Sempre na minha mente e no coração...

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Corcovado ou Cristo Redentor, lindo !!!

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

MITOLOGIA GREGA - Eos e Titonus, uma lição para o envelhecimento


Eos e Titonus, uma lição para o envelhecimento

Os titãs Téia e Hiperion tiveram três filhos, as mais lindas crianças do Olimpo: Selene - a Lua, Helius - o Sol e Eos - a Aurora. Conduzindo uma carruagem puxada por seus dois cavalos Claridade e Brilho, Eos saía de seu palácio e cruzava os céus anunciando à Terra que Helius - o Sol estava chegando para clarear um novo dia, por isso Eos era considerada a deusa do alvorecer, a que se renova todos os dias.

Bela e formosa, Eos atraia a atenção dos deuses. Ares - o deus da guerra e um dos amores de Afrodite - quis conquistá-la, por isso Afrodite resolveu castigar Eos plantando o amor em seu coração e deixando-a apaixonada para sempre. Assim, ela teve inúmeros casos de amor com muitos deuses e jovens mortais. Com Astreu, Eos foi mãe dos ventos Zéfiro, Bóreas, Nótus, Euro, de Eósphoro - a estrela d'alva e de todas as estrelas.

Por não ter seu amor correspondido por Orion, Eos sequestrou Céfalo, Clito, Ganimedes e Titonus para que fossem seus amantes. Apesar de toda a sua beleza, Eos não conseguiu conquistar o amor de Céfalo. Por fim, perdendo as esperanças, consentiu que ele retornasse para viver com sua esposa. Clito fugiu e Ganimedes deixou-a para ir viver no Olimpo.

Tomada de paixão pelo belo jovem Titonus, filho de Laomedon rei de Tróia, Eos foi com ele para a Etiópia. Eles tiveram dois filhos: Memnón que lutou junto aos troyanos e foi morto por Aquiles e Ematión que foi morto por Hércules. Sem os filhos, Eos pediu a Zeus a imortalidade para seu esposo mas esqueceu de pedir também pela juventude eterna.

Titonus foi envelhecendo, tornando-se feio e pequenino. E quando não conseguia mais se mover, a deusa transformou Titonus em um gafanhoto, o mais musical dos insetos, para que ela pudesse ter a alegria de ouvir para sempre a voz do amante. Desde então a cada amanhecer, a aurora chora lágrimas de orvalho pelo destino de seu amante, enquanto o gafanhoto canta repetidamente: morri... morri... morri... embora continue vivo.

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O mito de Eos e Titonus envolve várias reflexões, uma delas é sobre o envelhecimento, um processo contínuo que inicia-se a partir do nascimento. Cada dia vivido é um tempo de envelhecimento e o modo como agimos, nossos hábitos de vida e os cuidados que temos com nós mesmos são decisivos para uma velhice penosa ou para a etapa de maturidade que não extingue o tempo das descobertas e da alegria de desfrutar a existência. 

Viver é envelhecer, a vida é para ser vivida e não para ser conservada. A transitoriedade faz parte da vida, como um rio que segue sua trajetória fluindo diante do seu destino. Lutar contra a velhice é lutar contra a realidade humana, o que acaba trazendo sofrimento. E o que dói não é a velhice, mas a ideia que temos do envelhecimento. O que torna esse processo um fardo para muitos é o medo das limitações impostas pelas perdas do organismo. 

De fato, quanto mais vivemos, maiores são os desgastes físicos que impomos às nossas estruturas orgânicas. A pele perde gradualmente o frescor, a massa muscular diminui e a gordura corporal aumenta. Os sentidos antes aguçados passam a precisar de artefatos como óculos, aparelhos para perda auditiva etc. Querer ser eterno é querer o impossível, é desdenhar do transitório e querer a permanência esquecendo que nada é definitivo, tudo muda, tudo passa. 

Com a passagem dos anos é natural que tenhamos muitas lembranças do passado, mas a grande sabedoria do envelhecimento é não se fixar no retrovisor e sentir nostalgia e nem sentir medo do futuro. Um dos maiores dramas da velhice é gerenciar as perdas que a vida traz ao longo dos anos: a aposentadoria afasta do trabalho e da função social, os filhos vão cuidar de suas próprias vidas, amigos e parentes falecem e a solidão é inevitável. Por isso é preciso encontrar uma maneira saudável de lidar com as ausências e amenizar a angústia. 

A dor da solidão provoca envelhecimento rápido, causa doenças, maltrata as pessoas, principalmente quando a autoestima já está em baixa, porque a grande questão do sofrimento ao envelhecer está no processo da auto-estima. Vivendo numa sociedade narcisista, baseada em imagens idealizadas, embarcamos no mito da beleza e da juventude, como se a imagem fosse mais importante do que a vida que pulsa em nosso corpo através do nosso coração e do ar que respiramos. A autoestima não permite nenhuma exigência ou condição; é gostarmos de nós mesmos sem importar com as rugas que inexoravelmente irão surgir.

Para enfrentar esse sentimento sem grandes prejuízos, é importante investir numa vida social mais ativa, participar de grupos, realizar alguma atividade prazerosa, manter o bom humor e pensamentos positivos. Problemas e doenças todos sempre terão ao longo da vida. O que podemos controlar é a maneira como aceitamos essas situações. Se as aceitamos com positividade, a vida fica mais leve. Lamentar só agravam os problemas. 

A idade avançada não é motivo para sermos rabugentos, queixosos ou reclamar de tudo. Quem sorri espontaneamente tem melhor atitude diante da vida. Manter uma fisionomia pacífica é essencial para a boa convivência, afinal quem vive de cara feia afasta todos ao redor. A falta de senso de humor ou uma vida acompanhada de impaciência, raiva e atitudes hostis estão associados a um maior risco de desenvolver pressão alta, diabetes e doenças cardíacas. 

Não existem pílulas mágicas capazes de evitar o envelhecimento mas existem fórmulas de bem viver. Além das receitas consagradas de movimentar-se, alimentar-se adequadamente e dormir bem, é necessário ativar o cérebro, administrar as emoções e sorrir mais. Não deixar o cérebro envelhecer é usar de potentes estímulos para os neurônios como as leituras, conversas, jogos e palavras cruzadas que evitam a demência. 

Coisas, pessoas e animais envelhecem porém o mais importante é o prazer da existência, do pacto que se faz com a felicidade sem se importar com a trajetória do tempo. E o grande segredo é desenvolver os próprios talentos e potenciais. Dessa forma o tempo será sempre um aliado e não um inimigo. Somos testemunhas de um tempo e a deusa Eos, a aurora de cada dia, vem nos lembrar que cada manhã é tempo de celebração e de recomeço.


http://eventosmitologiagrega.blogspot.com.br/2012/06/eos-e-titonus-uma-licao-para-o.html

MITOLOGIA GREGA - Aquiles - o mito do signo de Câncer

Aquiles - o mito do signo de Câncer

Tétis, a deusa do mar, era desejada como esposa por Zeus e por seu irmão Poseidon. Porém Prometeu profetizou que o filho da deusa seria maior que seu pai, e diante disso os deuses resolveram dá-la como esposa a Peleu, um mortal já idoso, intencionando enfraquecer o filho que dela nasceria e seria apenas um humano.

