Sempre na minha mente e no coração...

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Corcovado ou Cristo Redentor, lindo !!!

sábado, 26 de abril de 2014

AGRA, O NINHO DO TAJ MAHAL

AGRA, O NINHO DO TAJ MAHAL

Por Claudia Liechavicius

Depois de um dia inteiro de uma estrada para lá de emocionante, entre Delhi e Agra, chegara a hora de relaxar no oásis chamado Oberoi Amarvilas. A escolha pelo hotel recaiu principalmente pela proximidade com o Taj Mahal, pela possibilidade de ver o monumento ao amor da janela do quarto e pelo luxo. Numa viagem à Índia, as diferenças são tão grandes com relação à cultura, valores, crenças, arquitetura, higiene, alimentação... que é necessário encontrarmos um porto seguro, que nos aconchegue, dê segurança e nos distancie um pouco da dura realidade. Pensando assim, o hotel Oberoi Amarvilas cumpriu a tarefa com perfeição.

Entrada do hotel Oberoi Amarvilas.

Sala de recepção do hotel Oberoi Amarvilas.

Quarto do hotel Oberoi Amarvilas.



Área de lazer do Oberoi Amarvilas.

O quarto na realidade não é tão grande, nem tão luxuoso como o do hotel Aman de Delhi. No entanto, ao acordar, abrir a janela e quase poder tocar a cúpula do Taj Mahal é simplesmente mágico!

Pela janela do quarto do hotel Oberoi Amarvilas.

Outra facilidade é que eles programam para que a entrada dos hóspedes seja antes do nascer do sol no Taj Mahal, providenciam os bilhetes para a entrada, fornecem protetores para os sapatos (assim não é preciso andar descalço pelo mausoléu) e ainda utilizam um carrinho de golfe que vai até o portão de entrada, economizando uma bela caminhada. Na entrada, filas. Filas sempre! E, longas. Claro. Afinal, estamos falando do legítimo país das "filas indianas". Uma fila para homens indianos, outra para mulheres indianas, mais uma para homens estrangeiros e uma outra para mulheres estrangeiras.

Depois de trinta minutos de espera, o sol começava a nascer e uma visão de sonho se descortinava à minha frente. O símbolo máximo da Índia. Taj Mahal. Sonho antigo.



Aurora no Taj Mahal.

Harmonioso, esplêndido, sublime, inacreditável, magnífico, deslumbrante. Por mais que se tente, é impossível descrever. Qualquer adjetivo é pequeno frente ao impacto de se deparar com a "maravilha" que é o Taj Mahal. Merecidamente, declarado como uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno além de ser classificado pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. Capaz de inspirar tantos poetas, músicos e artistas plásticos. Ninguém consegue ficar indiferente frente ao seu magnetismo.


O impacto inicial é tão grande que as máquinas fotográficas não conseguem parar.

A beleza do monumento ao amor toca a alma. O túmulo-jardim é de uma delicadeza comovente. Sobre um plinto, todo emmármore branco vindo do Rajastão, o mausoléu é trabalhado com jade e cristais da China, turquesas do Tibet, lápis-lazulis do Afeganistão, safiras do Sri Lanka, ágatas do Yemen, ametistas da Pérsia, corais da Arábia Saudita, ambar do Oceano Índico, quartzo do Himalaia, 500 quilos de ouro e centenas de diamantes. Além dessa riqueza toda, ele é perfeitamente encaixado num jardim simétrico, tipicamente muçulmano, feito em quadrados iguais atravessados por canais onde sua imagem reflete. Os jardins são ornamentados com ciprestes que dão uma aura de imensa paz. Fantástico!

Taj Mahal.

