Sempre na minha mente e no coração...

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Corcovado ou Cristo Redentor, lindo !!!

sábado, 26 de abril de 2014

DELHI, UMA CAPITAL EM FORMA DE CAOS

DELHI, UMA CAPITAL EM FORMA DE CAOS

Por Claudia Liechavicius

A capital política da Índia impressiona de cara. Não só pela quantidade de gente circulando pelas ruas, afinal são mais de 16 milhões de habitantes, ficando atrás apenas de Mumbai, como também por ter uma gama surreal de contrastes. Parece que você está circulando num set de filmagem.

Pelas avenidas largas e movimentadas de Nova Delhi que evocam o período de dominação britânica de repente se vê ao longe nada menos do que um elefante passeando entre centenas de carros que buzinam enlouquecidamente. E ele vai rebolando. Sem pressa. Nem se abala com a confusão. Afinal, elefantes são deuses.

Nova Delhi tem avenidas muito amplas e arborizadas,
 mas o clima seco deixa sempre muita poeira e neblina no ar.

Se isso já é inusitado espere então, para ver o enredo borbulhante de Old Delhi. Mulheres de saris coloridíssimos,homens com turbantes, cheiro forte de especiarias, poluição, javalis, porcos, camelos, vacas e cachorros disputando espaço com carros, motos, bicicletas e riquixás. Mal dá para acreditar que aquela cidade louca, caótica, surreal, tão cheia de peculiaridades coloridas e barulhentas é a capital da Índia.
    
Cenas do dia-a-dia pelas ruas de Old Delhi.
VÁ COM CALMA

A Índia tem uma força capaz de quebrar muitos paradigmas. A começar pela máxima "a primeira impressão é a que fica". Na Índia, definitivamente não é. Você vai ver. É preciso um certo tempo para passar o susto inicial e dar lugar ao encantamento. Claro que, o primeiro impacto de se ver lixo acumulado, sujeira, pobreza, mau cheiro, aglomeração, animais abandonados pelas ruas, trânsito caótico e poluição, não é muito bom. No entanto, é preciso ler nas entrelinhas para conseguir mergulhar no esplendor de uma das cidades mais antigas do mundo.

Em
Delhi há mais de mil prédios e monumentos históricos, entre os quais Lodhi Gardens, India Gate, Qutab Minar, Red Fort, Purana Quila, Mesquita de Jama Masjid, Lotus Temple, Jantar Mantar, Raj Ghat,Tughlaqabad Fort, Akshardham Temple, Safdarjung Tomb, Humayun's Tomb...
Humayun's Tomb.

NEW DELHI E OLD DELHI

Delhi é formada por duas partes: New Delhi Old DelhiA parte nova da cidade é moderna. É onde fica a sede do governo e a área das embaixadas. Tem muitos militares fazendo a segurança. Avenidas largas e arborizadas que não se parecem em nada com as ruelas estreitas e superlotadas do centro velho. Foi projetada pelo arquiteto Edwin Lutyens. Até hoje essa parte nova da cidade é chamada de "Lutyens' Delhi". Sua obra teve força, pois ele conseguiu adaptar o tradicional estilo indiano às características britânicas daquela época.
Sede do governo de Delhi.
A inauguração oficial de Nova Delhi como cidade planejada aconteceu 16 anos antes da independência do país, em 1931. Mahatma Gandhi, um dos grandes nomes do século XX, fez enorme esforço para promover uma desobediência civil às leis britânicas. Ghandi conseguiu unir a sociedade indiana. Foi um grande líder espiritual e político. Fez com que hindus e muçulmanos lutassem unidos pela soberania da Índia. Toda sua luta estava baseada na não-violência. Os protestos eram pacíficos, carregados de princípios de paz. No entanto, pouco tempo depois, hindus e muçulmanos se dividiram em dois estados: Paquistão e Índia. E, no auge de um momento de insatisfação Ghandi foi assassinado em 1948 por um extremista hindu, logo após conseguir a Independência da Índia. Ele morreu como herói. As notas de rúpias indianas trazem o rosto do "Pai da Índia" orgulhosamente estampado. Seu corpo foi cremado no Parque Raj Ghat, seguindo a tradição hindu. No local, há um memorial em sua homenagem. Em sinal de respeito é recomendado tirar os sapatos. Aliás, em todos os templos da Índia essa regra deve ser obedecida. Leve sempre um par de meias velhas se não quiser andar de pés descalços por lugares "suspeitos" em termos de limpeza.