Nasceu Aquiles e Tétis visando fortalecer sua natureza mortal, mergulhou-o, ainda bebê, nas águas do mitológico rio Estige. As águas o tornaram um herói invulnerável, exceto no calcanhar, por onde a mãe o segurou para o mergulhar no rio, daí a famosa expressão “calcanhar de Aquiles”, significando ponto vulnerável.

Aquiles tornou-se o mais poderoso dos guerreiros, porém, ainda era mortal. Mais tarde, sua mãe profetiza que ele poderia escolher entre dois destinos: lutar em Tróia, alcançar a glória eterna mas morrer jovem, ou permanecer em sua terra natal e ter uma longa vida, mas sendo logo esquecido. Aquiles preferiu a glória...



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Câncer é o signo cujo símbolo é o da fecundidade, que permite uma concepção do protecionismo instintivo, que manifesta-se dentro do recipiente que envolve, nutre, aquece, acolhe e protege. Câncer é o símbolo dos processos que mantém a vida latente. Seu símbolo, o caranguejo, cuja forma arredondada e fechada lembra o útero que engloba, nutre e que permite o desenvolvimento da vida.

É a defesa contra um mundo hostil, o símbolo da família que resguarda nossa história, nossa memória, nosso passado. Câncer, símbolo da mãe, provedora da vida que alimenta, envolve, ampara, protege e apoia seus filhos. Aquela que protege contra a deterioração e brutalidade do mundo exterior, resguardando todos os sonhos e as imagens essenciais de nossa história.

O mito representa os cuidados maternais: Têtis, era uma deusa mas seu filho era um mortal e ela quis transformá-lo em um deus de forma que nada pudesse atingi-lo. No entanto, por mais que tenha tentado protegê-lo, uma parte do filho ainda era vulnerável, escapando da sua proteção e indo de encontro ao seu próprio destino, no qual a deusa não poderia intervir.

http://eventosmitologiagrega.blogspot.com.br/search/label/Mito%3A%20Aquiles%20e%20as%20vulnerabilidades%20humanas%20mito%20do%20signo%20de%20c%C3%A2ncer

MITOLOGIA GREGA - Greias, o caminho do autoconhecimento

Greias, o caminho do autoconhecimento

As Gréias, também chamadas de Fórcidas, tinham cabelos grisalhos desde o seu nascimento, por isso eram chamadas de Greias - as cinzas. Filhas de Cetus e Fórcis, elas eram divindades marinhas originadas de Gaia. Apesar de Cetus significar monstro, nome dado pelos antigos gregos às baleias, Cetus era uma deusa extremamente bela e gerou belas filhas porém perigosas e odiadas pelos deuses, como as Górgonas, a serpente Ladon, Equidna e as Gréias.
Elas pediram aos deuses a vida eterna mas esqueceram de pedir juventude eterna, portanto envelheciam sem morrer. Eram as três irmãs mais velhas e guardiãs das Górgonas. Decrépitas, tinham somente um olho e um dente que elas compartilhavam entre si. Nunca o dente e o olho estava ao mesmo tempo com uma só, ou seja, durante todo o tempo só uma delas falava, outra só uma tinha visão e a última apenas ouvia.

Enyo - o terror, Deino - o medo e Pefredo - o alerta, viviam no Extremo Ocidente, no país da Noite, onde jamais chegava o sol. Apesar das Gréias serem consideradas pacíficas, Enyo é possivelmente um hipocorístico feminino de Enyálios, deus das lutas armadas, muitas vezes associado ao grito de guerra. Trata-se, talvez, de divindade pré-helênica. Enyó seria "a que faz penetrar, a que fura". Também é considerada parte do cortejo sangrento de Ares. Em Roma foi identificada com a deusa da guerra Belona.

Somente as Gréias sabiam do caminho para chegar nas Gorgonas. Quando Perseu ofereceu-se a trazer a cabeça da Górgona, a Medusa, Hermes mostrou a Perseu o caminho das Gréias e ele conseguiu apoderar-se do olho e do dente das Gréias, recusando-se a devolvê-los até que elas mostrassem o caminho que lhe permitiria chegar até as Ninfas, que lhe dariam tudo o que necessitava para lidar com Medusa.

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Se o mito de Perseu e Medusa representa o enfrentamento dos nossos medos e temores, as Gréias representam o aprendizado necessário para o autoconhecimento. Como guardiãs do que se encontra mais oculto de nós, algumas vezes precisamos apenas olhar para nós mesmos, sem críticas e sem medo. Ora devemos ouvir, o que dizemos para nós mesmos. Ora devemos falar sobre o que mais tememos. São as Greias que poderão nos indicar o caminho para a autodescoberta.

Elas são grisalhas desde o nascimento e pela sua velhice aparente, estão relacionadas às antigas crenças que carregamos desde a mais tenra idade e que influenciam em nosso presente. Existem vários mecanismos que desenvolvemos desde a nossa infância, como sermos ensinados a lutar contra aquilo que achamos incorreto e por isso criamos afirmações do tipo: eu não posso, eu não consigo, eu não... Acreditamos que podemos evitar o que consideramos incorreto com simples convicções e expressões que gravamos em nós mesmos. Infelizmente, o que é positivo não aflora em nós naturalmente. 

Temos a opção de pensar apenas em coisas que nos façam felizes, reconhecendo os nossos talentos e habilidades. No entanto, muitas vezes esquecemo-nos desse aspecto e pensamos negativamente a nosso respeito quando as coisas vão mal. È difícil contornar a situação de modo a vencer este sentimento de derrota, o mais fácil é certamente entregarmo-nos à tristeza. A fórmula para vencer os nossos pensamentos negativos não está disponível em outras pessoas e em nenhum lugar. É preciso existir uma grande força interior para assumirmos o controle da nossa mente.

Tudo se torna mais fácil e divertido quando sentimos emoções positivas. Quando pensamos e agimos de forma diferente, o nosso pensamento torna-se criativo. Quando apreciamos e reconhecemos o melhor de cada situação ou experiência, nos tornamos melhores e naturalmente o mundo à nossa volta se torna melhor. Quando aprendemos a rir de experiências menos positivas, descobrimos que não precisamos estar mal diante de situações ruins. Ser otimista, é correr o risco de realizar sonhos, é acreditar na capacidade de gerir o nosso destino, pois a vida não é algo que podemos impor ou fazer barganha, mas que devemos construir.


Se conheces a ti mesmo, mas não conheces o teu inimigo, 
por cada vitória sofrerás também uma derrota. 

Se conheces o teu inimigo e conheces a ti mesmo, 

não precisas temer o resultado de cem batalhas. 