O emblemático Taj Mahal nasceu de uma linda história de amor entre o imperador mongol Shah Jahan e sua amada Aryumand Banu Began, a quem chamava carinhosamente de Mumtaz Mahal, "A eleita do palácio". Reza a lenda, que eles se conheceram ao acaso, quando a princesa tinha apenas 15 anos, e tiveram uma paixão avassaladora. Por um capricho do destino, ficaram afastados por cinco anos sem se ver uma única vez sequer. Até que se reencontraram, casaram e tiveram 14 filhos. Ao dar a luz ao décimo quarto filho, ela morreu. Tinha apenas 39 anos. O rei ficou inconsolável e chorou a perda de sua esposa preferida por dois anos. Nesse período não houve festas, nem música no reino. Então, ele ordenou que fosse construído um monumento para que o mundo jamais esquecesse da sua rainha. E sua vontade se concretizou.

Cúpula do Taj Mahal.

O mausoléu foi feito entre 1631 e 1643, com uma equipe de cerca de 20 mil homens trazidos de várias partes do Oriente. Depois foi feito o resto do complexo: minaretes, mesquita, hospedaria e forte de acesso. A obra custou em torno de 50 milhões de rúpias. Uma fortuna. Mas, é de uma elegância ímpar - gasto bem justificado. Hoje recebe em torno de 20 milhões de turista ao ano e já devolveu aos cofres da Índia todo o investimento de Shah Jahan. O ingresso custa 750 rúpias (em torno de 15 dólares) e movimenta mais de 200 milhões de dólares por ano.



O turismo interno é muito forte na Índia. 

Os detalhes impressionam. À começar pela imensa cúpula branca de 44 metros, típica da arquitetura islâmica, costurada com fios de ouro, rodeada por outras quatro cúpulas menores.

A agulha da cúpula central do Taj Mahal termina com uma lua crescente.

Nos extremos da plataforma sobressaem quatro minaretes, cada um com 40 metros de altura coroados por pavilhões octogonais perfeitos simetricamente.


Os minaretes têm leve inclinação para fora, pois caso venham a cair, não tombam sobre os túmulos.

Sua fachada tem painéis caligráficos com inscrições retiradas do Alcorão. O tamanho das letras aumenta conforme a altura do monumento criando uma ilusão de que a escrita é uniforme. As letras são incrustadas em quartzo sobre o mármore branco. O rendado das janelas foi trabalhado em peças maciças de mármore deixando entrar a luz natural em diferentes nuances ao longo do dia.


Olhando de longe tudo parece branco. Os detalhes só se tornam visíveis com a aproximação.

Flores delicadamente incrustadas em pedras preciosas e semi preciosas, com a técnica italiana de Pietre Dure, dão vida ao mármore branco. Dizem ter sido inspiradas no jardim do paraíso. O trabalho feito pelos hindus é tão perfeito que fica difícil ver a olho nu as junções. Uma pequena flor de dez centímetros quadrados chega a ter 70 incrustações distintas. Uma verdadeira obra de arte, de proporções gigantescas.



Flores incrustadas no mármore em pedras preciosas e semi preciosas.

Também há muitos ramalhetes de flores entalhados, com um realismo impressionante na parte inferior das paredes. Dá para ficar horas observando os detalhes dessa obra tão romântica, apesar de fúnebre. Espetacular!
Ramos de flores entalhadas em mármore e arenito.

O Taj Mahal é cercado por muros em pedra vermelha. Após os muros há vários mausoléus secundários que incluem os das outras viúvas de Shah Jahan e de seu ajudante favorito, com arquitetura tipicamente mongol. Dentro dos muros há uma entrada principal "darwaza", também em pedra vermelha. Só esse prédio já vale a visita. Suas arcadas se assemelham as formas do mausoléu e incorporam flores e caligrafia na sua decoração.

Portão de acesso ao Taj Mahal, Darwaza.

Detalhes do portão de entrada do Taj Mahal.

Darwaza, visto do Taj Mahal.

Quando a obra estava chegando na reta final, o imperador adoeceu gravemente e seus filhos o destronaram. O exilaram no Forte de Agra onde viveu o resto de seus dias admirando o Taj Mahal pela janela. Após sua morte, em 1666, foi sepultado ao lado da esposa, gerando a única ruptura na simetria perfeita do mausoléu. Ele pretendia fazer sua própria sepultura do outro lado do rio, em um mausoléu idêntico ao Taj Mahal, mas em mármore preto. O que não chegou a ser realizado. Uma pena.