Já na Antiga Delhi o contexto é outro. Ruas estreitas, mesquitas, templos, fortes e mercados dão uma mostra de como tem sido agitada a vida ao longo de séculos e séculos de história.


Templo jainista - Digambar Jain Temple - em Old Delhi.

UMA CIDADE, OITO CIDADES

Delhi presenciou o nascimento e a morte de vários impérios. E, todos eles deixaram suas marcas. Um legado arquitetônico inimaginável. Por isso, a cidade é formada por um conglomerado de oito cidades que viveram numa roda gigante de ascensão e queda. Entre elas:

Qila Rai Pitora (foi a primeira cidade construída em 1180. É lá que está o Qutab Minar, minarete que marca o primeiro reino muçulmano do norte da Índia)

Siri (a segunda cidade foi feita em 1303)

Tughuqabad (essa foi a terceira cidade, erguida em 1320)

Jahanpanah (foi a quarta cidade feita em 1325 para conectar Qila Rai Pitora e Siri)

Ferozabad (quinta cidade construída em 1351 bem perto de Old Delhi)

Purana Qila (sexta cidade em Delhi, surgiu com Humayun em torno de 1500)


Shahjahanabad (sétima cidade, construída pelo imperador mogol Shah Jahan entre 1638 e 1649. A cidade incluía o Forte Vermelho de Delhi).

Delhi (é a oitava e atual cidade)

Também há quem diga que, na verdade, houve antes 15 cidades. A única coisa que sei realmente, é que Delhi é uma obra secular formada por incríveis ruínas de cidades medievais, palácios, templos e mausoléus mesclados com prédios modernos. Fascinante.

Red Fort, em Shahjahanabad.

Delhi viveu sob comando muçulmano, depois se beneficiou com o poder mogol, também teve dominação persa até que em 1803 foi a vez dos ingleses assumirem o comando. A área administrativa atual foi projetada pelos britânicos no coração da cidade, onde já havia a Casa do Vice-Rei, Rashtrapati Bhawan, sobre o Monte Raisina. O Rashtrapati se estende até o Portão da Índia (India Gate), uma éspecie de Arco do Triunfo que homenageia os soldados indianos que lutaram na Primeira Guerra Mundial e nas Guerras Afegãs.

Rashtrapati Bhawan.

Portão da Índia.

O FORTE VERMELHO - RED FORT - LAL QILA

Delhi é uma cidade enorme e com um trânsito capaz de deixar qualquer um doido. Nos três dias em que lá estive foi difícil dar conta de tudo que eu queria ver. O deslocamento de um lugar para outro é sempre demorado. Claro, que tive que fazer algumas escolhas. Optei por começar em Old Delhi pelo Red Fort, chamado pelos indianos de Lal Qila, e em inglês Forte Vermelho. Queria cair de sola no olho do furacão, apesar de que ao entrar no forte, o burburinho fica do lado de fora e até dá para sentir uma certa paz.

Como o próprio nome já diz, o forte é todo feito em pedras vermelhas. Foi construído em 1639 sob o comando do imperador Shah Jahan (o mesmo que fez o Taj Mahal). Levou 9 anos para ficar pronto e foi o quartel general do poder mogol até 1857, quando o imperador Bahadur Shah Zafar foi destronado e exilado. Na Porta Lahore do forte foi feito o discurso do Dia da Independência, em 1947.

Porta Lahore, Forte Vermelho, em Old Delhi.

