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Pérolas de Mikimoto
A Rainha das Gemas
Do subsolo do Brasil extraem-se enormes fortunas em pedras, mas o mesmo não ocorre no Japão, cuja formação geológica vulcânica e relativamente recente resulta num subsolo pobre em cristais e rochas de valor comercial. Entretanto, essa desvantagem natural não impediu que o país também obtivesse riqueza e fama internacional com uma preciosidade: a pérola cultivada.
Curiosamente, apesar de preciosas, as pérolas não são pedras propriamente ditas, já que são resultado de um processo orgânico vivo. Também chamada de a “Rainha das Gemas”, a pérola é a mais antiga pedra preciosa conhecida e já foi tida como a joia mais cara do mundo devido à raridade com que ela se encontra. Afinal, antes da criação da pérola cultivada, não se sabia ao certo como a pérola se formava dentro da ostra, e apenas uma em um milhão de ostras tinha uma das tão cobiçadas pérolas. Tida como um misterioso capricho da natureza, uma pérola redonda, grande e brilhante, era tão rara que achar uma significava uma fortuna que mudaria a vida de quem a encontrasse. Por isso, durante milhares de anos, as pérolas foram símbolos da aristocracia e da realeza do mundo. Essa situação só mudaria no século XX, com o advento das pérolas cultivadas.
O Pioneiro Kokichi Mikimoto
Conhecido como “Rei das Pérolas”, Kokicho Mikimoto nasceu na cidade de Toba, na atual província de Mie. Sua família possuía um pequeno negócio de udon (macarrão com caldo japonês) e sendo o filho mais velho, ele estava destinado a continuar com a atividade de seus antepassados. Foi apenas na casa dos 30 anos, já casado e com filhos, que Mikimoto se interessou por pérolas – mais especificamente pelos experimentos para a criação de pérolas cultivadas. Contemporâneos de Mikimoto, o biólogo Tokichi Nishikawa e o carpinteiro Tatsuhei Mise descobriram, um independente do outro, a base da cultura de pérolas, que era a inserção cirúrgica de um núcleo de metal dentro de uma ostra, para que ela forme uma pérola com a lenta liberação de uma secreção nacarada que cobrirá o núcleo. Nessa época (final do século XIX), embora se conhecesse a base do processo que forma a pérola dentro de uma ostra, não havia um processo que efetivamente permitisse o cultivo de pérolas de qualidade em escala.
Determinado a criar o processo de cultivo propriamente dito, Mikimoto fez experimentos durante anos, para encontrar desde o material mais adequado para o núcleo até o local mais adequado para as ostras ficarem no mar. Na base da tentativa e erro, ele usou de tudo: areia, barro, madeira, vidro e metais como núcleos. Ele perdeu anos de trabalho com a praga da maré vermelha, uma doença que mata ostras aos milhões. Endividado, Mikimoto chegou a ter de ir trabalhar em Hokkaido para levantar dinheiro.
Tanta obstinação gerou frutos. Mikimoto acabou obtendo os melhores resultados com ostras enxertadas com núcleos feitos de conchas de mariscos americanos, e na costa de Toba encontrou o melhor local para o longo repouso das ostras, que precisam estar vivas para produzir pérolas. A primeira “colheita” de Mikimoto foi de meras cinco pérolas de boa qualidade para 800 mil ostras enxertadas – ainda assim uma média mais alta que a natural, de uma pérola para cada milhão de ostras.
Mikimoto abriu sua empresa em 1893. além de aperfeiçoar o cultivo de pérolas, ele investiu no ramo joalheiro, enviando funcionários à Europa para aprender confecção e design de jóias. Em 1907, Mikimoto abriu sua primeira joalheria em Tokyo, e em 1911, a primeira filial no exterior, em Londres. Hábil homem de marketing, Mikimoto promoveu as pérolas japonesas no exterior expondo grandes estruturas, como a réplica do Sino da Liberdade dos Estados Unidos, e representando personalidades com suas criações, como o inventor Thomas Edson. Mikimoto cunhou a frase “meu sonho é colocar um colar de pérolas no pescoço de cada mulher deste mundo”.
