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"Um dia,
lá para o fim do futuro,
alguém escreverá sobre mim um poema,
e talvez só então eu comece a reinar no meu Reino.
lá para o fim do futuro,
alguém escreverá sobre mim um poema,
e talvez só então eu comece a reinar no meu Reino.
Biografia
Se depois de
eu morrer, quiserem escrever a minha
biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas a da minha nascença e a da minha
morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
Escrito entre 1913-15;
Publicado em Atena nº 5, Fevereiro de 1925
Às três horas da tarde de 13 de Junho de 1888
nascia em Lisboa, capital portuguesa, Fernando Pessoa.
O parto ocorreu no quarto andar esquerdo do nº 4 do Largo de São Carlos, em
frente da ópera de Lisboa (Teatro de São Carlos). Seu pai era o funcionário
público do Ministério da Justiça e crítico musical do «Diário de Notícias»,
Joaquim de Seabra Pessoa (38), natural de Lisboa; e sua mãe D. Maria Magdalena
Pinheiro Nogueira Pessoa (26), natural da Ilha Terceira (Açores). Viviam com
eles a avó Dionísia, doente mental e duas criadas velhas, Joana e Emília.
Pessoa foi criado em uma família bem afortunada e culta.
É baptizado em 21 de
Julho na Igreja dos Mártires, no Chiado. Os padrinhos são a sua Tia Anica (D.
Ana Luísa Pinheiro Nogueira, sua tia materna) e o General Chaby. A
justificativa do nome Fernando António se encontra relacionada a Santo António:
sua família reclamava uma ligação genealógica Fernando de Bulhões, nome de
baptismo de Santo António, cujo dia tradicionalmente consagrado em Lisboa é 13
de Junho, dia em que Fernando Pessoa nasceu.
Sua infância e adolescência foram marcadas por
fatos que o influenciariam posteriormente. Às cinco horas da manhã de 24 de
Julho, seu pai morre com 43 anos vítima de tuberculose. A morte é reportada no
Diário de Notícias do dia. Joaquim de Seabra Pessoa deixou mulher, Pessoa com
apenas cinco anos e seu irmão Jorge que viria a falecer no outro ano sem chegar
a completar um ano. A mãe então se vê obrigada a leiloar parte da mobília e
mudam-se para uma casa mais modesta, o terceiro andar do n.º 104 da Rua de São
Marçal. É também nesse período que surge seu primeiro pseudónimo, Chevalier de
Pas, assim como seu primeiro poema, um poema curto com a infantil epígrafe de À
Minha Querida Mamã. Sua mãe casa-se pela segunda vez em 1895 por procuração com
o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban (África do Sul), o
qual havia conhecido há um ano. Na África, viria a demonstrar possuir desde
cedo habilidades para a literatura.
alma-lusa.blogs.sapo.pt
Em razão do casamento,
muda-se com a mãe e um tio-avô para Durban, onde passa a maior parte de sua
juventude. Tendo que dividir a atenção da mãe com os filhos do casamento e com
o padrasto, Pessoa se isola, o que lhe propiciava momentos de reflexão. Em
Durban recebe uma educação britânica, o que lhe proporciona um profundo contato
com a língua inglesa. Seus primeiros textos e estudos são feitos em inglês.
Mantém contato com a literatura inglesa através de autores como Shakespeare,
Edgar Allan Poe, John Milton, Lord Byron, John Keats, Percy Shelley, Alfred
Tennyson, entre outros. O inglês teve grande destaque em sua vida, trabalhando
com o idioma quando, mais tarde, se torna correspondente comercial em Lisboa,
além de utilizar o idioma em alguns de seus escritos e traduzir trabalhos de
poetas ingleses, como “O Corvo” (The Raven) e Annabel Lee de Edgar Allan Poe.
Com excepção de Mensagem,
os únicos livros publicados em vida são os das coletâneas dos seus poemas
ingleses: Antinous e 35 Sonnets e English Poems I - II e III, escritos entre
1918 e 1921.
fernando-pessoa-jovem fonte imagem: poesiaspoemaseversos.com.br
Faz o curso primário
na escola de freiras irlandesas da West Street, onde realiza sua primeira
comunhão e percorre em três anos o equivalente a cinco. Em 1899 ingressa na
Durban High School, onde permanecerá durante três anos e será um dos primeiros
alunos da turma, no mesmo ano cria o pseudônimo Alexander Search, no qual envia
cartas a si mesmo utilizando esse nome. No ano de 1901 é aprovado com distinção
no seu primeiro exame da Cape Scholl High Examination, escreve os primeiros
poemas em inglês e parte com a família para Portugal para reencontrar as
famílias paterna (em Tavira) e materna (na ilha Terceira). Um ano depois, a
família retorna para Lisboa e Pessoa volta sozinho para a África do Sul. Na
mesma época, tenta escrever romances em inglês. Percorre com sucesso todos os
graus de ensino em Durban e, em 1903, se candidata à Universidade do Cabo da
Boa Esperança. Na prova de exame para a admissão, não obtém uma boa
classificação, mas tira a melhor nota entre os 899 candidatos no ensaio de
estilo inglês. Recebe por isso o Queen Victoria Memorial Prize (”Prémio Rainha
Vitória”). Em 1904 encerra seus estudos na África.