Esse é o local onde seria o mausoléu preto de Shah Jahn. Em frente, ao Taj Mahal, na margem oposta do rio Yamuna.

De ambos os lados do Taj Mahal erguem-se dois prédios em pedra vermelha. À oeste, uma enorme mesquita. Do lado oposto, as evidências levam a crer que era uma hospedaria. As duas construções são muito parecidas. A diferença está apenas nos detalhes do chão, que na mesquita parecem demarcar o local onde os tapetes eram dispostos para orações.



Mesquita.

Entrada da suposta hospedaria.
Os indianos são simpáticos com os estrangeiros.

O interior do mausoléu não pode ser fotografado. Ele é uma joia com incrustações em pedras preciosas e semi preciosas. A sala principal é octogonal, com uma altura de 25 metros, adornada por oito arcos. A tumba de Mumtaz ocupa exatamente o centro do recinto sobre uma base de mármore. Shah Jahan está ao seu lado em uma tumba maior. Na penumbra. A iluminação é toda feita naturalmente pelas pequenas malhas feitas nas placas de mármore. A única luz artificial que se vê é a das lanternas dos guias que explicam os detalhes dos trabalhos.

Sem dúvida, esse é o mais opulento mausoléu da história da humanidade. Custou uma fortuna. Levou o rei à desgraça (rei esse que tinha um passado de conquistas e glórias). Reuniu os melhores arquitetos da época. Tudo em nome do amor por uma mulher de cultura persa, religião islâmica e descendência mongol. Mumtaz Mahal emprestou uma versão reduzida do seu nome ao principal ícone da Índia, o magnífico Taj Mahal.

Foto clássica do Taj Mahal tirada de dentro da hospedaria.

Já se passaram quase quatro séculos e uma massa de visitantes do mundo todo continua se curvando aos pés desse monumento em respeito ao amor.

À esquerda a mesquita, ao lado do mausoléu.

A maior parte dos turistas costuma fazer de Agra apenas um ponto de parada para ver o Taj Mahal e seguir rumo a outros destinos. Optei por ficar três dias em Agra para entrar mais no espírito da cidade, aproveitar o hotel e ter a chance de retornar ao Taj Mahal em horários diferentes. Perfeito. Vi o sol nascer e se por. Dois horários com luzes mágicas. Viagens corridas demais não dão tempo de degustar a cultura local com prazer. 
Prefiro ver um número menor de cidades, programar um retorno e viver com tranquilidade a viagem.





É preciso visitar pelo menos duas vezes o Taj Mahal para ver suas diferentes cores na aurora e no por do sol.


http://www.viajarpelomundo.com/2012/12/agra-o-ninho-do-taj-mahal.html

TRAJETO DELHI - AGRA, UM CAMINHO DE FORTES EMOÇÕES

TRAJETO DELHI - AGRA, UM CAMINHO DE FORTES 
EMOÇÕES




Por Claudia Liechavicius

Depois de passar três dias intensos vivenciando a estarrecedora Delhi, o próximo passo era ir ao encontro da tão sonhada Agra, em busca do Taj Mahal. Malas no carro, café da manhã deliciosamente resolvido, hora de partir. Havia a possibilidade de tomar dois caminhos para percorrer os 200 quilômetros que ligam as duas cidades (já que o aeroporto de Agra não estava ativado - isso acontece nos períodos de muita neblina). Um deles era uma auto-estrada que corta o cenário rural da Índia e cujo tempo de viagem duraria entre 2 e 3 horas. A outra, era uma estrada interna que passaria por vários vilarejos e povoados, tendo mais ou menos a mesma quilometragem da anterior, mas com uma duração entre 4 e 5 horas. Por sugestão do motorista, optei por ir pela estrada interna e voltar pela freeway. Escolha acertada. Quanta emoção!