Antes da Segunda Guerra, Mikimoto possuía filiais em Londres, Nova York, Los Angeles, Xangai, Bombaim e Paris. Com a Guerra, ele foi obrigado a fechar as filiais e nos duros tempos de reconstrução, mesmo com idade avançada, ele voltou a enxertar e cuidar das ostras com as próprias mãos. Em 1954, Mikimoto faleceu aos 96 anos, tendo reerguido a indústria das pérolas que ele mesmo criou. Sua esposa, Ume Mikimoto, sua principal colaboradora e mãe de seus cinco filhos, faleceu antes de ver o sucesso do marido. Além de trabalhar, cuidar da casa e da família, Ume participou ativamente do longo e complexo cultivo de ostras, fato este que Mikimoto fez questão de lembrar re divulgar durante toda sua vida.
Mikimoto é um divisor de águas no que se refere a pérolas. Com ele, criou-se efetivamente a pérola cultivada, o que tornou uma jóia rara acessível no mundo inteiro, embora pérolas continuem sendo caras e belas. Atualmente, todas as jóias adornadas com pérolas são do tipo cultivado e embora haja hoje pérolas cultivadas de outras partes do mundo, Mikimoto tornou a pérola um sinônimo de Japão.
As Sereias de Toba
Muito antes de Mikimoto criar suas pérolas cultivadas, as águas da região de Toba já eram dominadas pelas ama-san (em ideogramas kanji, escreve-se umionna – mulher do mar). As ama-san são mulheres mergulhadoras treinadas desde pequenas para pegar ostras, equipadas apenas com coragem e fôlego. Vestidas com uma folgada combinação branca, um lenço branco na cabeça e uma máscara de mergulho, elas coletam ostras no fundo do mar e as colocam em tinas de madeira que ficam boiando na superfície. Curiosamente, trata-se de uma atividade tradicional, que é feita da mesma maneira há séculos, tanto que as ama-san são partes importantes de um festival em julho: o Shirongo Matsuri, ocasião em que elas competem para pegar a primeira ostra da temporada, que será ofertada ao templo Shirongo, numa cerimônia para que os pescadores tenham segurança no mar e que a pesca seja farta durante o ano. Ainda hoje, existem cerca de mil ama-san em atividade no Japão.
Pérolas de Todos os Tipos
Todas as pérolas são resultantes de uma reação natural da ostra de um corpo estranho que entrou em sua membrana epitelial. O corpo estranho causa irritação à ostra, que passa a liberar uma secreção calcificante que visa isolar o corpo estranho de seu organismo. Essa secreção é nacarada, e vai gerar uma calcificação similar a parte interna da concha da ostra (assim, se a parte interna for rosada, a pérola ficará rosada; se for cinza, a pérola ficará acinzentada, etc.). o formato e o tamanho da pérola varia de acordo com a forma do corpo estranho, o tempo que ele permanece na ostra, além de outras condições do meio ambiente.
Hoje existem basicamente dois grandes tipos de pérolas: as naturais e as cultivadas. A diferença básica é que a primeira é produzida pelo acaso, ou seja, um corpo estranho entrou numa ostra e, após alguns anos, a calcificação desse corpo estranho gerou uma pérola. Via de regra, as jóias antigas (feitas até o fim do século XIX) possuem pérolas naturais. É comum que elas não sejam perfeitamente redondas, nem tenham o mesmo tamanho ou sejam até tortas (caso em que são chamadas de “pérolas barrocas”). As pérolas cultivadas são as geradas pela interferência do homem, ou seja, aquelas em que o corpo estranho que chamamos de núcleo foi deliberadamente colocado na ostra. Esse núcleo, que geralmente é uma bolinha feita da concha de outra ostra ou molusco (madrepérola), é inserido na ostra com uma rápida cirurgia. Em seguida, a ostra enxertada é recolocada no mar, onde ficará de 3 a 20 anos para produzir uma pérola. Praticamente quase todas as jóias feitas não séc. XX e atualmente são de pérolas cultivadas. As pérolas cultivadas são divididas em dois tipos: as de água doce e as de água salgada, dependendo de que tipo de ostra se trata. No Japão, as ostras de água salgada são tipo Akoya, que produz belas pérolas brancas, mas são muito frágeis. Metade das ostras Akoya não sobrevive ao processo de implante do núcleo, e das que sobrevivem cerca de 40% vão produzir pérolas comercializáveis, sendo menos de 5% delas de alta qualidade. As ostras de água doce Biwa são originárias da China e são também usadas no Japão no cultivo de pérolas.