Se não conheces a ti mesmo nem conheces o teu inimigo, 

perderás todas as batalhas. 

(Sun Tzu, A Arte da Guerra)

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MITOLOGIA GREGA - Horas, as deusas da ordem natural das coisas

Horas, as deusas da ordem natural das coisas

As Horas eram originalmente deusas do ano, das estações climáticas e da ordem natural da natureza. Mais tarde passaram a personificar também a ordem humana e social. Associadas com as Moiras que eram suas meias-irmãs, cuidaram de Hera na sua infância e foram suas servas, ajudaram no aperfeiçoamento de Pandora e assistiram o nascimento de Hermes e Dioniso.
Elas eram as guardiãs das portas do Olimpo, organizando a passagem das estrelas e participavam do cortejo de Afrodite e dos demais deuses e deusas relacionados ao trabalho agrícola e à passagem das estações como Perséfone. Serviam e eram encarregadas de guardar a ambrosia que era o alimento dos deuses e oferecê-lo aos humanos que viessem a merecer a imortalidade e a divinização. Muito tempo depois, as Horas passaram a personificar a divisão do dia.
Filhas de Zeus e Têmis, as mais velhas e mais conhecidas eram Eirene, Eunômia e Dikê. Posteriormente surgiram as demais Horas: Auxo, Acme, Anatole, Disis, Dicéia, Euporia, Gimnásia, Talo e Carpo. Na versão arcaica ateniense, as Horas cultuadas pelos camponeses eram representadas como jovens rodeadas de flores coloridas, vegetação e outros símbolos de fertilidade. Originalmente representavam apenas três estações do ano: primavera, verão e outono e na versão mais conhecida das eras helenística e romana, as Horas eram:
  • Diké ou Dice era a deusa dos julgamentos e da justiça humana, vingadora das violações da lei que na mão direita sustentava uma espada e  na mão esquerda sustentava uma balança de pratos que representava a igualdade de direitos. Representava a organização das coisas para harmonizar a sociedade e as relações dos indivíduos. Na mitologia grega era representada com os olhos abertos simbolizando a busca pela verdade. Chamada de Iustitia pelos romanos, passou a ter os olhos vendados simbolizando a imparcialidade nos julgamentos. 
  • Eunomia era a deusa da disciplina ou equidade, das leis e da legislação. Representava o resultado do esforço contínuo do indivíduo para melhorar suas habilidades e aperfeiçoamento. Era deusa auxiliar de artistas e da maioria dos mortais que chegaram a desenvolver habilidades excepcionais devido à disciplina e persistência.
  • Eirene ou Irene personificava  a paz, descrita na arte como uma bela jovem que portava uma cornucópia, um centro e uma tocha, chamada pelos romanos de Pax. Estaria ligada a compreensão da ordem natural sem se opor à ordem natural dos eventos. Esta seria a verdadeira paz para os gregos da época, uma harmonia e consequente conforto ante os eventos cotidianos.
  • Dicéia era a deusa menor da justiça e dos acordos
  • Gimnásia era a deusa da ginástica e dos esportes.
  • Euporia era a deusa da abundância.
  • Disis era a deusa da finalização do dia, o por do sol.
  • Acme era a deusa do apogeu.
  • Anatole era a deusa da alvorada e do nascer do sol.
  • Talo ou Thallo que significa broto, era a deusa dos brotos e dos botões de flores, protetora da juventude.
  • Auxo ou Auxésia que significa crescer, era a deusa do florescimento. 
  • Carpo ou Karpo que significa fruto, era a deusa do amadurecimento, encarregada do outono e da colheita. Era filha de Clóris ou Flora - a deusa da primavera e Zéfiro, o vento da primavera