Estrada Delhi - Agra.

Assim que o carro entrou em movimento começou a passar um filme pelas janelas. Qualquer combinação de palavras que eu tente usar para expressar minha experiência nessa estrada, será pequena, perto do que realmente vivi. Carros na contramão, animais na pista, tuk-tuks abarrotados de gente, macacos brincando no acostamento, carroças puxadas por camelos com enormes carregamentos de palha, sujeira por todo lado, vacas perambulando.

Tuk-tuks repletos de gente pelas estradas.

Confesso que a princípio me senti atormentada, confusa, desconcertada, perdida e até amendrontada, com receio do carro bater. Tentava fechar os olhos, mas eles insistiam em ficar tão abertos que quase nem piscavam. Nunca vi nada parecido em uma estrada. Caos total. Lógica zero. E o carro andava suavamente entre buzinadas e freadas, a meros 40 quilômetros por hora, quando não ficava preso numa confluência de carros, pessoas e animais, sem poder andar. Descarreguei litros de adrenalina no sangue. Tensão total. A ordem que rege aquele trânsito é uma incógnita. Mas, por milagre, todos saem ilesos!

Macacos no acostamento.

Enfim, só posso dizer que os indianos são os melhores motoristas do mundo! Sinais e placas de trânsito não existem. A comunicação é feita na base da buzina. Quem vai à frente tem preferência, assim como carros maiores também. A distância regulamentar de um veículo para outro parece ser de meros 2 centímetros quando muito. No final das contas, não vi um acidente sequer e até consegui entrar no ritmo da viagem para desfrutar da paisagem colorida que dançava à minha frente.

E lá se vai a família toda depois de descer de um pequenino tuk-tuk. 
Como couberam?

UMA PARADA EM MATHURA...

No caminho, antes de chegar em Agra, fiz duas paradas. A primeira, em Mathura, a 60 quilômetros de Agra. A cidade fica às margens do rio Yamuna e é reverenciada como o local do nascimento de Krishna.



Pelas ruas de Mathura.

Krishna é o oitavo avatar de Vishnu, uma das figuras mais importantes do hinduísmo. A forma original de deus, superior a todas as outras expansões divinas (que aliás, dizem emanar dele). Vishnu juntamente com Shiva eBrahma formam a trindade hindu, sendo Vishnu o deus responsável pela manutenção do universo.

Em sânscrito, Krishna significa negro, azul ou azul-escuro. Ele é facilmente reconhecido por ser retratado na cor azul, em vestes amarelas e com uma coroa de penas de pavão. Segundo reza a lenda - aliás uma das lendas, pois há várias versões - ele foi concebido por meio de uma "transmissão mental" portanto, sem união sexual entre a princesa Devaki e seu marido Vasudeva, sendo o oitavo filho do casal.

Nasceu no ano 3228 a.C. Na época, o reino era comandado pelo rei Kamsa, que não era considerado uma boa pessoa. Um dia, o rei ouviu uma voz dizendo que o oitavo filho daquela casal iria leva-lo à morte. Então, o rei mandou trancar os dois numa cela e fez menção de matar Devaki. Vasudeva implorou para que o rei deixasse sua esposa viva e prometeu que cada filho que nascesse seria levado à sua presença. Assim, cada filho que nascia era morto pelo rei. Além disso, mandou matar todos os meninos de até 2 anos de idade que existiam no reino, quando ficou sabendo que nasceria o oitavo filho do casal e que ele poderia ser uma reincarnação de Vishnu. Esse pavor todo começou quando o rei foi alertado por uma sábia que na sua vida anterior tinha sido um demônio chamado Kalenemi morto por Vishnu. Quando o bebê nasceu, ele foi imediatamente escondido, tirado da prisão e entregue a uma família adotiva. Já crescido, Krishna retornou à Mathura, acabou com o governo de Kamsa, instituiu o pai verdadeiro como rei e a si mesmo como príncipe da corte. Krishna morreu em 3102 a.C. ao receber uma flechada. Esse fato marca o início de Kali Yuga, a era da hipocrisia e das desavenças.

