Apaixonar-se leva você a uma fusão apaixonada com seu ente querido, mas a paixão mais profunda é pelo Eu Superior, a fonte de todo amor.
Em nossa cultura, não somos ensinados a ver a paixão como um evento espiritual; no entanto, durante séculos, essa foi a interpretação aceita. Quando a pergunta “de onde vem o amor?” era feita, a resposta universal era “de Deus”. De acordo com o Novo Testamento,
“Aquele que não ama não conhece a Deus; pois Deus é amor.”
As vidas dos santos de todas as religiões demonstraram o amor em sua dimensão espiritual; ao mesmo tempo, a pessoa mais humilde que se apaixonava também percebia que estava andando num território sagrado. Mas com a passagem dos séculos, particularmente no Ocidente, a conexão divina foi perdida, e o amor romântico tornou-se uma questão mais terrena, mais centrada no charme encantador de outro indivíduo.
Em termos espirituais, apaixonar-se é uma abertura, uma oportunidade de entrar num espaço sem tempo e permanecer lá, de aprender os caminhos do espírito e de trazê-los para a terra. Todas as aberturas são temporárias isso não é uma limitação específica para a paixão. A pergunta real é, o que devemos fazer com a abertura?
As mais elevadas qualidades espirituais verdade, fé, confiança e compaixão crescem a partir das menores sementes da experiência cotidiana. Seus primeiros florescimentos são incrivelmente vulneráveis, e não há garantia de que não vão murchar e morrer. Como podemos cuidar dessa frágil abertura do coração, nutrindo-a até se desenvolva para estágios mais substanciais de crescimento?
Para fazer isso, precisamos examinar o romance, o primeiro estágio na jornada do amor, como parte de um ciclo atemporal que oferece um conhecimento cada vez maior da realidade espiritual. As compreensões desse primeiro estágio são, naturalmente, relacionadas com um novo nascimento:
O amor sabe que você existe e se importa com a sua existência.
O espírito atemporal pode tocar você nesse mundo do tempo.
Com um novo nascimento do coração, você verá um novo mundo.
O amor nunca é velho, renovando-se com cada amante.
A carne e o espírito podem compartilhar os mesmos deleites.
Todas as pessoas são inocentes à luz do amor.
Quando você se apaixona, essas compreensões vêm para você como água fresca, no entanto elas são tão antigas quanto o caminho para o próprio amor. A sensação do amor romântico é tão avassaladora que é fácil negligenciar o valor dessas comparações; elas estão entre as mais felizes que alguém pode experimentar aqui na terra. Para os amantes, o crescimento interior começa num estado de enlevo.
Existem quatro fases distintas do romance. Muito embora nem todos possam esperar experimentá-las exatamente do mesmo modo, todas as quatro emergem naturalmente uma vez que seus sentimentos por outra pessoa vão além da amizade para a ligação apaixonada. As quatro fases são:
Atração
Enamoramento
Corte
Intimidade
A atração começa quando uma pessoa escolhe, geralmente através de meios totalmente desconhecidos e inconscientes, outra pessoa para ficar apaixonada. O enamoramento, em que o ser amado torna-se totalmente desejado e presente, vem logo em seguida.
Nas profundezas do enamoramento, a vida fantasiosa pode tornar-se desvairada e extrema. Se não existirem barreiras insuperáveis, segue-se a fase da corte. A pessoa amada é cortejada para criar a mesma atração que a pessoa apaixonada sente de maneira avassaladora.
Se a corte for bem sucedida, segue-se a intimidade. A excitação sexual subjacente que exerce um elemento tão forte no romance, e que de início é limitada pelo escape da fantasia, pode ter agora a realização. Através da intimidade, a união das duas pessoas começa a ocorrer no mundo real, em vez de dentro de uma psique isolada.
A realidade aparece, à medida que as imagens rosadas dos amantes são testadas com uma pessoa real. Para melhor ou pior, existe um desmascaramento da fantasia, e o caminho é liberado para o próximo estágio da jornada do amor, o relacionamento.
Essas quatro fases do romance ocorrem numa sequência natural e linear, mas ao mesmo tempo formam um círculo inteiro. Durante algum tempo a pessoa apaixonada e a pessoa amada são liberadas da realidade cotidiana; estados extraordinários de emoção e atração num plano privilegiado. Uma vez que a fantasia é desmascarada, os amantes voltam para a terra ou aprendem a partir de suas experiências e ficam prontos a integrá-las no crescimento subsequente do amor.
Muito embora isso aconteça espontaneamente, apaixonar-se não é acidental não existem acidentes na vida espiritual, só padrões que ainda não reconhecemos.
Todo amor baseia-se na busca do espírito.
Esta é a primeira grande compreensão a ser encontrada no amor romântico ele não é sobre duas pessoas que se apaixonaram loucamente uma pela outra; é sobre duas pessoas vendo o espírito uma da outra.
Uma expressão dessa ideia vem da antiga Índia; o rei mítico Yajnavalkya fala sobre o amor com sua rainha:
“Em verdade, não é pelo marido que o marido é querido, mas pelo Eu Superior.”
“E não é pela esposa que a pessoa é querida, mas pelo Eu Superior.”
“E não é pelos filhos que os filhos são queridos, mas pelo Eu Superior.”
“De fato, minha amada, é o Eu que deveria ser visto, o Eu que deveria ser ouvido, o Eu que deveria servir de tema para reflexão, e o Eu que deveria ser reconhecido.”
Essa passagem do “grande ensinamento da floresta” (Brilhadaranyaka Upanishad) data de milhares de anos atrás. Se o que ela proclama é verdade, apaixonar-se é inegavelmente um ato da alma. Apaixonar-se leva você a uma fusão apaixonada com seu ente querido, mas a paixão mais profunda é pelo Eu Superior, a fonte de todo amor.
Deepak Chopra
http://universonatural.wordpress.com/2012/12/10/o-espirito-do-romance/