    Frequentemente associadas às Graças, as deusas Horas foram representadas por muitos artistas como dançarinas de eterna juventude a quem se prestavam inúmeros cultos. Na mitologia romana tornaram-se alegóricas representando as estações.
Por personificarem as horas do dia e da noite, eram consideradas como filhas de Cronos - o Senhor do Tempo e companheiras do Sol e da Lua. E foi assim que as 12 Horas passaram a personificar as doze horas do dia a partir do nascer do sol,  tendo como deusas tutelares: 
  • Auge: a primeira luz
  • Anatole ou Anatólia: o nascer do sol ou alvorada
  • Música ou Mousika: a hora matinal de estudo da música
  • Ginástica, Gymnastika ou Gymnasia: a hora matinal do exercício físico
  • Ninfa ou Nymphe: a hora matinal do banho   
  • Mesêmbria: o meio-dia
  • Esponda ou Sponde: hora das libações após a refeição
  • Elete: a rezadora ou a primeira hora de trabalho da tarde
  • Acte ou Akte: a segunda das horas de trabalho da tarde
  • Hésperis ou Hespérides: a tarde ou entardecer
  • Dísis ou Dysis:  o pôr-do-sol
  • Arctos ou Arktos: a constelação da noite, a Ursa Maior.
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O que fazemos com as nossas horas disponíveis? Diariamente temos 24 horas, mas parece que o tempo escorre pelas nossas mãos. Estamos vivendo na era da velocidade e, indignados, corremos querendo ultrapassar o tempo. Se pudéssemos criaríamos mais horas para o nosso dia e, como não é possível, passamos o dia lutando com o tempo. Nessa pressa foram criados produtos químicos para acelerar  a germinação e a maturação, mas consequentemente aceleram a finalização.
A velocidade se tornou um novo paradigma, um padrão de comportamento para quem quer obter sucesso, estar integrado, fazer parte do sistema, concorrer no mercado e ser aceito e aplaudido. No entanto, podemos ser simplesmente sugados pelo sistema e acabarmos sendo consumidos velozmente, sem nos darmos conta de que podemos fazer mais, porém administrando o tempo com lucidez e planejamento.
É preciso tempo para tudo: para nascer, para germinar, para dar frutos, para morrer; essa é a ordem natural das coisas.  Ser veloz não é a mesma coisa que ter pressa. Fazer as coisas rapidamente não é o mesmo que terminar no menor tempo. Sair na frente não garante chegar em primeiro lugar. Há uma certa dose de relatividade. Quando fazemos as coisas com calma, colocamos mais atenção ao momento presente e erramos menos. Quando abandonamos o "Fast Food" estamos optando pelo "Slow Food", e não se trata de comida, se trata de estilo de vida.
A maioria das pessoas no mundo estão sempre apressadas vivendo no estilo "Fast Food", um jeito urbano de comer rapidamente um sanduíche encostado de pé no balcão em substituição ao almoço. E assim esquecem os prazeres do "Slow Food", de sentar-se à mesa, comer e beber devagar, dando-se o tempo para saborear a comida, transformando a refeição em um momento de encontro e comunhão com a paz e com o prazer, sem pressa e com muita qualidade e satisfação, essa é a idéia. Trata-se do contraponto ao espírito do Fast food e o que ele representa como estilo de vida moderno.
A idéia de respeitar o tempo de comer, valorizando a arte da culinária, o convívio familiar e melhorar a saúde, amplia sua ação para muito além da borda da mesa de jantar. Tem tudo para virar filosofia de vida, pois comer não é mais do que uma das múltiplas atividades a que o homem se submete em sua rotina diária, entre tantas outras. O Slow Food pode servir de base para um movimento maior, inicialmente chamado Slow Europe. Sua ideia é questionar a pressa do mundo, a angústia das pessoas, a loucura generalizada na sociedade imposta pela globalização, pela competitividade crescente e pela velocidade da informação proporcionada pela Internet.
Quando o engenheiro americano Frederick Taylor criou no início do século 20 as bases da administração moderna, procurava otimizar o trabalho dos operários em uma fábrica. Para isso estabeleceu uma relação matemática entre a produção que eles conseguiam e o volume de recursos utilizados na produção. E Taylor considerou o tempo como o mais importante entre todos os recursos.
A partir de então se estabeleceu a cultura do século que se iniciava: fazer mais em menos tempo. Porém fazer as coisas em menos tempo não significa fazer mais rápido, significa fazer com mais qualidade. A má interpretação de sua ideia acabou por criar um caos comportamental que se refletiu em pessoas apressadas, neuróticas e infelizes. "Pense antes de fazer, planeje seu trabalho, organize-se e só então faça", dizia ele.
Correr como baratas tontas diante da necessidade de fazer mais com menos, é bem diferente do que planejar, preparar, aprimorar a técnica e só então fazer, rápido mas sem pressa, saboreando cada momento como único, que de fato é. Não se pode lutar contra as horas do dia. Elas são poderosas e sempre ganham a batalha. A idéia não é de luta mas de aliança, porque se gastamos mais tempo para fazer bem feito, economizamos o tempo que gastaríamos refazendo ou corrigindo defeitos e erros.
Ter uma atitude sem pressa significa colocar mais atenção no que se faz, dedicando tempo para os valores que a rapidez do mundo moderno relega a um plano secundário: a família, os amigos, o lazer, a cultura, o tempo livre para simplesmente viver. É uma volta à valorização da casa, do bairro, da cidade, dos ambientes conhecidos, presentes, palpáveis, em oposição ao mundo globalizado, distante, anônimo, abstrato, frio.
O acesso aos valores essenciais à felicidade do ser humano, como a convivência, a fé, a esperança, a serenidade, os prazeres do cotidiano, torna-se mais fácil através de uma atitude sem pressa. Isso resulta em pessoas menos estressadas e neuróticas, mais leves, mais felizes e, por isso mesmo, mais produtivas. A sabedoria popular cunhou ditados para falar da importância de se reduzir a velocidade: "devagar se vai ao longe"; "o apressado come cru" são alguns deles.
Quer um bom resultado, com segurança e rápido? Então faça devagar, não se afobe, pense antes de agir, faça uma coisa de cada vez. Lembre-se: velocidade é diferente de pressa. Ser veloz é adequar-se às condições. O veloz chega antes, o apressado se cansa pelo caminho. O carro não pode ir mais rápido do que as condições que a estrada permite. A boca não pode falar com a velocidade do pensamento.
Chronos é o deus do tempo medido, do cronômetro, do relógio, do calendário, das ações repetitivas mas é Kairós quem governa o tempo vivido, aproveitado, saboreado, sentido, bem utilizado. Administrar o tempo é identificar como estamos usando as 24 horas de cada dia, detectando onde estamos perdendo tempo, as tarefas desnecessárias e improdutivas que estamos realizando. Esse processo possibilita auto-descoberta, além de que pode nos tornar mais produtivos e livres para fazer coisas que nos satisfaçam.
Muitas pessoas reclamam que nunca há tempo suficiente para fazer tudo que seja necessário e que gostariam de fazer, no entanto, elas tem mais tempo do que imaginam ter. Na verdade, elas estão sendo dominadas pelo tempo, quando o correto seria o contrário. Tempo perdido é tempo irrecuperável, e mesmo que se tenha agilidade, muitas vezes a vontade de recuperar o tempo compromete a qualidade do que se faz.
É o perfil de nosso comportamento diante do tempo que nos dirá, o que e como devemos mudar. Muitas vezes a pessoa começa uma tarefa, retoma outra sem concluir a primeira e depois outra sem concluir nenhuma. No final do dia, constata que está exausta, trabalhou o dia inteiro e não vê nenhum resultado. Outras vezes ela se propôs a fazer tantas coisas, se ocupou de coisas de menor importância, e quando percebe, algo importante deixou de ser feito, e aí reclama que as horas passam rápido demais...


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MITOLOGIA GREGA - Themis e Zeus, o casamento que inseriu a ordem e equidade no mundo

