, a cidade é atacada e saqueada durante 3 dias em 1423 pela frota de Afonso V de Aragão, em resposta as pretensões de Luís III de Nápoles em recuperar o domínio dos territórios do sul da Itália.
Torre de Renato I de Nápoles de meados do século XV, no forte de Saint Jean.
Em 1437, Renato I de Nápoles, que sucedeu a seu pai Luís II de Nápoles como Rei da Sicília e Duque de Anjou, chegou a Marselha e tornou-a um dos assentamentos mais fortificados fora de París.[17] Marselha foi logo usada pelo duque de Anjou como uma base marítima estratégica na reconquista de seu reino da Sicília. O Rei René, que desejava equipar a entrada do porto com uma sólida defesa, decidiu construir sobre as ruínas da antigua torre Maubert e estabelecer uma série de muralhas para proteger o porto. Jean Pardo, engenheiro, criou os projetos e Jehan Robert, pedreiro de Tarascon, cuidou do trabalho. A construção das novas defesas da cidade ocorreu entre 1447 e 1453.[18]
O comércio em Marselha também floresceu enquanto o sindicato começou estabelecer uma posição de poder com os comerciantes da cidade. Renato também fundou a Corporação de Pescadores.
Marselha se uniu a Provença em 1481 e então se incorporou ao Reino da França no ano seguinte, mas logo adquiriu uma reputação por se rebelar contra o governo central.[19]
Renascimento: integracão à coroa da França
Uns 30 anos após sua incorporação, Francisco I visitou Marselha, atraído por sua curiosidade de ver um rinoceronte que o Rei Manuel I de Portugal estava enviando ao papa Leon X, mas que havia naufragado na Ilha de If. Como resultado desta visita, se construiu a fortaleza do Castelo de If, o que não bastou para impedir o cerco do exército do Sacro Império Romano alguns anos mais tarde.[18]Marselha tornou-se base naval para a aliança franco-otomana em 1536, enquanto uma frota franco-turco ficava estacionada no porto, ameaçando o Sacro Império Romano e, especialmente, a Gênova.[20] No final do século XVI, Marselha sofreu outro surto da praga, o que contribuiu para que pouco depois se fundasse o hospital do Hôtel-Dieu. Um século mais tarde o rei Luis XIV teve que descer a Marselha, a frente de seu exército, com o fim de eliminar um levante local contra o governador.[21] Como consequência, os fortes de San Juan e San Nicolás foram erguidos acima do porto e uma grande frota e arsenal instalados no próprio porto.
Séculos XVIII e XIX
Intérieur du port de Marseille, de Joseph Vernet (1754).
No transcorrer do século XVIII, as defesas do porto foi melhorada e Marselha se tornou mais importante como principal porto militar francês no Mediterrâneo. Em 1720, agrande peste de Marselha, uma variante da Peste Negra, provocou 100.000 mortes na cidade e nas províncias limítrofes.[22] Jean-Baptiste Grosson, notário real, escreveu de1770 a 1791 o almanaque histórico de Marselha, Recueil des antiquités et des monumentos marseillais qui peuvent intéresser l'histoire et les arts, ( "Coleção de antiguidades e monumentos de Marselha que podem interessar a história e as artes"), que durante muito tempo foi o principal recurso sobre a história dos monumentos da cidade.
A população local abraçou com entusiasmo a Revolução Francesa e 500 voluntários marcharam para Paris em 1792 para defender o governo revolucionário. Em sua marcha de Marselha a Paris cantavam uma canção, que passou a ser conhecida como La Marseillaise, hoje em dia convertida no hino nacionalda França.
Durante o século XIX, a cidade foi lugar de inovações industriais e de crescimento na indústria. A ascensão do Império Francês e as conquistas da França de 1830 em diante (sobretudo a Argélia) estimularam o comércio marítimo e aumentaram a prosperidade da cidade. As oportunidades marítimas também aumentaram com a abertura do Canal de Suez em 1869. Este período na história de Marselha se reflete em muito de seus monumentos, como o obelisco napoleônico de Mazargues e o arco do triunfo real na Place Jules Guesde.
Século XX
Porto de Marselha depois daSegunda Guerra Mundial.
