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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

CARNAVAL 2016! Democráticos, blocos de rua traduzem alma do carnaval de Pernambuco

22/01/2016 12 h 08 - Atualizado em 22/01/2016 12 h 49

Democráticos, blocos de rua traduzem alma do carnaval de Pernambuco

Mesmo com histórias diferentes, objetivo comum é divertir por onde passam. 
G1 conta as curiosidades de cinco blocos que desfilam no Recife e Olinda.

Foliões durante desfile do Bloco 'Eu Acho é Pouco' pelas ruas de Olinda (Foto: Heudes Regis/JC IMAGEM/AE)
Criado durante a ditadura militar, 'Eu Acho é Pouco' se tornou um dos blocos mais tradicionais do carnaval pernambucano (Foto: Heudes Regis/JC IMAGEM/AE)


Fundados a partir de uma força inexplicável, da intenção de fazer críticas politicas, de reviver o frevo de rua, de um mero acidente ou até mesmo da junção de vários amigos apaixonados pela sétima arte, os blocos de rua tem um único objetivo: divertir e encantar foliões por onde passa. Democrático, é uma das brincadeiras mais reais e sinceras do que é – originalmente – a festa de Momo.

Com o período mais colorido e alegre do ano se aproximando, o G1 conta a história de cinco deles e suas curiosidades para o folião entrar frevando no fantástico mundo do carnaval.



Presidente diz que 'profano se mistura com o religioso a todo momento' (Foto: Thays Estarque/ G1)

Homem da Meia Noite – 1932
Com quatro metros de altura e pesado 49,5 quilos, ai de quem chamar o Homem da Meia-Noite de boneco. Para os admiradores, ele é o calunga que desfila e conquista no sábado de carnaval. Uma figura mística que é rodeado de diversas coincidências.

“A casa do Homem da Meia-Noite fica em frente a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, meu pai – presidente do bloco por 11 anos – nasceu e morreu no Dia da Consciência Negra, eu comprei uma casa na Rua do Amparo e só fui descobrir depois que o calunga saia do quintal dessa casa muito tempo depois, quando ele sai sentimos, somos tomados por uma onda de energia. São muitas coincidências que faz com que a gente acredite que tem algo maior que move esse homem gigante”, acredita Luiz Adolpho, presidente da agremiação.



Casa do Homem da Meia-Noite fica em frente a
Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens
Pretos (Foto: Thays Estarque/ G1)

O calunga é tratado como mais uma pessoa dentro da sede. Vestem e conversam com ele. “A gente tem ele como se fosse vivo”, dispara Adolpho. Ainda há duas versões que permeiam a origem do bloco. A primeira, que o nome tenha surgido do filme “Ladrão da Meia-Noite”.

A segunda – e levada com mais veracidade – é que o carpinteiro Bernadino da Silva sempre via um homem trajando fraque nas cores verde e branco, dente de ouro e cartola alta passando pelas ruas da cidade alta a partir da 0h. Um dia, resolveu segui-lo e descobriu que ele era um Dom Juan que pulava a janelas das moças.

Fundado no dia 2 de fevereiro – data destinada a Iemanjá no candomblé – os cuidados com o calunga seguem uma série de rituais. “Tem um que ocorre sempre às 18 h do dia que antecede sua saída pelas ruas de Olinda que eu não posso fazer porque não bebo, que é a troca de roupa dele. Só pode tocar na roupa quem bebe porque é feito um brinde com cachaça no fim. Não posso contar as outras coisas, só posso dizer que no fim uma criança dá banho de perfume nele”, entrega o presidente.


Mesmo assim, Adolpho garante que os fiéis católicos também são apaixonados pelo Homem da Meia-Noite. “Aqui o profano se mistura com o religioso a todo momento’, completa.

Arrastando cerca de 600 mil foliões, festa conta com forte segurança (Foto: G1 PE)

O calunga sai, pontualmente, à meia-noite, percorre boa parte do Sítio Histórico de Olinda, além das ruas de baixo, e volta para a sua casa às 3 h 30 arrastando cerca de 500 mil foliões, segundo cálculos do presidente do bloco. Com tanta gente, registros de violência são contabilizados todo ano. “Fora o acompanhamento da Polícia Militar, temos 150 seguranças que fazem um cordão de isolamento no Homem da Meia-Noite, na orquestra e nas passistas, mas não é suficiente”, comenta Adolpho.

O presidente ainda diz que há um estudo todo ano da diretoria com a Polícia Militar para analisar um trajeto mais tranquilo para a população. “Infelizmente chegamos nesse ponto, erámos para brincar de uma forma tranquila. O bom que as pessoas de bem dão as mãos aos seguranças e juntos protegem essa festa tão bonita do nosso povo", conclui Adolpho.