Themis e Zeus, o casamento que inseriu a ordem e equidade no mundo

Themis foi uma das titânides, filha de Urano e Gaia. Seu nome significava "aquela que é posta, colocada" e era representada empunhando uma balança onde equilibrava a razão e a emoção. Quando ainda era uma criança, sua mãe a entregou aos cuidados de Nyx, a Deusa da Noite e da Escuridão para protegê-la do enlouquecimento de seu pai. No entanto, Nyx se sentia cansada e pediu às Moiras que criassem Themis e sua filha Nêmesis. 
As Moiras eram as Deusas do Destino. Elas fiavam o fio do destino humano e cuidavam para que um destino fosse designado para cada um e que ninguém escapasse dele. Cloto era quem fiava, Láquesis determinava o comprimento do fio e Átropos cortava o fio da vida no momento determinado para a morte. Tanto os homens quanto os deuses temiam as Moiras e suas decisões deviam ser obedecidas.
Elas criaram Themis e Nêmesis ensinando-lhes tudo sobre a ordem cósmica e natural das coisas, como o ciclo da vida - nascer, crescer, morrer -, além da importância de zelar pelo equilíbrio. Por terem crescido juntas, as duas tinham muitas semelhanças: Themis - a Deusa da justiça e Nêmesis - a Deusa da retribuição e recompensa.
Nêmesis originalmente significava "distribuição da sorte", nem boa nem má, simplesmente na proporção devida a cada um segundo seu merecimento. Quando alguém sofria por uma atitude alheia, Nemêsis não permitia que o ofensor passasse impune. Nas tragédias gregas, Nêmesis apareceu principalmente como vingadora dos crimes e castigadora da arrogância. 
Alguns a chamavam de Adrastéia que significa "aquela de quem não há escapatória" ou "a inevitável". Como deusa da devida proporção e equilibrio, ela punia toda transgressão dos limites da moderação e restaurava a boa ordem das coisas, por isso era considerada a divindade do castigo. Ostentando uma espada que representa a justiça, trazia nas mãos uma ampulheta advertindo que a justiça poderia demorar, mas seria certeira. Por isso, muitas vezes é relacionada ao karma.
Themis era a deusa guardiã da consciência coletiva e personificava a lei, a ordem social, a lei espiritual e justiça divina. Era frequentemente invocada na corte quando se faziam os juramentos perante os magistrados, pois representava o ajuste das divergências para estabelecer a paz. Por isso Themis passou a ser considerada a Deusa da Justiça e protetora dos oprimidos, que os romanos chamavam de Deusa Justitia.
Ela tinha as qualidades de Gaia - a terra, ou seja, estabilidade, solidez, imobilidade e falava com os homens através dos oráculos. Estava ligada à voz da terra e exaltava as leis da natureza e as leis naturais que todos deviam obedecer, que antecedem as regras ditadas pela sociedade. Foi Themis quem orientou Deucalião e Pirra para formar uma nova humanidade depois do dilúvio e ajudou Hércules a salvar Prometeu, que tinha sido condenado a morrer acorrentado num rochedo após roubar o fogo dos deuses para oferecer aos homens.
Quando a esposa de Zeus estava grávida, Themis alertou-o que nasceria uma filha que seria uma ameaça ao seu poder. A esposa de Zeus tinha o dom de se transformar em qualquer coisa, por isso Zeus propôs uma brincadeira pedindo que Métis se transformasse em uma mosca. Aproveitando-se de uma distração, Zeus engoliu-a. Da cabeça de Zeus nasceu Athena.
As Moiras profetizaram que Zeus tinha muito a aprender com Themis. Algum tempo depois, Zeus e Themis casaram e foram os pais das Horas e de Astreia, a deusa protetora da humanidade e simbolizava a pureza e a inocência. Conta-se que Astreia deixou a Terra no fim da Idade do Ouro para não presenciar as aflições e sofrimentos da humanidade durante as idades do Bronze e do Ferro. No céu ela foi transformada na Constelação de Virgem.
As Horas eram muitas, sendo as mais conhecidas: Eirene, Eunômia e Dikê que personificavam a paz, a disciplina e a justiça. Como guardiãs do Olimpo, elas cuidavam da ambrosia, o alimento dos deuses, e organizavam a passagem das estrelas. Assim tornaram-se as deusas do ano, das estações climáticas e da divisão do dia em horas. Elas eram a extensão dos atributos de Themis e presidiam a ordem natural humana, da natureza e social.
Enquanto Zeus exercia o poder absoluto, um padrão arquetípico que governa a consciência coletiva, Themis desestabilizava o absolutismo e as certezas de Zeus, movimentando-se dentro de vários outros padrões arquétipicos. Ela era sua esposa e conselheira, temperando o poder com sabedoria. Respeitada por todos os deuses, ao presidir as reuniões políticas do Olimpo Themis manifestava o teor organizacional de sua dignidade e justiça.
Com seriedade moral obrigava os grandes e poderosos a ouvir, de modo consciencioso, as objeções e contribuições daqueles menos proeminentes. A deusa opunha-se à dominação de um sobre muitos e apoiava a unidade mais que a multiplicidade, a totalidade mais do que a fragmentação, a integração mais do que a repressão. Nessa atividade de contenção e vinculação, Themis revelava o princípio operado pela consciência feminina: a lei do amor.
Seu maior opositor era Ares - o deus da guerra que tinha apetite por violência e sua sede de sangue não conhecia limites. Themis não era contra a guerra, mas defendia a ordem natural e ambiental, pois a guerra reduzia o tempo da vida e a população humana. Sua balança foi transformada na Constelação de Libra, que brilha céu para nos lembrar que a justiça é fundamental.

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No imaginário popular, sempre quando se fala em Justiça surge a figura da mulher de olhos vendados carregando uma balança e a espada. De fato, essas imagens alegóricas representam a manifestação da Justiça.
  • A Balança simboliza a equidade, o equilíbrio, a ponderação e a igualdade das decisões aplicadas pela lei. O direito precisa ser pesado, senão torna-se força bruta e irracional.
  • A Espada simboliza a ordem, regra, força e coragem, aquilo que a razão dita e a coerção para alcançar tais determinações. Se não obriga a sua aplicação, o direito não tem qualquer validade.
  • Os olhos vendados da deusa simboliza a necessidade de nivelar o tratamento jurídico de todos por igual, sem nenhuma distinção. Tem o propósito da imparcialidade, da objetividade e da afirmação de que todos são iguais perante à lei. Isso não implica que a justiça é cega, pois aos olhos da justiça, nenhum pormenor que seja relevante deixa de ser considerado para a aplicação da lei, ou seja, o julgamento é avaliação de todos os ângulos de uma questão.
Cada símbolo completa o outro, para que a Justiça seja a mais justa possível:
  • A espada sem a balança torna o Direito brutal.
  • A balança sem a espada torna o Direito impotente perante os desvalores que insistem em ser perenes na história da humanidade.
  • Os olhos vendados objetivam evitar privilégios na aplicação da justiça. A balança é o instrumento capaz pesar o direito de cada um e a espada, a sua aplicabilidade.
A existência psicológica de Themis está no inconsciente coletivo. Sendo Themis a deusa da justiça, da lei, da ordem e protetora dos oprimidos, também determinou que o direito depende dos deveres a serem cumpridos por todos. Foi o casamento de Themis com Zeus que inseriu a ordem e equidade no mundo dos homens, mostrando que até mesmo quem emana as leis deve a elas estar submetido. Quando a justiça não age devidamente e não pune os culpados, acaba punindo os inocentes...

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MITOLOGIA GREGA - Héstia deusa do fogo sagrado

Héstia deusa do fogo sagrado

Héstia é a personificação grega do fogo sagrado, da pira doméstica e da cidade. Cortejada pelos deuses, especialmente pelo belo Apolo e por Netuno, Héstia rejeitou todas as propostas amorosas e pediu ao seu irmão Zeus que protegesse sua virgindade. Filha de Cronos e Rheia, era uma das divindades olímpicas. Devido à sua vontade de permanecer casta, suas sacerdotisas se mantinham a vigiar o fogo sagrado permanente nos templos.

Representada trajando um longo vestido, muitas vezes com a própria cabeça coberta por um véu, ela é a deusa que nunca abandona o lar, o Olimpo, e jamais se envolve nas brigas e guerras de deuses ou mortais. O animal mais sagrado à deusa é o asno.
 Como deusa do fogo sagrado, ela representava a divindade do lar, defendendo a vida da família, presidindo o ambiente doméstico e os laços familiares.Era muito comum utilizar a sua imagem nas moradas dos jovens que iam adquirir conhecimento longe de sua terra natal, pois isso mantinha a ligação familiar ausente.

Era adorada antes dos outros deuses em todas as festas, uma vez que era a mais antiga e 
preciosa das deusas do Olimpo. Um juramento feito em seu nome era o mais sagrado dos juramentos. De Zeus recebeu a honra de ser venerada em todos os lares, ser incluída em todos os sacrifícios e permanecer em paz, em seu palácio cercada do respeito de deuses e mortais. Era a personificação da moradia estável, onde as pessoas se reuniam para orar e oferecer sacrifícios aos deuses, e adorada como protetora das cidades, das famílias e das colônias. 

