BUSCANDO O EQUILÍBRIO ENTRE SER MÃE E MULHER
Muito se fala de amor no dia das mães. De entrega, de doação, de dedicação. Mas o que me levou a uma introspecção profunda nesse final de semana, foi outra coisa: foi pensar na força descomunal que vem junto com a maternidade e de como essa força precisa ser cultivada para que se mantenha viva dentro de nós. E que ela depende, entre outros fatores, da nossa felicidade como indivíduos.
Desde então, tenho me voltado muito para dentro, para tentar descobrir aonde foi que me perdi de mim mesma, para me reencontrar.
Na últimas semanas eu estive muito atarefada, com dias caóticos que teimavam em passar voando e em ter menos horas úteis do que o necessário. E para completar, os filhotes não estavam sendo muito colaborativos comigo, digamos assim.
O resultado foi que fiquei exausta, muito irritada, rabugenta, sacuda mesmo, sabe? Ah sim, a gente tem direito de ficar, afinal, tem coisa mais punk do que lidar e educar crianças ao mesmo tempo em que se faz todo o resto? Não.
No sábado, fui para festa de dia das mães na escola, que sempre costuma ser muito especial e fugir da usual apresentação dos filhos para as mães. São algumas horas com atividades, desafios e aprendizados, horas essas dedicadas somente a nós.
Esse ano tivemos a temática da mãe japonesa, da mãe que acima de tudo é mulher, que é forte e frágil ao mesmo tempo. E confesso que durante todas as atividades, não pensei nos meus filhos, como sempre fiz em anos anteriores. Foi algo bem inconsciente, mas dessa vez, eu pensei em mim.
Assistimos um vídeo fofo, ouvimos palavras sábias e carinhosas, tomamos chá quentinho, energizamos as pedras no jardim zen, maquiamos o rosto com pancake branco, os olhos com lápis preto e colorimos a boca com batom vermelho. Nos cabelos, um coque com direito aos pauzinhos e tudo. Depois, o quimono e o leque, dando o toque final na nossa construção da mãe japonesa, que já estava bem viva dentro de cada uma de nós.
Por fim, aprendemos uma coreografia, aquela que seria apresentada a seguir para os nossos pequenos, que aguardavam ansiosos junto com os pais. Ensaiamos por poucos minutos e seguimos, corajosas, para o palco.
A apresentação foi linda. Arrancou lágrimas e olhares orgulhosos de muita gente. Depois, veio o abraço apertado dos nossos filhos, emendados com frases extasiadas de “como você está linda mamãe”.
Mas, mesmo com toda aquela gente assistindo, mesmo com marido e filhos ali na platéia, eu dancei para mim mesma, para a mulher que mora aqui dentro e que por vezes é sucumbida pelas funções maternas.
Posso dizer que saí de lá mais leve, mais forte, mais feliz. Tive minha força de mãe e de mulher renovada, recarregada, reenergizada. Tudo isso, com algumas poucas horas de mudança de foco, de silêncio contemplado, de ver a vida por outros ângulos, de ter minha rotina alterada por algo novo e totalmente diferente do que costumo fazer.
Consegui perceber claramente o quanto é importante nós estarmos bem e felizes como indivíduos, como pessoas comuns que somos, para então estarmos bem como mães. A gente sabe disso, lá no fundo. Mas depois que nos tornamos mães, esquecemos de como é ser egoísta, de como é pensar no que nós queremos e precisamos. As responsabilidades gigantes da maternidade chegam atropelando tudo isso.
Depois daqueles momentos simples, só meus, consegui enxergar com nitidez a diferença no meu modo de maternar e de me relacionar com os meus filhos. Eu era a mãe que eu queria ser para eles, mas que nem sempre consiguia ser.
Nós sempre estamos tão cansadas, sempre correndo contra o tempo, fazendo várias coisas simultaneamente. Dormimos pouco ou mal dormimos. Nossos ouvidos raramente são contemplados com o silêncio, por vezes tão desejado. Por isso se torna tão importante termos momentos só nossos.
Por aqui (e tenho certeza que para muitas de vocês a situação é a mesma), são raros os momentos em que posso me dar ao luxo de me dedicar a mim mesma ou a fazer algo que nada tenha a ver com meus filhos. Não tenho babá, nem empregada e pouco posso contar com minha mãe ultimamente. A gente se vira, claro, dá um jeito, porque somos fortes. Mas nem por isso esse descanso deixa de ser necessário.
Desde que me tornei mãe tenho me dedicado cem por cento à maternidade. Estou sempre renunciando, sempre abrindo mão de alguma necessidade minha em prol dos meus filhos. E por que? Porque aprendemos que ser mãe é assim, é abrir mão. E isso vai desde fazer as unhas, ler um livro, assistir um filme, encontrar uma amiga, até as necessidades mais básicas e necessárias do ser humano, como fazer uma refeição decente e dormir, por exemplo. Sempre que deixo de ficar com eles para fazer qualquer outra coisa, sinto que estou desperdiçando meu tempo. Como se eu não fosse mais importante para mim mesma. Mas isso está errado.
Percebi que não é bom, nem para mim, nem para eles. Preciso de sanidade, preciso estar feliz para ser uma mãe melhor. Percebi que preciso aprender a delegar, a confiar que meus filhos ficarão bem sem mim por alguns momentos, que sairão ilesos depois de algumas horas só com o pai ou com os avós (sim, tenho dificuldades em deixá-los, mesmo com a família sou do tipo de liga a todo momento para ver como estão). Preciso mudar, porque preciso ter esse tempo de vez em quando mesmo que seja bem de vez em quando. Para olhar e ouvir somente a mim mesma.
Eu acho muito difícil conciliar ser mulher, profissional e ser mãe ao mesmo tempo. Porque temos a impressão de que o “ser mãe” está acima de tudo. Mas as minhas convicções sobre isso estão mudando. A rotina provavelmente continuará sendo corrida, caótica, mas ela pode ser mais leve, eu acho. É algo que depende do nosso modo de ver as coisas e de nos relacionar com o que nos cerca. Tem a ver com diminuir as expectativas sobre nós mesmas – que é algo que eu tanto falo por aqui. Tem a ver com tentar tirar um pouco do peso da maternidade.
Ser mãe é a coisa mais extraordinária que já me aconteceu.
Mas é em busca desse equilíbrio entre ser mãe e mulher que eu vou.
... mulher Ser mãe, avó, esposa, dona de casa,
professora, psicóloga, mulher
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