'Eu Acho é Pouco' vive momento de resgate da história do bloco (Foto: Heudes Regis/JC IMAGEM/AE)
Eu Acho é Pouco – 1977
O bloco, que surgiu durante a ditadura militar, já está na terceira geração. Bem organizado e com algumas regras rigorosas, a preocupação da agremiação é deixar tudo documentado para a prole.

“O bloco foi criado por nossos pais, mas eles não imaginavam no que ele se transformaria. Então não documentaram nada e esqueceram boa parte dessa história. Por exemplo, até o porquê do nome não se sabe, há várias versões, mas nenhuma oficial”, lamenta Fabiano Guerra, um dos organizadores.

Dragão é a marca da agremiação carnavalesca
(Foto: Juliana Souto/ G1)

Por isso, os integrantes da troça resolveram registrar tudo que acontece nas reuniões e nas festas. “A informação se perde se a gente não documentar. Com essa organização as próximas gerações entenderão e tocarão o bloco”, espera Guerra.

A super estrutura que é pensada pelo grupo, de 20 a 30 integrantes, ao longo do ano se reflete no carnaval. São duas festas para os adultos – uma no sábado e outra na terça de carnaval – e uma para os pequenos na segunda-feira. Isso tudo é acompanhado pela Orquestra Eu Acho é Pouco, formada por 40 instrumentistas, grupo de samba, quatro bonecos gigantes e o grande dragão vermelho – símbolo da agremiação. Com duração de três horas, o bloco tem concentração às 17 horas no Pátio dos Milagres, no Sítio Histórico de Olinda, e segue em cortejo pelas principais ladeias e ruas da cidade alta.

“Temos um cordão de isolamento feito por 40 seguranças. Não é segregação, o cordão só envolve a orquestra para nenhum folião se acidentar nos instrumentos. Tudo é pensado para só haver brincadeiras”, completa o organizador.

Mesmo levando em consideração o tamanho da troça, Fabiano diz que a pretensão do grupo não é se tornar um bloco gigantesco. “Ninguém é remunerado, a decisão é colegiada e tudo que a gente arrecada é para ver o bloco na rua. Não recebemos nenhum patrocínio, nem público e nem privado. A gente pensa que pode tirar esse dinheiro de quem realmente precisa”.

Galo da Madrugada surgiu da ideia de sete pessoas (Foto: Roberto Pereira/SEI)
Galo da Madrugada – 1978
Hoje, quem conhece o Galo não imagina que tudo começou com cinco familiares e dois amigos que queriam fazer um bloco para resgatar o frevo de rua. “O bloco saia na hora que o comércio abria para ir arrecadando dinheiro dos amigos comerciários. Alguém achou muito cedo e disse brincando: ‘Vamos sair às 5h? Vamos sair com o galo’”, explica Guilherme Menezes, diretor de marketing da agremiação e filho de um dos fundadores.

Guilherme conta que a troça foi aumentado numa progressão geométrica. “No primeiro ano era uma banda, no segundo duas e assim por diante. No quinto ano não dava mais para deixar a banda na rua por causa da quantidade de foliões. Foi assim que surgiram os trios elétricos. Nos anos de 1990 eram dez trios, hoje saímos com 30 e 2,5 milhões de pessoas nos acompanhando”.

Filho de fundador conta que hoje a agremiação é
quase uma religião para o povo (Foto: Divulgação)

O diretor de marketing ainda confessa que o tamanho da festa é tão grande que o folião não consegue mais desfilar atrás dos trios. “As pessoas ficam paradas e o trio que passa por elas. Não tem espaço mais. Para você ter ideia, é dia que o metrô do Recife recebe mais passageiros, são 600 mil no sistema metroviário, quando o número diário não passa de 180 mil”.

Apesar da proporção que o Galo tomou ao longos dos anos, Guilherme confessa que, pela família, ele cresceria ainda mais. “Nós temos um acordo com os órgãos públicos para permanecer com 30 trios, pelo menos, pelos próximos anos. A cidade não comporta mais pessoas ali e temos que pensar na segurança do povo, mas querer a gente quer”, diz ao concluir que não existe rixa com o bloco carioca Bola Preta para ver quem atrai mais folião para as ruas. “Já virou uma brincadeira. Nós até queremos que toda cidade tenha uma festa como o Galo. O nosso bloco é quase uma religião do povo”.

Nesse ano, o Galo da Madrugada - que sempre sai no sábado de Zé Pereira - está homenageando Chico Science e o movimento Maguebeat com quatro carros alegóricos com a temática.

Luciana Pinto é a musa inspiradora do bloco Mulher na Vara (Foto: Carlos Porcíuncula/ Acervo Pessoal)
Mulher na Vara - 1993
“Um grupo de crianças começou a gritar: ‘Olha, mãe, vem ver a mulher’”, conta Carlos Porcíuncula, presidente e um dos fundadores do bloco. O grupo formado por 13 amigos resolveu sair correndo atrás de uma agremiação. Há 23 anos, Olinda estava homenageando Julião das Mascaras e o chão da cidade alta estava tomado pela fantasia. O fim não poderia ser outro, uma das amigas – Luciana Pinto – escorregou e torceu o tornozelo.