Durante a primeira metade do século XX, Marselha comemorou seu status de porto do Impériona exposição colonial de 1906 e 1922, a monumental escadaria na estação de trem, glorificando as conquistas coloniais francesas, datam desta época. Em 1934, Alexandre I da Iugoslávia chegou ao porto para se reunir com o ministro das relações exteriores francês Louis Barthou, porém, ambos foram ali assassinados por Vlado Chernozemski.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade foi bombardeada pela Alemanha e Itália em 1940. Foi ocupada pelos alemães entre novembro de 1942 e agosto de 1944. Uma grande parte do centro antigo da cidade foi dinamitado num enorme projeto de limpeza, com o objetivo de reduzir as possibilidades de ocultar membros da suposta resistência, que operavam nos edifícios antigos de grande densidade de população. Os governos da Alemanha Oriental,Alemanha Ocidental e Itália pagaram enormes reparações, acrescidas de juros, para indenizar civis mortos, feridos ou que ficaram sem-teto ou indigentes como consequência da guerra, e para a reconstrução da cidade.
A partir da década de 1950, a cidade serviu como porto de entrada na França de mais de um milhão de imigrantes. Em 1962, houve um grande fluxo após a independência da Argélia, que incluiu uns 150.000 Pieds-Noirs, que se estabeleceram em Marselha, um número considerável para uma cidade grande que já atravessa uma crise econômica.[23][24] Muitos dos imigrantes permaneceram e tem dado a cidade um vibrante barro africano com um grande mercado.
Geografia
O território de Marselha forma uma espécie de anfiteatro, bloqueado pelo mar a oeste, pelos calanques ao sul com o Maciço de Marseilleveyre, pela Costa Azul ao norte com a vila de l'Estaque (imortalizado pelo pintor Paul Cézanne) e pelos maciços de l'Étoile eGarlaban a nordeste. A cidade se estende por uma faixa de 57 km² ao longo do Mediterrâneo.
Quase metade da superfície da comuna está em território natural não urbanizável e a cidade se espalha por uma área extremamente grande, a quinta maior comuna da França metropolitana. Assim, sua densidade (3.542 hab./km²) é bem inferior ao das cidades totalmente urbanizada, como Lyon (9.867 hab./km²) ou Paris (20.807 hab./km ²), mas comparável a de Toulouse (3.715 hab./km²). Se for considerada apenas a sua área habitável, cerca de 150 km², a densidade atinge 5.683 hab./km².
Pontos turísticos
O Velho Porto, ou Vieux Port
- Notre-Dame-de-la-Garde
- Castelo de If (ou Château d'If), uma antiga prisão situada numa ilha costeira à cidade, onde O Conde de Monte Cristo foi encarcerado, no romance de Alexandre Dumas
- A Unidade de Habitação de Marselha (Cité Radieuse), construída pelo arquiteto suíço Le Corbusier
- As Calanques
- Cours Julien, bairro tido como o local de encontro da cultura alternativa marseillaise
Bairros
Os bairros de Marselha são bastante conhecidos e com alta popularidade graças ao charme que possuem. Um dos mais importantes e populares é o distrito de Le Panier, cheio de lojas de artesanato, tais como padarias e produtos de pastelaria típicos da região. O monumento mais importante de Le Panier é La Charité, mencionado acima, um edifício do século XVIII, que tem restaurantes e museus como o de Arqueologia do Mediterrâneo. A praça no Castellane Prado é uma das mais ativas da cidade. Tornou-se o local escolhido pelos habitantes de Marselha, onde o centro histórico foi gradualmente despovoado. Perto da praça da Prefeitura está localizada a Cours Julien, conhecido localmente como Cours Ju. É uma praça, e também um parque, um dos mais alternativos da cidade, com uma infinidade de formas. Possui numerosos bares, restaurantes que oferecem pratos e culinárias de todas as nacionalidades e também livrarias.
Cidades-irmãs
Marselha é cidade-irmã de treze cidades[52] e possui pacto de amizade e cooperação com outras vinte e nove cidades ao redor do mundo.[53]
- Cidades-irmãs
- Acordos de cooperação