Hoje existem basicamente dois grandes tipos de pérolas: as naturais e as cultivadas. A diferença básica é que a primeira é produzida pelo acaso, ou seja, um corpo estranho entrou numa ostra e, após alguns anos, a calcificação desse corpo estranho gerou uma pérola. Via de regra, as jóias antigas (feitas até o fim do século XIX) possuem pérolas naturais. É comum que elas não sejam perfeitamente redondas, nem tenham o mesmo tamanho ou sejam até tortas (caso em que são chamadas de “pérolas barrocas”). As pérolas cultivadas são as geradas pela interferência do homem, ou seja, aquelas em que o corpo estranho que chamamos de núcleo foi deliberadamente colocado na ostra. Esse núcleo, que geralmente é uma bolinha feita da concha de outra ostra ou molusco (madrepérola), é inserido na ostra com uma rápida cirurgia. Em seguida, a ostra enxertada é recolocada no mar, onde ficará de 3 a 20 anos para produzir uma pérola. Praticamente quase todas as jóias feitas não séc. XX e atualmente são de pérolas cultivadas. As pérolas cultivadas são divididas em dois tipos: as de água doce e as de água salgada, dependendo de que tipo de ostra se trata. No Japão, as ostras de água salgada são tipo Akoya, que produz belas pérolas brancas, mas são muito frágeis. Metade das ostras Akoya não sobrevive ao processo de implante do núcleo, e das que sobrevivem cerca de 40% vão produzir pérolas comercializáveis, sendo menos de 5% delas de alta qualidade. As ostras de água doce Biwa são originárias da China e são também usadas no Japão no cultivo de pérolas.
Outros grandes centros de produção perlífera atuais são o Pacífico Sul (Austrália e Sudeste Asiático), China e o Taiti, onde a ostra de águas salgadas tropicais Pinctada Margaritafera produz pérolas negras.
Simbologia e Curiosidades
Refinamento, elegância, romantismo, riqueza e poder são idéias ligadas às pérolas ao longo dos séculos e nas mais diferentes civilizações.
Muitos registros escritos descrevem o apreço da humanidade pelas pérolas desde a antiguidade. Um dos mais famosos é o célebre banquete dado por Cleópatra a Marco Antônio, para convencer Roma de que o Egito tinha tradição e riqueza imbatível pela simples conquista militar. Durante o jantar que foi considerado o mais caro da história, Cleópatra esmagou duas grandes pérolas que usava como brinco, dissolveu-as numa taça de vinagre e as bebeu diante do impressionado general. O historiador e escritor romano Plínio estimou as pérolas em 60 milhões de sestércios (cerca de 9 milhões e 375 mil dólares atuais).
Na Europa, durante a Idade Média, em especial nos séculos XIII e XIV, muitos países proibiam por lei que pessoas comuns usassem pérolas, reservando-as somente à aristocracia. Quando as leis discriminatórias foram abolidas após a Revolução Francesa, as pérolas passaram a ser consideradas perfeitos presentes de noivado e casamento, por inspirar beleza e inocência. Essa mesma idéia romântica fez com que modernamente as pérolas se tornassem o presente ideal para as mães.
Uma das grandes personalidades do séc. XX, cuja vida foi marcada por glorias, tragédias, riqueza e política, fez das pérolas sua marca registrada. Jacqueline Kennedy Onassis, um ícone de elegância moderna, usava quase sempre o famoso colar de três voltas e um par de brincos solitários de… pérolas, obviamente.
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