Sua chama sagrada brilhava continuamente nos lares e templos. Todas as cidades possuíam o fogo de Héstia, colocado 
no palácio onde se reuniam as tribos. Esse fogo deveria ser conseguido direto do sol. Quando os gregos fundavam cidades fora da Grécia, levavam parte do fogo da lareira como símbolo da ligação com a terra materna e com ele; acendiam a lareira onde seria o núcleo político da nova cidade.

Sempre fixa e imutável, Héstia simbolizava a perenidade da civilização. Em Delfos, era conservada a chama perpétua com a qual se acendia a Héstia de outros altares. Cada peregrino que chegava a uma cidade, primeiro fazia um sacrifício Héstia. Seu culto era muito simples: na família, era presidido pelo pai ou pela mãe; nas cidades, pelas maiores autoridades políticas.
 

Héstia, a deusa casta dos lares, é a grande mãe e protetora de todas as mulheres casadas, das donas de casa e deusa do 
lar. Mediadora da integração psicológica, é a presença espiritualmente sentida, interior e anonima dos monges e freiras, da pureza absoluta, da percepção focalizada no mundo interior, da concentração, discriminação, desapego das pessoas, sem ambição e auto-suficiência. Na Grécia antiga significava um culto, o ritual de estar em volta de uma lareira. Para a felicidade de um casal era necessário ter uma lareira ou um altar que dá continuidade, consciência partilhada e identidade comum.

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O mito de Héstia representa a chama da vida. Héstia, que em grego significa passar pelo fogo ou consumir, sempre teve as honras de todas as divindades, tornando-se a única a ser cultuada em todas as casas dos homens e nos templos de todos os deuses. Nenhum lar e nenhum templo ficava santificado sem a sua presença. Héstia era tanto uma presença espiritual como um fogo sagrado que proporcionava iluminação, calor e aquecimento para o alimento. 

Era a divindade menos conhecida dos deuses olímpicos e nunca foi representada em forma humana, mas sim pela chama viva no centro do lar, do templo, da cidade, sendo seu símbolo um círculo, pois suas primeiras lareiras eram redondas, assim como os seus templos. Enquanto as divindades circulavam, Héstia mantinha-se imóvel no Olimpo. Essa imobilidade fez com que não representasse papel algum no mito, permanecendo mais como um princípio abstrato, a idéia da lareira, do que como uma divindade pessoal.

Sobre essa peculiaridade de Héstia, em ser paradoxalmente a primeira do Olimpo e ao mesmo tempo a mais obscura, sua imagem e seu lugar são idênticos. Não havia imagens em seu templo; havia apenas o fogo sagrado sobre a terra. Sua presença era sempre solicitada nos acontecimentos importantes da vida grega. Sem o fogo sagrado de Héstia não haveria festas para a humanidade pois ninguém poderia iniciar o primeiro e o derradeiro gole do vinho doce como mel sem uma oferenda à deusa da lareira.
 

Quando dois jovens se uniam pelo casamento, a mãe da noiva acendia uma tocha em sua casa e a transportava diante do casal até sua nova casa, para que acendessem a primeira chama em seu lar, tornando-o, por este ato, sagrado. Da mesma forma, cada cidade-estado grega tinha uma lareira comum com um fogo sagrado cultivado no edifício principal, ao redor do qual se congregava o povo. Quando alguém deixava a sua cidade natal, levava consigo o fogo sagrado de tal forma que onde quer que um casal se aventurasse a estabelecer um novo lar, Héstia vinha com eles, ligando o lar antigo ao novo, simbolizando o espírito de continuidade de ligação.
 Da mesma forma, em Roma a chama sagrada de Vesta unia todos os romanos numa única família.

Em seus templos o fogo sagrado era cuidado pelas virgens vestais , que em certo sentido eram as representações humanas de Héstia, eram suas imagens vivas, transcendendo à escultura e à pintura. As meninas escolhidas para serem vestais eram levadas ao templo, em geral, com menos de seis anos de idade. Lá seus cabelos eram cortados e suas vestes era de modo igual. 
Qualquer ponto que a distinguisse, era totalmente apagado.

Eram mantidas à distância de outras pessoas e honradas, devendo, de modo semelhante à deusa, preservar sua castidade, com terríveis consequências para quem violasse as regras impostas. Uma vestal que tivesse relações sexuais com um homem profanava a deusa e era punida com o sepultamento em vida, numa área pequena e sem ar no subsolo, com luz, óleo, alimento e um lugar para dormir. A terra sobre ela era nivelada, como se nada existisse embaixo.

Héstia tinha associação em torno de um espaço sagrado, de um centro, um ponto de convergência, um ponto de aquecimento. Venerada nos lares gregos e nas cidades, apresentava-se como uma pilha de carvão em brasa, localizada no Onphalos, o umbigo de Delfos, que era a cidade consagrada a Apolo considerada o centro do mundo pelos gregos. Também compartilhava a imagem do fogo sagrado com Hermes, que era o espírito alquímico imaginado como o fogo elementar. Tal fogo era considerado a fonte do conhecimento intuitivo, simbolicamente localizado no centro da Terra. 

Outra associação entre Héstia e Hermes se refere à sacralização de um espaço. Na Grécia antiga, na parte externa de todos os lares, como uma proteção contra qualquer invasão maléfica existia o "Herma" um pilar que representava Hermes. Assim, Hermes e Héstia eram associados na proteção de um espaço sagrado; enquanto Hermes protege o exterior, Héstia guarda o espaço interior. O pilar e o anel em forma de círculo representam os princípios masculino e feminino, respectivamente.

Héstia representando o espaço interior está associada aos valores femininos, a importância do santuário interior, da interiorização para encontrar significado e paz. O santuário da família sem a fonte de calor ficam diminuídos ou são perdidos. O sentimento de uma ligação básica com os outros desaparece, como também a necessidade dos cidadãos de uma cidade, país ou da terra se ligarem por um elo espiritual comum.
 

O fogo está associado à cor vermelha, ao verão e ao coração. Ora representa a paixão, ora representa o espírito ou conhecimento intuitivo. Tanto no antigo quanto no novo testamento o fogo é elemento que purifica e limpa, tornando-se o veículo que separa o puro do impuro, uma visão compartilhada com a alquimía. O fogo desde os primórdios é adorado por eliminar as impurezas, as contaminações, tendo o aspecto de regenerar e renovar.