Ao passar pela Porta Lahore (uma das 6 entradas do forte) se chega ao bazar de Chatta Chowk onde eram vendidas joias, hoje tem lojinhas de lembranças indianas. Adiante fica o pavilhão Naqqar Khana onde aconteciam cerimônias musicadas. A seguir, um caminho leva ao Diwan-i-Aam, um salão com 60 pilares onde o imperador dava audiência diariamente. Então, vem o Rang Mahal aposento das mulheres com um chafariz de mármore em forma de flor de lótus. O aposento do imperador era num espaço separado e especial, o Khas Mahal. A ala mais importante do forte é Diwan-i-Khas que tinha um Trono de Pavão todo incrustado em pedras preciosas. Ele foi roubado pelos persas durante uma guerra. (A antiga Pérsia é o atual Irã.) As paredes e os pilares desse pavilhão também eram salpicados de pedras preciosas. Foi tudo roubado. Nesse complexo havia banheiros com vapor quente, um luxo para a época. E, claro não podia faltar uma mesquita, a Mesquita Pérola (Moti Masjid). Ao todo 11 palácios (mahals) formavam seu interior. Está tudo muito bem preservado. Vale uma visita. O forte fica aberto das 10 da manhã até as 4 da tarde. O valor do ingresso para estrangeiros é de 100 rúpias (para indianos é 11) e inclui tickets para os três museus de dentro do forte.

Diwan-i-Aam, local das audiências públicas do imperador, observe dentro do pavilhão o trono.

Rang Mahal, aposento das mulheres.

À esquerda, Diwan-i-Khas, onde havia o Trono do Pavão roubado pelos persas.

A MESQUITA JAMA MASJID

Pertinho do Red Fort fica a maior mesquita da Índia, Jama Masjid. Até dá para ir andando pelas ruas Chandni Chowk e Dariba Kalan, na antiga Shahjahanabad (a cidade de Shah Jahan, a sétima de Delhi, chamada de Old Delhi). Mas como o caos impera em Old Delhi, a sensação é de que você vai ser engolido pela multidão a qualquer instante. Então, a ordem é negociar o valor de um riquixá ou de um tuk-tuk. No caminho, os contrastes são tocantes. Às vezes os olhos não conseguem acreditar no que estão vendo. São intensas as marcas da pobreza. No entanto, cores fortes ajudam a manter a dignidade.

Há centenas de riquixás desfilando pelas ruas de Old Delhi.

Ao entrar num riquixá lembre-se de colocar os braços para dentro ou você corre um sério risco.
Parece bizarro e até assustador, mas há muitas razões para se explorar com olhos bem atentos Shahjahanabad, a Antiga Delhi. Era ali que os nobres moravam juntamente com os membros da corte real em lindas mansões, diferentes religiões conviviam em harmonia, sem contar que era o grande ponto de comércio do norte da Índia. Circular pelas ruas estreitas e abarrotadas de gente, a bordo de um simples riquixá significa mergulhar no lugar que já foi o império mais rico do mundo! Chandi Chowk era o mercado popular mais movimentado da Índia. Hoje, mesmo parecendo caótico ainda guarda as características históricas do esplendor que um dia já teve. Nele se encontra de tudo: alimentos, flores, especiarias, roupas, sapatos, doces, tecidos, livros, produtos eletrônicos...Kinari Bazaar é repleto de roupas de casamento. Jain Temple guarda os segredos de uma das religiões menos conhecidas da Índia, o jainismo. Khari Baoli é onde o olfato chega a entrar em pane com tantas especiarias reunidas. Como dá para perceber, Old Delhi tem o seu valor histórico. Ainda assim, esse não é um destino muito fácil de se apaixonar de cara. É como se estivéssemos vendo uma bela paisagem através de uma janela muito suja.

No caminho, aproveite para se deleitar com a diversidade e as cores de Old Delhi.

E apesar de toda essa gente, apesar de tanta probreza, Delhi é um lugar seguro para se visitar. Claro, que é uma grande cidade. É preciso estar atento e não dar chance ao azar. No entanto, como as Leis do Destino regem a vida dos indianos há séculos, eles se conformam com isso e não almejam o que não lhes é de direito. Ficam satisfeitos em ser parte daquela determinada casta.

