Os indivíduos em plenitude não negam suas emoções; permitem que elas venham à tona, e, como elas estão sob seu controle, reconhecem o que estão lhes mostrando sobre seus sentimentos, suas inclinações e suas relações com as pessoas.
As emoções devem ser “integradas”, ou seja, primeiramente, devemos nos permitir “senti-las”; logo após, devemos julgá-las e “pensar” sobre nossas necessidades ou desejos; e, a partir disso “agir” com nosso livre-arbítrio, executando ou não, conforme nossa vontade achar conveniente.
O mecanismo de nos “consentir”, de “raciocinar” e de “integrar” emoções determinará nossos êxitos ou nossas derrotas nas estradas de nossa existência.
Emoções são muito importantes. Através delas é que nos individualizamos e nos diferenciamos uns dos outros. Ninguém sente, pois, exatamente igual, isto é, com a mesma potência e intensidade, seja no entusiasmo em uma situação prazerosa, seja na frustração ao observar uma meta perdida. Podemos penar igual aos outros, mas para um mesmo pensamento criaturas diversas têm múltiplas reações emocionais.
Assim considerando, emoções não são certas ou erradas, boas ou impróprias, mas apenas energias que dependem do direcionamento que dermos a elas.
Reconhecê-las ou admiti-las não significa, de modo algum, que vamos sempre agir de acordo com elas.
Em face dessa conjuntura, quando negadas ou reprimidas, não desaparecem como por encanto; ao contrário, sendo energias, elas se alojarão em determinados órgãos e congestionarão as entranhas mais íntimas da estrutura psicossomática dos indivíduos.
Ao abafarmos as emoções, podemos gerar uma grande variedade de doenças autodestrutivas. Abafá-las pode também nos levar a reações muito exacerbadas ou à completa ausência de reações, a apatia.
Portanto, quando tomamos amplo contato com nosso lado emocional, começamos a reconhecer vestígios a respeito de nós mesmos, que nos proporcionarão autodescoberta, autopreservação, segurança íntima e crescimento pessoal.
Ora, se o Poder Divino, através de sua criação, pelo próprio mecanismo da Natureza, delegou as emoções, não poderemos simplesmente negá-las, como se não servissem para nada. Tristeza, alegria, raiva ou medo são emoções básicas e deveremos usá-las como bússolas que nos nortearão os caminhos da vida.
Elas estão conectadas a nosso sistema de pensamento “cognitivo” – atividades psicológicas superiores, tais como: a percepção, a intuição, a memória, a linguagem, a atenção e os demais processos intelectuais e espirituais.
Ao ignorarmos nossas reações emocionais, não investigando sua origem em nós mesmos, teremos sempre a tendência de projetá-las nos outros. Além do que, seremos seres psicologicamente claudicantes, por não integrarmos nossas emoções aos nossos cinco sentidos, que nos facilitam a análise das pessoas e de nós mesmos.
A tendência que certos indivíduos têm de atribuir falhas e erros a outras pessoas ou coisas, não enxergando e não admitindo como sendo suas, denomina-se “projeção”.
Às vezes, tentamos fazer nossas emoções desaparecer, porque as tememos. Reconhecer o que realmente sentimos exigiria ação, mudança e decisão de nossa parte, e muitas vezes seríamos colocados face a face com verdades inadmissíveis e inconcebíveis por nós mesmos; e assim, tentamos projetá-las como sendo emoções não nossas, mas dos outros.
“Não sinta isso, é feio” – essa é uma das muitas velhas mensagens que ecoam em nossa mente desde a mais tenra infância; com o passar do tempo, julgamos não mais senti-las, porque as escondemos da recriminação dos adultos.
Em razão disso, certos indivíduos condenam com veemência os “ciscos” nos outros, pois veem em tudo luxúria e perversão, desonestidade ou ambição. É possível que esses mesmos indivíduos estejam reprimindo o reconhecimento de que eles próprios trazem consigo emoções sexuais e perversidades mal resolvidas, ou, em outros casos, emoções desmedidas de fama e de dinheiro projetadas sobre todos os que são por eles denominados ambiciosos e desonestos.
Na indagação “ou como dizeis ao vosso irmão: deixai-me tirar um argueiro do vosso olho, vós que tendes uma trave no vosso?”, Jesus reconhecia a universalidade desse processo psicológico, “a projeção”, e, como sempre, asseverava a necessidade da busca de si mesmo, para não transferirmos nossos traços de personalidade desconhecidos às coisas, às situações e aos outros.
O Mestre nos inspirava ao mergulho em nossa própria intimidade, a fim de que pudéssemos enxergar o “lado obscuro” de nossa personalidade. Ao tomarmos esse contato imprescindível com nossas “sombras”, a consciência se torna mais lúcida, crítica e responsável, descortinando amplos e novos horizontes para o seu desenvolvimento e plenitude espiritual.
Finalizando, atentemos para a análise: “as condutas alheias que mais nos irritam são aquelas que não admitimos estar em nós mesmos”, “os outros nos servem de espelho, para que realmente possamos nos reconhecer”.
Hammed – por Francisco do Espírito Santo Neto
Do livro “Renovando atitudes“
https://universonatural.wordpress.com/2016/10/13/o-cisco-e-a-trave/