Em muitas culturas primitivas, são inumeráveis os ritos de purificação que se configuram nos incêndios dos campos que se revestem, em seguida, de um tapete verde de natureza viva. É a natureza que age como a fenix, renascendo das cinzas e essa imagem tem a sua correspondência psicológica. Segundo Bachelard, existem duas direções ou constelações psíquicas na simbologia do fogo, de acordo com sua origem e conforme é obtido: pela percussão ou pelo atrito.
Pela percussão está intimamente ligado ao relâmpago, à flecha, portanto, ao princípio espiritual e possui um valor de purificação e iluminação. Esse se opõe nesse sentido ao fogo sexual obtido pela fricção, assim como a chama purificadora se contrapõe ao centro genital da lareira, como a exaltação da luz celeste se distingue do ritual de fecundidade agrária. Na sua dimensão simbólica o fogo obtido pela percussão representa a etapa mais importante da intelectualização do Cosmo e afasta mais e mais o homem de sua condição animal.
Para os Astecas o fogo terrestre, ctônico, representa a força profunda que permite a união dos opostos, a ascensão, a sublimação da água impura em água celestial, a água pura e divina. O fogo é o motor, o grande responsável pela regeneração periódica. O fogo que simboliza Héstia é também ctônico, vindo das profundezas da Terra, é uma chama que nutre ao mesmo tempo que ilumina a vida psíquica. O fogo do sacrifício ao ser substituido pelo fogo interior, que é simultaneamente o conhecimento penetrante, iluminação e destruição do invólucro carnal, tem o poder de tornar-se indestrutível. O aspecto destruidor do fogo também comporta uma conotação negativa e o domínio do fogo é também uma função diabólica. Observe-se a propósito da forja: seu fogo é ao mesmo tempo de demiurgo e do demônio. 

A importância de Héstia na vida psicológica advém de sua habilidade em mediar a alma, dando-lhe um lugar onde se congregar, um ponto de junção em que a alma e o mundo se misturam. É através da presença mediúnica de Héstia que a moradia do mundo do homem é psicológica. O ato de imaginar, atividade psicológica por excelência, não está separado do mundo. As moradias que criamos, é onde moram interiormente, sonhos e fantasias. Exteriormente manifestam um aspecto de nossa alma. A casa mais do que a paisagem é um estado psíquico.

As moradias do mundo cotidiano falam dos lugares de nossa alma e revelam um lado íntimo de nossa psique.
 A alma sob a perspectiva de Héstia nos revela em termos de metáforas espaciais, assim a patologia que se manifesta através da linguagem da deusa da lareira contém frases referentes ao espaço: fora da base, fora do centro, incapaz de se fixar, distanciada, sem um tapete sob os pés, numa demonstração de que, sem os valores de Héstia e do seu poder de integração, a alma é incapaz de encontrar um lugar onde morar. 

Uma das fantasias relacionadas à patologia da alma e que se faz muito presente desde os povos primitivos, é a da perda da alma. Cícero afirmava que a alma doente era aquela que não podia alcançar ou persistir, estava sempre perdida. Quando perdida, a alma não tem ligação psíquica com Héstia e sua centralidade. A alma não pode ir para casa porque não há um lugar para se retornar. Nesse contexto a ausência de Héstia representa uma ameaça para a integridade da psique, com sua multidão de imagens e a influência delas.

Sem Héstia não pode haver concentração na imagem e não há limites que distingam a intimidade da moradia interior e do mundo externo, pois não há uma casa psíquica que ofereça paredes protetoras que tornem possível as celebrações da vida, o alimento para a alma.
 Sem a presença de Héstia, o que se pode observar em certas desordens transitórias da psicose, particularmente das esquizofrenias, não existe separação entre os espaços de dentro e de fora, não há barreiras protetoras, que possibilite a permanência das imagens de tal modo que o mundo psíquico todo é vivenciado como transitório e fugaz.

As imagens de sonhos comuns em pacientes esquizofrênicos latentes revelam esse desarranjo profundo em termos de um espaço habitável apresentados imagisticamente como a Terra ou como um edifício. 
Barbara Kirksey acredita que essa frágil coesão e insegurança está relacionada com a ausência da capacidade mediadora de Héstia, que acolhe e centraliza os acontecimentos aleatórios num espaço comum e aqui cabe relembrar o mito realçando o fato de ser essa deusa, a primogênita e ao mesmo tempo a última, espécie de figura alfa-ômega da psique. Sua ausência ameaça toda a estrutura psíquica da personalidade em caos.

Assim como Hermes exerce a função mediadora que conecta e move a alma, também Héstia tem uma função coesiva na alma que preserva o elemento de plenitude e permite ao indivíduo imaginar em paz.
A lareira redonda de Héstia, com um fogo sagrado no centro, é uma forma de mandala; símbolo da integridade e da totalidade. Uma imagem de Atena em vestes guerreiras, era guardada por Héstia ou Vesta em seu templo localizado em Roma. Tal imagem havia sido roubada de Tróia e acreditava-se que a ela se devia a preservação do império. Héstia ou Vesta foi designada a guardiã dessa imagem de Minerva, graças ao seu poder de iluminação que nunca falha, um poder que tudo vê e que assim preservava com sua luz a integridade do império.
A força de Héstia difere das outras duas deusas virgens Atena e Ártemis, pois enquanto estas manifestam seu poder sob a forma de atos de afirmação, Héstia ilumina e sua luz proporciona proteção e nutrição às imagens. Jean Shinoda Bolen nos diz ser uma características das deusas virgens a visão e a percepção focada, mas enquanto Atena e Ártemis dirigem sua luz para o exterior, Héstia a direciona para o interior e quando o enfoque se volta para o interior, em direção a um centro espiritual, a vida adquire um significado maior, tem-se um ponto de referência interior que nos permite permanecer firmes no meio da confusão, da desordem, da afobação do dia-a-dia.
Quando se fala em capacidade de iluminar, vem-nos à mente a questão do lugar para onde se dirige essa luz, ou seja, qual o seu foco e, segundo Ovídio, a palavra para terra em latim é Focus e a terra (focus) em latim é assim chamada por suas chamas e porque ela nutre todas as coisas. No ramo da ciência que estuda os fenômenos da propagação da luz, a óptica, foco é o ponto no qual os raios se encontram depois de refletidos ou refratados e também o ponto do qual os raios podem originar-se. Foco, portanto, é o ponto de separação e ao mesmo tempo de convergência do raio. A origem desse ponto expressa-se pela figura mítica de Héstia. 

Outra definição da palavra foco que se associa mais estreitamente com a vida psicológica vem do teatro moderno. No teatro, foco é a parte mais iluminada do palco e é nesse espaço mais iluminado que se desenvolve a trama que dá sentido à peça. Também em nossa vida psíquica aqueles caracteres que aparecem em nossas experiências psicológicas mais brilhantemente iluminados são o foco, que dão sentido ao drama de nossa vida. Pode-se dizer que Héstia não participa do drama como personagem, como figura, mas é ela que se encarrega da iluminação e se levarmos a sério a crença antiga da proteção através da iluminação, é Hestia que nos oferece a proteção necessária para que possamos iluminar e centralizar essas figuras ou imagens, nos cenários do nosso consciente.
 