No meio dessa confusão, uma pérola. A mesquita Jama Masjid foi construída em 1656 também pelo imperador Shah Jahan sobre uma pequena colina. Suas três cúpulas em mármore preto e branco e os dois minaretes são imponentes. Eles são avistados depois que se sobe uma grande escadaria em arenito que leva a um arco central. Do lado de fora não dá para imaginar a beleza do que se vai encontrar dentro dos muros.



Escadaria da mesquita Jama Masjid.
Essa visita foi um dos momentos mais interessantes em Delhi. A mesquita estava lotada de gente. Domingo. Famílias inteiras dedicavam sua tarde às orações. Pessoas simples e felizes. Me dirigiam olhares de total estranhamento. Eu era a intrusa. Loira. Com roupas diferentes. Falando uma língua estranha. Acabei virando o centro das atenções e me senti uma estrela de Bollywood tirando muitas fotos com os indianos. Foi muito engraçado. Depois que o primeiro quebrou a barreira, não parava de chegar gente pedindo para tirar uma foto comigo. A mesquita é enorme. O grande pátio tem capacidade para 20 mil pessoas.




Mesquita Jama Masjid.

O dukka - tanque de água - para o ritual de ablusão.

LODI GARDENS PARA RELAXAR

Depois de se embrenhar pela loucura de Old Delhi, nada como buscar um pouco de sossego num dos parques mais pitorescos de Delhi, o Lodi Gardens. Muitos indianos passeiam pelo parque com suas famílias, especialmente nos finais de semana. Ele é considerado o "pulmão" de Delhi. Seu paisagismo foi feito em 1936 sob orientação da esposa do vice-rei. Suas alamedas são arborizadas, os canteiros floridos e os gramados convidam a sentar. Também ficam ali algumas tumbas do século XV, das dinastias Sayyid e Lodi, os últimos sultões de Delhi. Dizem que o primeiro túmulo construído no local foi o de Muhammad Shah (1434, terceiro reinado da dinastia Sayyid). A estrutura maior é o complexo de Bada Gumbad - Grande Cúpula - que tem anexas uma mesquita de 1494 e uma casa de hóspedes. Também tem uma ponte de pedra chamada de Athpula, que dizem ser do século XVII e o túmulo de Sikander Lodi (1489). Para aproveitar ainda mais a visita, vale programar o almoço no restaurante Jardim do Lodi, agradabilíssimo, com um visual lindo.

Bada Gumbad, Lodi Gardens.

A SEXTA CIDADE - PURANA QILA

E, meu dia começou pelo Forte Velho, mais conhecido como Purana Qila. Ali está o que sobrou da sexta cidade de Delhi criada pelo imperador mogol Humayun, sobre a lendária cidade de Indraprastha - que teria sido o começo de tudo. Seu reinado foi curto, pois o afegão Sher Shah Sur o destronou. A cidade, então, foi dominada e passou a se chamar Shergarb (Forte do Leão). Após a sua morte, Humayun retomou seu trono, mas morreu em seguida num acidente. A área da cidadela é enorme passei praticamente a manhã toda percorrendo seus jardins, palácios, quartéis e a mesquita.

A mesquita Qila-i-Kuhna tem apenas uma cúpula e é toda em mármore vermelho e branco trabalhado com ardósia. Sua construção foi ordenada por Sher Shah, em 1541. Na parte central tem várias inscrições, entre elas uma diz: "Enquanto houver pessoas na terra, que essa mesquita seja frequentada por elas e que todas sejam felizes e abençoadas." O prédio é o mais bem preservado de Purana Qila. Os indianos que circulam por ali parecem cuidar bem da mesquita. Ficam atentos para que ninguém entre de sapatos. Não há guardas nem vigias na entrada da mesquita, é o povo mesmo que cuida da sua mesquita. Os vigias ficam circulando pelo gramado do parque para inibir casais que ficam sentados na grama muito grudadinhos. Sopram um apito de sinalização e mandam os casais levantarem. Muito engraçado, pois esse cuidado parece ser maior do que com a conservação do patrimônio histórico.