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Volta à Portugal e início de carreira
Deixando a família em Durban, regressou
definitivamente à capital portuguesa sozinho em 1905, onde passa a viver com
uma tia. A mãe e o padrasto também retornam para Lisboa e Pessoa volta a morar
com eles. Continua a produção de poemas em inglês e em 1906 matricula-se no
curso superior de Letras da Universidade de Lisboa, curso que abandona sem nem
completar o primeiro ano. É nesta época que entra em contato com importantes
escritores literatura da língua portuguesa. Se interessa pela obra de Cesário
Verde e pelos sermões do Padre Antônio Vieira. Seus pais voltam para Durban e
Fernando começa a viver com a avó. Esta morre um tempo depois e lhe deixa uma
pequena herança. Passa a se dedicar à tradução de correspondência comercial em
um trabalho que poderíamos chamar de “correspondente estrangeiro”. Nessa
profissão trabalha a vida toda, tendo uma modesta vida pública.
Pessoa é internado no
dia 29 de Novembro de 1935, no Hospital de São Luís dos Franceses, vítima de
uma crise hepática, se tratando aparentemente de uma cirrose hepática provocado
pelo óbvio excesso de álcool ao longo da sua vida (a título de curiosidade
acredita-se que era muito fiel à aguardente “Águia Real”). No dia 30 de
Novembro morre aos 47 anos. Nos últimos momentos da sua vida pede os óculos e
clama pelos seus heterónimos. Sua última frase é escrita no idioma no qual foi
educado, o inglês: I know not what tomorrow will bring (”Eu não sei o que o
amanhã trará”).
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Legado
Podemos dizer que a
vida do poeta foi dedicada a criar e que, de tanto criar, criou outras vidas
através de seus heterônimos,
o que foi sua principal característica e motivo de interesse por sua pessoa,
aparentemente tão pacata. Alguns críticos questionam se Pessoa realmente teria
transparecido seu verdadeiro eu, ou se tudo não tivesse passado de mais um
produto de sua vasta criação. Ao tratar de temas subjetivos e usar a
heteronímia[1], Pessoa torna-se enigmático ao extremo. Esse fato é o que move
grande parte das buscas para estudar sua obra. O poeta e crítico brasileiro
Frederico Barbosa declara que Fernando Pessoa foi
“o enigma em pessoa”[2]. Escreveu desde sempre, com seu primeiro poema aos sete
anos e pondo-se a escrever até mesmo no leito de morte. Se importava com a
intelectualidade do homem, podendo-se dizer que sua vida foi uma constante
divulgação da língua portuguesa que. Nas próprias palavras do poeta, ditas pelo
heterônimo Bernardo Soares,
“minha pátria é a língua portuguesa”. Ou então, através de um poema:
Tenho o dever de me
fechar em casa no meu espírito e trabalhar
quanto possa e em tudo quanto possa, para o progresso da
civilização e o alargamento da consciência da humanidade
quanto possa e em tudo quanto possa, para o progresso da
civilização e o alargamento da consciência da humanidade
Analogamente a Pompeu que disse que “navegar é
preciso; viver não é preciso”, Pessoa diz, no poema Navegar é Preciso, que
“viver não é necessário; o que é necessário é criar”.
Sobre Fernando Pessoa,
o poeta mexicano ganhador do Nobel de Literatura Octavio Paz diz que “os poetas
não têm biografia. Sua obra é sua biografia” e que, no caso do poeta português,
“nada em sua vida é surpreendente — nada, exceto seus poemas”. O crítico
literário estadunidense Harold Bloom considerou-o, no seu livro The Western
Canon (”O Cânone Ocidental”), o mais representativo poeta do século XX, ao lado
do chileno Pablo Neruda.[3]
Na comemoração do
centenário do seu nascimento em 1988, seu corpo foi transladado para o Mosteiro
dos Jerónimos, confirmando o reconhecimento que não teve em vida.
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Pessoa e o ocultismo
Fernando Pessoa possuía ligações com o ocultismo e o
misticismo, salientando-se a Maçonaria e a Rosa-Cruz (embora não se conheça
qualquer filiação concreta em Loja ou Fraternidade destas escolas de
pensamento), havendo inclusive defendido publicamente as organizações
iniciáticas, no Diário de Lisboa, de 4 de fevereiro de 1935, contra ataques por
parte da ditadura do Estado Novo. O seu poema hermético mais conhecido e
apreciado entre os estudantes de esoterismo intitula-se “No Túmulo de Christian
Rosenkreutz”. Tinha o hábito de fazer consultas astrológicas para si mesmo (de
acordo com a sua certidão de nascimento, nasceu às 15h20; tinha ascendente
Escorpião e o Sol em Gémeos). Realizou mais de mil horóscopos.
Certa vez, lendo uma publicação inglesa do
famoso ocultista Aleister Crowley, Fernando encontrou erros no horóscopo e
escreveu ao inglês para corrigi-lo, já que era um conhecedor e praticante da
astrologia, conhecimentos estes que impressionaram Crowley e, como gostava de
viagens, o fizeram ir à Portugal para conhecer o poeta. Junto com ele veio a
maga alemã Miss Jaeger que passou a escrever cartas a Fernando assinando com um
pseudônimo ocultista. O encontro não foi muito amigável em via dos
desequilíbrios psíquicos e espirituais graves que Crowley tinha e ensinava.
Confira a “Nota
Autobiográfica” de Fernando Pessoa