Ainda se dá à palavra foco a definição que também se relaciona com a vida psíquica, é a que considera o foco como aquele ponto ou posição em que um objeto precisa situar-se, a fim de que a imagem produzida pelas lentes seja clara e bem definida. Focalizar está em oposição a interpretar a imagem, porque a ação de focalizar prende-se muito mais ao movimento das lentes buscando uma melhor definição da imagem do que a uma mudança de posição. O ajuste é, portanto, nosso. A imagem conserva o seu espaço, sendo o processo de focalizar que leva a pessoa a uma relação definitiva com a imagem, a partir da qual esta ganha iluminação e clareza. Retornar à imagem a partir de várias direções é uma tentativa de encontrar o foco, ou seja, isto é uma figuração ao modo de Héstia.
 

A condição de guardiã das imagens de Héstia faz-nos entrar em conexão com um outro aspecto dessa divindade, o da hospitalidade. Propiciando um lugar de união de congregação, Héstia oferece hospitalidade às imagens, elas são como espíritos que se corporificam ou se personificam através do acolhimento e do aconchego da lareira de Héstia. Personificar é um modo de conhecer; é uma possibilidade de se estabelecer um relacionamento fecundo com o inconsciente. 


Desejo que em 2011 tenhamos os nossos corações aquecidos com a chama sagrada que emana da nossa alegria de viver. Que deixemos queimar todas as tristezas e frustrações, preservando apenas os nossos mais caros valores de alma, respeitando-nos e focalizando-nos, para que tenhamos um
Feliz Ano Novo!...

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MITOLOGIA GREGA - Proteus, dons proféticos e reveladores do destino

Proteus, dons proféticos e reveladores do destino
Proteus era um deus marinho, um dos 3.000 filhos dos titãs Tétis e Oceano. Nascido em Palene, uma pequena cidade da Macedônia, ele teve dois filhos gigantes e cruéis: Tmolos e Telégono. Não conseguindo transmitir o sentimento de humanidade para seus filhos, Proteus pediu ajuda a Netuno.
O deus do mar aconselhou Proteus a abandonar sua cidade e ir com ele cuidar do grande rebanho de peixes e focas nas costas do Egito. Depois de algum tempo Netuno quis recompensá-lo por seu trabalho e concedeu-lhe o conhecimento do presente, do passado e do futuro.
Proteus passou a ser reverenciado por seus dons proféticos e reveladores do destino. Muitas pessoas passaram a procurá-lo desejando conhecer as artimanhas do destino, porém Proteus se mostrava arredio para revelar sobre os acontecimentos vindouros. Ele considerava que cada um poderia fazer seu próprio destino através de suas ações. Para se esquivar das pessoas, Proteus se metamorfoseava assumindo aparências monstruosas fazendo as pessoas fugirem assustadas.

Entretanto Proteus tinha duas filhas que conheciam seus segredos; uma delas era a ninfa Eidotéia. Quando Menelau, o rei de Esparta, tentava regressar para sua casa após a Guerra de Troia, ventos contrários levaram seu navio até as costas do Egito. Compadecida do rei, Eidoteia revelou a Menelau que bastaria surpreendê-lo durante o sono e amarrá-lo para que não escapasse e fazer-lhe as perguntas.

Seguindo as instruções de Eidoteia, Menelau e seus três companheiros de esconderam na gruta onde Proteus costumava descansar com seu rebanho após a refeição do meio-dia. Proteus chegou na gruta e tomou uma posição cômoda para dormir. Assim que ele fechou os olhos, Menelau e os seus companheiros se atiraram sobre ele e o apertaram fortemente entre os braços. Proteus se metamorfoseava em leão, árvore, dragão, javali e outros monstros, mas era inútil pois eles o apertavam com mais força.
Quando enfim esgotou todas as suas astúcias, Proteus voltou à forma ordinária e deu a Menelau os esclarecimentos que ele pedia. Apesar de ser capaz de prever as grandes tempestades e as dificuldades que Menelau iria encontrar durante sua viagem pelo mar, Proteus só poderia aconselhar. O resto dependeria apenas de Menelau...
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Na medicina o deus mitológico deu nome à Síndrome de Proteus, uma doença congênita extremamente rara que causa um desenvolvimento exagerado do cérebro, das mãos e dos pés, além de outras anomalias cranianas. A doença teria permanecido desconhecida se não fosse o caso de Joseph Merrick, o homem elefante. 

Rejeitado por sua aparência e vivendo nas ruas, Joseph acabou sendo resgatado por um circo de aberrações. Em 1890 Joseph faleceu aos 22 anos devido ao crescimento anormal de seu cérebro. A síndrome recebeu o nome de Proteus devido à capacidade de transformar o ser humano em um monstro.
Entretanto, o mito de Proteus nos remete à reflexão sobre o comportamento humano nas diferentes situações da vida. Muitas vezes sabemos o que fazer, mas algumas vezes nos sentimos confusos e precisamos da orientação dos outros. O problema surge quando nos tornarmos dependentes da opinião alheia, sempre esperando que os outros tenham todas as respostas para os nossos problemas.
A excessiva dependência de orientação ou conselhos de outros não é algo saudável, pois pode revelar insegurança e até mesmo um transtorno de personalidade. Caracterizado pelo medo, carência, baixa autoestima, dificuldade para expressar as próprias vontades e necessidades, submissão às vontades dos outros e incapacidade de tomar decisões, esse transtorno pode incapacitar para o trabalho e causar prejuízos em várias situações da vida.
Ser extremamente dependente da orientação dos outros, significa sentir-se desamparado e precisar da proteção alheia. O problema se torna maior quando encontra alguém em quem possa apoiar, que pode levar à limitação da consciência de si mesmo para assimilar as crenças, gostos e sentimentos dos outros, como se fosse parte do outro. Quem age assim, age como se não tivesse vontade própria.
Geralmente a pessoa muito dependente se julga insuficiente, impotente e incapaz, deixando seu destino nas mãos dos outros. Por não acreditar em si mesma, em suas habilidades, virtudes e atrativos, falta-lhe ambição e motivação para desenvolver um trabalho rentável. Pelo medo da rejeição e pela necessidade de se sentir aceita pelos outros, tende a se mostrar excessivamente modesta, agradável, gentil e disponível para fazer algo para os outros. 
Além de colocar-se sempre como um serviçal, a pessoa sofre de uma extrema carência de atenção, podendo recorrer à utilização de alguns esquemas. Uns optam por fazer repetidas queixas de sua vida. Reclamam das dificuldades de relacionamento afetivo ou social, da sua relação com os seus familiares, vizinhos e colegas ou problemas no trabalho. Outros se concentram na queixa de sintomas e doenças.
Nem sempre as queixas estão relacionadas com algum transtorno psicológico, mas serve como alerta para que reflitamos sobre o nosso comportamento. Alugar o ouvido dos outros com as nossas queixas não trará solução para os nossos problemas. Assim como Proteus, nem sempre as pessoas estão disponíveis para ouvir os problemas de outras ou dar conselhos. Importante é tentarmos analisar nossas questões e verificarmos se não estamos muito dependentes da opinião alheia...

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