O local exato do nascimento de Krishna dizem ter sido no Templo Sri Krishna Janmabhoomi, em Mathura. Na verdade, o templo foi feito onde supostamente era a cela em que Krishna nasceu. O templo foi construído cinco vezes. A primeira vez, dizem que há 5 mil anos. A segunda vez, no ano 400 d.C. durante o reinado do imperador Chandragupta Vikramaditya. Há relatos de que era belíssimo. Mas, em 1017 foi destruído. E, em 1150, surgiu sua terceira versão no reinado de Raja Dhrupet Dev Janjua, imperador de Mathura. Novamente foi destruído, no século XVI por um sultão e 125 anos depois foi refeito pela quarta vez. Em 1669, foi posto abaixo mais uma vez e uma mesquita foi erguida no seu lugar. Então, em 1803, chegou a vez dos britânicos ditarem as regras em Mathura. O local do templo foi vendido e, com auxílio financeiro e muito esforço privado, em 1951, o templo atual começou a ser edificado, tendo ficado pronto em 1982. Ufa.

Templo Sri Krishna Janmabhoomi.

Na entrada, filas longas. Já ouviu falar em "fila indiana"? Pois é. Filas foram um modo que os regrados ingleses usaram para tentar organizar aquele país caótico e superpopuloso. Elas são sempre enormes. Existem em todos os lugares. Não há como escapar delas. E, nos templos, geralmente homens entram por um portão e mulheres por outro. Até aí tudo certo. O chato mesmo é que as máquinas fotográficas têm que ficar do lado de fora. Então, não tenho nenhum registro do interior do templo onde o que mais chama atenção são as pessoas vindas de várias regiões do país. A cidade tem uma estação ferroviária que recebe trens vindos de Delhi, Mumbai e Chennai.
Muita gente à caminho do Templo Sri Krishna Janmabhoomi.

Já deu para ver que Mathura é uma importante cidade sagrada no estado de Uttar Pradesh. Além disso, foi um grande centro econômico, por onde passavam várias rotas comerciais, foi a capital do reino Surasena governado por Kamsa, foi o berço de Krishna. No entanto, o turismo internacional não é desenvolvido. A meu ver, isso torna a visita ainda mais interessante. Apenas indianos, das mais variadas regiões do país circulam pelas ruelas pobres da cidade em seus trajes inusitados e coloridos. Eu era a intrusa, atraindo o olhar da multidão.

Outro ponto de interesse de Mathura são os 25 ghats que formam um conjunto de templos, árvores e degraus de pedra que descem até a água para que os peregrinos façam seus rituais de oferendas e purificação à beira do rio. Os macacos dominam a região. Afinal, também são deuses.


Ghats de Mathura, as margens do rio Yamuna.

Para ter melhor acesso aos ghats, pequenos barcos ficam à disposição. 

... E OUTRA PARADA EM SIKANDRA

Sikandra é onde está o mausoléu do imperador mongol Akbar. Fica a oito quilômetros de Agra, quase na entrada da cidade. O que se acredita é que o próprio imperador tenha projetado e iniciado a construção de seu mausoléu, que foi terminado pelo filho Jahangir.

Entrada do mausoléu de Akbar, em Sikandra.

O templo é belíssimo. Sua simetria é perfeita, como na maior parte dos mausoléus indianos. A entrada é feita por uma enorme porta em arenito vermelho que conduz a um grande jardim cercado por muros. O jardim é dividido por canais de água em quatro partes, que representam os quadrantes da vida. Ali, cervos e macacos brincam em harmonia sem se importar em ser a atenção de tantas máquinas fotográficas.

Mausoléu de Akbar e seus minaretes que lembram muito os do Taj Mahal.