“Inicialmente tivemos a ideia de carregá-la nas costas, mas um desses colegas estava com um pedaço de vara tentando tirar goiaba da árvore. Foi então que sugerimos dela sentar, como se fosse um banquinho, e nos revezamos para levá-la. Depois que essas crianças gritaram, começou um corinho: ‘mulher na vara’. Quando olhamos para trás tinha uma multidão nos seguindo e uma orquestra acompanhando”, recorda.

Bloco costuma arrastar três mil foliões todo ano e mulheres se revezam para subir na vara (Foto: Divulgação)

Desde então, os integrantes fazem camisetas para arrecadar fundos e por o bloco na rua às 12 horas da segunda-feira de carnaval. A agremiação sai todo ano em frente ao número 207 da Rua da Boa Hora, em Olinda. A camisa custa R$ 35 e dá direito a cinco fichas para cerveja, guaraná ou água. Atualmente, três mil foliões aguardam ansiosamente para seguir o cortejo e as mulheres mais 'animadas' são convidadas a subir na vara.

“Hoje é uma vara de bambu com cinco metros de comprimento. Seis homens seguram as bordas e quatro ficam no centro para ajudar as cerca de 80 meninas que sobem na vara durante todo o percurso”, conclui Carlos ao dizer que Luciana, “a musa inspiradora de toda brincadeira”, mora em Boston (EUA) há 12 anos, mas sempre que volta a Olinda no carnaval faz questão de subir na vara.

Para João Freire, um dos fundadores, descontração do 'Amantes de Glória' é o que faz o bloco arrastar tantos foliões (Foto: Divulgação)
Amantes de Glória - 1997
A paixão de cinco amigos pela atriz espanhola Vitória Abril inspirou um bloco que arrasta cerca de dez mil foliões todo ano. “Éramos estudantes de jornalismo e psicologia, tudo novo com 17, 18 anos. A gente ia muito ao cinema e depois nos encontrávamos em um bar para comentar, conversar sobre o filme. Num desses filmes – o ‘Ninguém falará de nós enquanto estivermos mortos’ – todos ficamos apaixonadíssimos pela atriz, queríamos ser amantes da Glória, sua personagem”, relembra João Freire, um dos fundadores do Amantes de Glória.

O nome da agremiação dá assas a imaginação popular. São muitas as conjecturas em torno do nome e os fundadores, descontraídos de carteirinha, não negam as diversas histórias. “Falam que Glória era uma prostituta, que ela era uma mulher casada, uma entidade, mas a verdadeira eu já contei. Porém, é bem capaz de outro fundador dar outra versão. A gente gosta de alimentar a imaginação do povo. Por isso concordamos com todos”, brinca Freire.

Dependendo apenas da venda de 500 camisas para garantir o carnaval do bloco, os fundadores se orgulham de não ter nenhum patrocinador. “Não temos uma festa paga, nem nossa prévia é paga. Todo ano surge alguma empresa querendo patrocinar, colocar a marca nas camisas, mas queremos é manter a tradição do carnaval de rua, de graça”, diz Freire.

Bingo é uma das formas que o bloco tem para
arrecadar dinheiro (Foto: Divulgação)

Durante os dezenove anos do bloco, o custeio da orquestra do maestro Lessa – em torno de R$ 10 mil – sempre sai do bolso dos próprios colaboradores. “Só fazemos 500 camisas para vender porque dá o valor exato para pagar a orquestra. Se fizéssemos mais ia sobrar dinheiro e começar as brigas”, completa Freire ao dizer que não existe organização.

“A gente se reúne perto do Natal só para mandar fazer as camisas e se estiver faltando dinheiro a gente faz um bingo. É esse caráter amador que está fazendo o bloco resistir e a gente brincar. Não tem direção, não tem bronca, não tem conflito, o que tem e o espírito carnavalesco de cooperação”, acredita.

Desde 1997, o Amantes da Glória desfila sempre pelas ruas do Recife Antigo a partir das 16 h da segunda-feira de carnaval. A prévia, ocorrerá no bairro da Boa Vista no dia 23 de janeiro. “Fomos o primeiro bloco a sair pelas ruas do Recife Antigo. Lembro que até fizemos uma ciranda no Marco Zero. Depois disso que os blocos começaram a desfilar por lá. Gostamos de dizer que inspiramos os outros blocos”, conclui Freire.

http://g1.globo.com/pernambuco/carnaval/2016/noticia/2016/01/democraticos-blocos-de-rua-traduzem-alma-do-carnaval-de-pe.html

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