Mesquita Qila-i-kuhna, em Purana Qila.

Outro prédio interessante de Purana Qila é a biblioteca e observatório Sher Mandal. É uma torre octogonal, com dois andares, feita em arenito vermelho e coroada por um pequenino pavilhão aberto sustentado por 8 pilares. Nesse lugar aconteceu a trágica morte do imperador Humayun, em 1556. Muito devoto, com a pressa para a oração da tarde, ele tropeçou e caiu do segundo andar, vindo a falecer dois dias depois. Dizem que a cidadela não trazia sucesso aos seus governantes. Atualmente, suas portas ficam fechadas à visitação.


Biblioteca Sher Mandal, em Purana Qila.

Purana Qila tem três portas importantes, mas a entrada atualmente é feita por Bada Darwaza. Nos finais de semana a antiga cidade fica cheia de indianos. O turismo interno é forte no país. O preço do ingresso para estrangeiros é sempre mais alto do que para os indianos.

West Gate, Bada Darwaza.

Humayun Darwaza. 

Famílias inteiras passam o dia visitando Purana Qila.

MUITA PIMENTA!!!

Depois de tanto rodar, pausa para o almoço. Esse é um capítulo interessante. Vamos começar pela pimenta. Nossa senhora. Eles gostam de pimenta mais do que qualquer outro povo. Quando o prato vem sem pimenta ainda assim a boca arde... Até parece que eles não têm papilas gustativas! A Índia é o país das especiarias. Isso, em parte, explica essa louca paixão. Mas, precisava ser tanta paixão? Só de pimenta do reino são três tipos. E além da pimenta, tem a canela, o cravo-da-índia, a noz-moscada, o gengibre, o coentro, o cardamomo e por aí vai. E como vai. Comida de rua e em mercados não tive coragem de experimentar. O melhor lugar de Delhi para testar a culinária indiana de alto nível é o restaurante Bukhara. Imperdível. Ele fica no hotel ITC. Peça a lentilha (Dal Bukhara), o frango no tandoori (forno de barro) e a ovelha assada lentamente por 24 horas. Dos deuses. E o pão Naan? Maravilhoso. Feito na hora no forno de barro. Peça com ghee, um tipo de manteiga derretida. E os talheres? Não tem. Nem se acanhe. Pegue um naco de comida e coma com as mãos. É engraçado. De sobremesa, pudim de arroz. No final, vem várias sementes para "refrescar o hálito". Meu guia devorava punhados de anis.

Restaurante Bukhara.

Se quiser comer no olho do furacão, ou seja, na animada Old Delhi, bem ao estilo tradicional experimente o Karim ou o Al-Jawahar, ambos perto do portão de entrada da mesquita Jama Masjid. Não tive a chance de experimentar, fica para a próxima. Muitos guias citam como sendo maravilhosos, além de terem sido citados em vários programas sobre viagem e gastronomia.



Apesar da simpatia das pessoas, comida de rua é difícil de encarar!

Lembre-se que as vacas são sagradas. Se quiser carne escolha entre ovelha, frango ou peixe. Se você for vegetariano, melhor ainda. Vai ficar nas nuvens. Todos os restaurantes tem o cardápio dividido em duas partes: vegetarianos e não-vegetarianso. Pois, por questões religiosas muita gente baniu a carne da dieta. Os animais agradecem.

MAUSOLÉU DE HUMAYUN

Depois do almoço, com as baterias recarregadas, hora de conhecer o Mausoléu de Humayun, mais um dos Patrimônios da Humanidade de Delhi. Humayun foi o segundo imperador mogol, descendente de Gengis Khan e está enterrado ali, no primeiro grande cemitério-jardim mogol do país. O mausoléu serviu como fonte de inspiração para muitos outros, inclusive o Taj Mahal.