E, nesse ponto, já havia sete horas que tínhamos deixado Delhi para trás. Agra se aproximava. A noite caía. O dia tinha sido fantástico e cansativo. Uma estrada mais emocionante do que uma montanha-russa, a cidade sagrada de Mathura e o monumental mausoléu de Akbar. Era hora de chegar ao oásis chamado Oberoi Amarvilas para descansar e preparar o espírito para a joia suprema do império mongol, o Taj Mahal.

Até o próximo post com o relato de Agra!

Por do sol em Sikandra.

DISTÂNCIA DELHI - AGRA
205 quilômetros pela estrada NH 2, que passa por vários vilarejos e cidadelas (leva pelo menos 5 horas sem nenhuma parada).
210 quilômetros pela Yamuna Expressway, estrada de alta velocidade que corta a região rural de Uttar Pradesh (leva em torno de 2 horas e meia sem nenhuma parada).

O QUE VER NO CAMINHO

Cidade de Mathura onde nasceu Krishna. Principais atrações: Templo Sri Krishna Janmabhoomi e Ghats.
Cidade de Sikandra. Atração: Mausoléu de Akbar.

HOTEL EM AGRA
Oberoi Amarvilas.

LEIA TAMBÉM SOBRE DELHI


http://www.viajarpelomundo.com/2012/12/delhi-agra-um-caminho-de-fortes-emocoes.html

FRAGMENTOS DA ÍNDIA

FRAGMENTOS DA ÍNDIA

Por Claudia Liechavicius

Um misto de curiosidade com ansiedade dava o tom da minha chegada. Índia. Sonho antigo. Aeroporto Internacional Indira Gandi de Delhi se aproximando. Uma nuvem densa de poluição no ar aparecia pela janela do avião. Minha cabeça girava a toda velocidade. “Será que estou preparada para este país enorme, cheio de contrastes, denso, superpopuloso, caótico, apimentado, diferente, colorido, hindu, barulhento, sujo, guerreiro, terra de marajás e com mais de quatro mil anos de história?” Apesar de ter lido bastante e assistido alguns filmes e documentários, eu não podia prever minha reação. Os relatos que tinha lido e ouvido eram muito conflitantes. Algumas pessoas amam a Índia, outras simplesmente detestam. E eu? Precisava conferir com meus próprios sentidos.

Forte de Agra.

Com a mala já na mão e o passaporte carimbado – depois de uma viagem de 15 horas do Rio a Dubai seguida de outro trecho de 4 horas de Dubai até Delhi - fui em busca do motorista do hotel Aman no saguão do aeroporto. Sim, Aman. Esse hotel é conhecido por oferecer um serviço que prima pela tranquilidade. A escolha por um oásis no meio do caos não poderia ter sido melhor para uma primeira incursão a enlouquecida Índia. E lá estava ele com uma plaquinha na mão. Que alívio! Carro novinho, perfumado, com toalhas geladas e água. Opa. Água. Será que posso beber sem medo? Foram tantas as advertências sobre risco de infecção intestinal. Melhor dar uma olhadinha no rótulo para garantir. Bobagem. Hora de esquecer das frescuras e encarar a vida como ela é.

No ritmo de Old Delhi.

Enquanto o carro serpenteava pelas ruas de Delhi rumo ao hotel, meu coração quase saía pela boca. Não de emoção com a chegada à Índia. Mas, pelo medo do trânsito. Teria sido criada ali a Teoria do Caos? Na traseira dos caminhões e ônibus a mensagem: “BLOW HORN”. Buzinar? É isso mesmo? Sim. Sempre. Faz parte do código de comunicação e organização do trânsito. Todos buzinam ao mesmo tempo. E isso não é visto como impropério, mas como facilitador. Faz parte do contexto. Meus ouvidos entraram em pane a princípio. Até a hora em que se acostumaram. Eu nem ouvia mais o barulho. E o trânsito andava divinamente no meio do turbilhão. Carros, caminhões, tuk-tuks, bicicletas, vacas, camelos, pedestres, carroças, porcos, riquixás, elefantes… Tudo na maior harmonia caótica que já vi. Impossível alguém de fora conseguir dirigir ali. Mas, eles se entendem. Onde cabem dois, transitam quatro sem o menor problema. E todos saem ilesos. Afinal, estamos falando da populosa Índia. Com a marca de 1 bilhão de pessoas, ficando atrás apenas da China nesse quesito. Gente pra todo lado. Um começo bizarro pelas ruas da cidade.

