Curiosa, a psicóloga e praticante de ashtanga yoga Simone Jubran fez as malas e, ao lado de uma amiga, viajou à Índia. Lá, mergulhou na filosofia yogue, viu uma pobreza assustadora e se emocionou com a força que emana dos olhos do povo
Texto • Carolina Escobar / Fotos • Arquivo pessoal da Simone
Impulso natural
Há mais de quatro anos, eu nutria um forte desejo de ir para Índia. Era algo muito intenso dentro de mim e eu nem entendia muito bem o porquê de tal ímpeto até o momento em que cheguei ao país. Não me lembro se o desejo veio antes ou depois de começar a praticar yoga. De qualquer forma, ela me incentivou a traçar um plano para ir à Índia não apenas para fazer turismo, mas também para me aprofundar no estudo do yoga. Depois de aproximadamente quatro anos de prática, eu me sentia pronta para me aventurar no Oriente. Na minha cabeça, somente quando eu atingisse um nível mais avançado na disciplina poderia desfrutar plenamente da viagem e eu estava certa. Convidei uma amiga que também queria ir e... Lá fomos nós!
Choque que fez bem
Pôr os pés naquele território foi uma experiência incrível. De cara, me identifiquei muito. Tenho a impressão de que devo ter vivido alguma das minhas vidas na Índia. Cheguei temerosa em virtude daqueles comentários que a gente escuta quando o assunto é Índia, do tipo “vocês vão se assustar com a pobreza” ou “cuidado para não passar mal com a comida!”. Mas logo me senti em casa, um sinal de que eu realmente estava preparada para viver aquela experiência.
Faxina emocional
Eu e minha amiga Marina Athanas ficamos duas semanas praticando yoga no sul da Índia, em Kerala, numa prainha chamada Kovalam Beach. Sentíamos como se estivéssemos na Bahia. Lá há muitos estrangeiros buscando aperfeiçoamento espiritual. Foi uma delícia! A gente praticava yoga uma vez por dia, depois ia para praia e fazia massagens ayurvédicas. Neste período, só comemos comida vegetariana, ingerimos muito líquido e não colocamos uma gota de álcool na boca. Aliás, foram dias em que nos desintoxicamos de tudo, inclusive do estresse de São Paulo e da loucura do final de ano.
Olhos de luz
O povo tem uma energia muito forte, eles são muito espiritualizados, têm muita fé. Apesar da pobreza, da falta de comida, da sujeira, daquelas condições todas de que a gente ouve falar e que são reais, existe uma força interior em cada uma daquelas pessoas. Uma força que você enxerga nos olhos delas, no sorriso. Elas podem não estar comendo, mas estão tão vivas, e isso é superforte, é até difícil explicar.
Culto ao Ganges
Fizemos uma viagem de dez dias pelo norte da Índia, passamos pelo Rajastão (que é deserto) e por outras cidades lindas, rodeadas por lagos. Fomos conhecer o Taj Mahal, passeamos por Agra e Varanasi, onde fica o rio Ganges – cujas águas, para os indianos, são sagradas. Lá, os mortos são cremados e jogados no rio. É uma cena impressionante! Quem não sabe que eles têm um outro conceito de morte se assusta.
Algo no ar
Praticar yoga na Índia é diferente de praticar no Brasil. Ficamos em uma cidade onde fazia muito calor e isso afeta a execução dos asanas. Além disso, quando você não está trabalhando, não está no seu meio, está completamente desligada do seu mundo, tudo muda. Durante o período em que permaneci na Índia, esqueci que tinha uma vida no Brasil. Parece que, ao colocar os pés naquela terra, você vai para outra dimensão... Existe uma espiritualidade no ar, algo que está presente em tudo e isso nos permite dar um upgrade em nosso processo de evolução.
Balanço pós-Índia
De volta ao Brasil, levei dois meses para me adaptar: minha alma ainda estava na Índia. Acho que, quando a gente se entrega e vive uma viagem dessas de coração aberto, tudo ganha um significado maior. Passei um bom tempo digerindo tudo o que vivi lá. Desejo muito voltar para a Índia, mas, enquanto não vou, quero praticar muito mais o yoga, porque é o meu motor. Os 30 dias em que estive lá foram dias em que o coração batia forte desde o amanhecer até a noite. As cores, o cheiros, os condimentos, a comida, os olhares, é tudo muito emocionante. A experiência me incentivou a estudar outras religiões. A busca da espiritualidade lá fora, o encontro com o sagrado, comigo mesma, essa união de corpo, mente e espírito me fez ver que posso, de alguma maneira, ter aquelas sensações todas aqui. Agora quero descobrir como... Será por meio do yoga? Será com alguma religião? Existem muito caminhos, estou tentando encontrar o meu!
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