Mausoléu de Humayun.

Humayun's Tomb é imponente e belíssimo. Foi construído a pedido da segunda e principal viúva do imperador Haji Begum em 1565, pelo arquiteto Mirak Mirza Ghiyas, quase 15 anos após a morte do seu marido.

A cúpula tem o formato de uma semi-esfera em mármore. 

O complexo é formado por câmaras múltiplas (diferente das câmaras individuais de túmulos anteriores), mesquita e prédios espalhados numa área ampla, com belos jardins. Os jardins são cortados por canais de água e fontes. O túmulo principal foi feito em arenito vermelho, cor mais evidente nas obras de Delhi, e tem ornamentos em mármore preto e branco.

A simetria do mausoléu de Humayun é perfeita.

O túmulo principal fica sobre um plinto, elevado no terreno. A planta é octogonal e de uma simetria exemplar em todos os ângulos. Formado por um hall central, com dois andares, e mais quatro câmaras. Ali estão sepultados, o imperador Humayan, suas esposas e Dara Shikoh (filho de Shah Jahan).

Os sarcófagos de mármore ficam numa plataforma, mas as sepulturas ficam no subsolo.

O valor do ingresso para estrangeiros é de 250 rúpias e para os indianos 10 rúpias. O horário de visitação é das 9 da manhã as 5 da tarde. Espetacular.

AS CORES CHAMAM!

Não dá para resistir ao colorido dos mercados indianos. Não sou uma grande consumidora quando viajo. Mas, na Índia é impossível voltar de mãos abanando. Bolsas, lenços, túnicas, saris com tanta personalidade que não dá para ignorar. Há muitos mercados e bazares pela cidade. O Khan Market ficava pertinho do meu hotel, então aproveitei a proximidade para conhecer a ANOKHI, loja de roupas femininas com padronagens inspiradas na arte mogol. No mais, esse mercado é bem fraco. Por coincidência, na época em que estive na cidade havia um bazar beneficente com renda revertida à um instituto de deficientes visuais. Lá encontrei tudo que mais me encheu os olhos. As bolsas da ANANAYA foram o grande achado. Conversei com a própria dona da loja que vende inclusive para algumas grifes brasileiras. Foram as bolsas mais bonitas que vi no país.

Cores irresistíveis da Índia.

Anote a dica: www.ananaya.com

Endereço: G-42, 2nd floor, Nizamuddin West, Nova Delhi.

Telefone: +91 98733 39455 / +91 11 4182 7782

E-mail: nupur2473@yahoo.com


UMA BABEL RELIGIOSA


A Índia tem muitas religiões. Pelas ruas se sente o cheiro de incenso nos templos hindus, ressoa o chamado para as orações nas mesquitas islâmicas, ecoam mantras budistas, desfilam longas barbas e turbantes siques. E, teoricamente, todos se entendem. A maior parte da população, 82%, é adepta do hinduísmo, os islâmicos representam 12%, os outros 6% se dividem entre budistas, siques, jainistas e cristãos, além de algumas outras minorias de nomes bem incomuns.
À direita hindus e à esquerda muçulmanos.

VISTO

Para entrar no país é preciso de visto. E conseguir esse visto é bem enrolado. Se você pretende entrar apenas uma vez no país, seu visto será Single. Caso você saia e volte, como eu fiz, seu visto será Multiple Entries. Preste atenção a esse detalhe. Diz no site do consulado (indiaconsulat.org.br) que um formulário on-line deve ser preenchido, efetuado um pagamento de taxa e depois tudo deve ser enviado para São Paulo via SEDEX com mais uma taxa para despesas com correio e duas fotos 5x5. Eles também pedem certificado de vacinação contra febre amarela. Além disso, seu passaporte deve ter validade de pelo menos 6 meses. Bem, eu não consegui essa proeza. Precisei enviar uma pessoa à São Paulo para conseguir desenrolar o visto. O consulado da Índia em São Paulo só abre das 8:30 às 9:30 da manhã para receber os documentos e só entrega os vistos de 16:30 até as 17:00hs. Períodos reduzidíssimos. É difícil até conseguir se comunicar pelo telefone para obter informações. Então, não deixe isso para última hora. O bom é que o documento tem validade por 6 meses.