A vida nas ruas de Delhi.

Uma hora depois estava chegando ao meu porto seguro. O hotel Aman é incrivelmente silencioso e de uma paz celestial no meio do caos. Perfeito para me refazer e voltar para o olho do furacão. Foi deixar a mala, comer alguma coisa e sair para sentir Delhi na pele. Com o auxílio de um guia do hotel e sempre acompanhada pelo motorista comecei a acostumar meus olhos ao cenário surreal da capital da Índia. O que não é assim tão fácil e rápido!

Hotel Aman, um oásis de tranquilidade em Delhi.

Lembre-se que a mão é inglesa. Então, além da confusão das ruas, tem esse pequeno detalhe. Dirigir… nem pensar. É impossível mesmo. As locadoras liberam aluguel de carros apenas com a condição de haver um motorista indiano. Só a distração com o inusitado já torna a possibilidade de alugar um carro absolutamente inviável. E olha que eu adoro andar com minhas próprias pernas pelo mundo afora. Na Índia não dá. Não só as vacas são sagradas, como também os elefantes e os macacos. Todos eles alçaram status divino e circulam pela capital populosa e por todas as outras cidades, em total liberdade. Essas diferenças atacam os sentidos de qualquer visitante de primeira viagem sem pedir licença. É o trânsito mais desordenado que já vi. Parece não atender a nenhuma lógica. Mas, milagrosamente funciona e quase nem se vê acidente apesar dos meros dois centímetros que separam cada transeunte, animal ou meio de transporte.

E como tem gente na Índia...

Caminhar a pé pelas ruas é um ato quase heróico. Parece que você vai ser engolido pela multidão. É incrível. Um turbilhão de gente. Roupas coloridas. Turbantes. Saris. E o mais interessante é que parece que ninguém se incomoda com ninguém. Como pode?

Vendedores de flores nas ruas de Delhi.

E a divisão por castas? Bem, a constituição proibe a discriminação por castas. Mas, a sociedade continua considerando quatro grupos. Os brâmanes são os sacerdotes. Os xátrias são os guerreiros, eles usam turbantes na cabeça para marcar sua posição, são facilmente reconhecidos. Os vaixás são os comerciantes. E, por último vem os sudras que são designados aos trabalhos de limpeza e serviços mais simples. Quem nasceu numa determinada casta não pode mudar seu destino. Será sempre dessa casta, mas pode estudar e evoluir intelectualmente. Muitos cargos importantes de empresas indianas e do governo são ocupados por sudras. E ainda abaixo desses todos tem os párias, também chamados de dalits ou intocáveis que vem da poeira debaixo dos pés de Brahma e servem como coveiros, estão abaixo das quatro classificações acima.

Ah! E para casar também é preciso respeitar a casta. Aliás, os casamentos são arranjados pelos pais respeitando castas, regime alimentar, religião, língua e tudo mais que for relevante para a família. Atualmente, alguns casamentos modernos vem saindo dos eixos e os indianos mais tradicionais torcem o nariz para essas misturas de castas.

Mesquita Jami Masjid em Old Delhi.

A Índia é um país muito diferente de tudo a que estamos acostumados. Até quanto a alimentação. Para começo de conversa é pimenta que deixa a boca em chamas. Além disso, muitos indianos são vegetarianos por questões religiosas. Afinal, as vacas são sagradas e muito importantes. São consideradas montaria de Shiva - um dos deuses da Santíssima Trindade hindu, junto com Brahma e Vishnu. Elas fornecem o leite, um dos principais alimentos da Índia. Suas fezes são usadas para espantar mosquito quando queimadas e olha que tem mosquito para valer! Estão fora de cogitação quando o assunto é comida. Elas são muito sagradas. Muita gente também não come frango nem cordeiro. Nos restaurantes, o cardápio sempre indica dois menus: vegetariano e não-vegetariano. Se quiser uma suculenta picanha melhor esperar para quando chegar de volta ao Brasil. E, não esqueça de lavar bem as mãos antes de comer, pois o hábito local é comer com as mãos. No Bukhara, considerado um dos melhores restaurantes de Delhi, nem sequer vem talheres à mesa.

Tantos contrastes. Pobreza e dignidade, sujeira e beleza, confusão e harmonia, caos e organização. Tantos pontos de vista conflitantes e complementares. Um país enorme, sétima maior área do planeta. Difícil de ser digerido num primeiro momento. Seu passado é onipresente. Fortes, palácios e templos seculares convivem lado a lado com o Vale do Silício e a indústria do cinema de Bollywood. Seu desenho geográfico ajuda a aumentar a diversidade: mar das Arábias, baía de Bengala, planícies que acompanham o sagrado Ganges, montanhas do Himalaia, deserto. Muitas línguas são faladas (mais de 15 oficiais, fora os tantos dialetos), muitos grupos étnicos distintos, crenças e estilos de vida, divisão por castas. Perfeito para ser degustado aos poucos. Muito lentamente…

Em Mathura, macacos adotam os templos como moradia.

Por isso escolhi apenas três cidades para começar: A histórica Delhi, a lendária Agra e a abandonada Fatehpur Sikri. Fiquei uma semana na Índia com um guia local e um motorista, os dois foram indicados pelo hotel Aman de Delhi. Nos três dias que passei em Delhi fiquei no hotel Aman. Espetacular! Depois, fui de carro até Agra. Levei praticamente um dia todo para fazer o trajeto de duzentos e poucos quilômetros, pois no caminho parei na cidade de Mathura (para ver o Vishhram Ghat e o templo de Sri Krishna) e no mausoléu de Akbar em Sikandra. Sem contar que a viagem em si já faz parte do programa. É surreal. Saí na metade da manhã e cheguei em Agra a tardinha depois de percorrer estradas lotadas de carroças, tuk-tuks, macacos, vacas, muita gente... Emoções mais fortes do que numa montanha-russa. Em Agra fiquei três dias no hotel Oberoi Amarvilas. Fantástico. Escolhi dois hotéis de luxo para conseguir ter momentos de distanciamento e assim poder assimilar melhor a essência da Índia. Além disso, queria me sentir segura e relaxar confortavelmente no final de dias tão intensos.

Hotel Oberoi Amarvilas, Agra.

Quanto à companhia aérea optei pela Emirates, pois sai diretamente do Rio e faz apenas uma parada em Dubai antes de chegar em Delhi.

Outra escolha perfeita foi o mês de novembro. Nessa época o período de monções já se foi, as chuvas intensas já cessaram, as temperaturas estão mais amenas, não tem tanto mosquito (mas, sempre tem um pouco), o fog não é tão intenso e o sol reina sublime.

Taj Mahal, Agra.

Todos sabem que a Índia é um país que gera curiosidade e chama atenção com suas diferenças. No entanto, não é um destino para marinheiros de primeira viagem nem para quem procura férias convencionais para relaxar. É um lugar que está sujeito a um certo desconforto, mas traz recompensas fantásticas. A India precisa ser estudada para ser compreendida. Fronteiras precisam ser atravessadas para que se possa ver além da sujeira espalhada pelas ruas, dos animais fuçando no lixo, do cheiro de urina, do desprezível sistema de castas, dos miseráveis desfilando sua pobreza. É preciso mergulhar na profundidade dessa cultura ancestral, despir os preconceitos e buscar os tesouros encobertos pela lama. Sua alma é nobre. Impossível ficar indiferente frente aos sentimentos que brotam numa viagem à Indian.


Namaste!


http://www.viajarpelomundo.com/2012/11/fragmentos-da-india.html