Quem mora no RJ, SP, SC, PR e RS deve solicitar o visto no Consulado da Índia de São Paulo. Os moradores de MG devem ir ao de Belho Horizonte. Pessoas dos outros estados devem solicitar o documento em Brasília.

IDIOMA

A Índia tem vários idiomas oficiais e centenas de dialetos dificílimos para nossa compreensão. A boa notícia é que como colônia britânica eles herdaram o inglês. Mas, não vá pensando que é um inglês fácil de entender, pois o sotaque é bem enrolado. Prepare-se para prestar muita atenção.

MOEDA

Dólar x Rúpias indianas: US$ 1 = 54 rúpias

Conversão para o real: R$ 1 = 26 rúpias

FUSO HORÁRIO

Aqui mais uma estranheza. Eu ainda não tinha ido a um país com fuso horário quebrado. Isso chamou minha atenção. A Índia está a 7 horas e "30 minutos" à nossa frente.

MELHOR ÉPOCA PARA IR

Adorei o mês de novembro. Clima ameno, as monções já tinham ido embora, os dias eram ensolarados, apesar da névoa que sempre está presente no ar. Dizem que de outubro à março é a melhor época. Mas, os hotéis ficam muito cheios durante Natal e final de ano. Portanto, tudo lotado. Imagine que a Índia já é superlotada, em alta temporada então... deve ser terrível. Evite esse período de festas. De junho a setembro é muito quente e muito úmido. Em julho chove torrencialmente devido às monções.

COMO CHEGAR

Fui de Emirates num voo Rio - Dubai - Delhi. São 14 horas até Dubai e depois mais 4 até Delhi. Mas, dá para ir de British, Swiss, Airfrance, Lufthansa...

ONDE FICAR

Minha escolha recaiu sobre um hotel de luxo e que prima pela tranquilidade. Fiquei no Aman. Não poderia ter feito escolha melhor. Os quartos são gigantescos, com piscina aquecida na varanda, banheiros enormes e conjugados com o quarto, decoração caprichadíssima, serviço impecável, bons restaurantes. Amei!!! Se quiser sossego essa é uma ótima opção.

Quartos enormes no hotel Aman.

Piscina aquecida no quarto do hotel Aman.

Um dos restaurantes do hotel Aman - onde é servido o café da manhã.

Se preferir um hotel mais agitado sugiro o ITC. Não conheci os quartos, mas fui almoçar no restaurante Bukhara e visitei o hotel. Ele é enorme e lindo. A área de lazer é muito charmosa e os salões no saguão do hotel são coloridos e bem decorados.

ENFIM...

Delhi é uma capital excêntrica, enigmática e incomparável. Alguns se apaixonam outros ficam chocados. A verdade é que ninguém sai de lá indiferente. Antes da chegada, a única certeza que se pode ter é de que é preciso deixar a frescura ocidental de lado e olhar para Delhi sob um novo prisma. Afinal, são mais de 4 mil anos de história, um legado arquitetônico exuberante, muitos idiomas, várias religiões convivendo em harmonia, o intransponível sistema de castas, cores fortes, cheiro de especiarias no ar, uma cultura milenar. O conjunto da obra é exótico ao extremo. Prepare-se para viver Delhi e você pode se apaixonar... ou não...

Passei três dias inesquecíveis circulando com um guia e um motorista. É pouco tempo. Da próxima vez preciso de pelo menos quatro para ver o que faltou e começar a trilhar Delhi com minhas próprias pernas, sem receio e sem inseguranças. Eu volto!


De lá fui para Agra de carro, com o mesmo motorista e um outro guia.

AGRA

Muita gente faz da cidade apenas um ponto de parada entre Delhi e Jaipur, para ver o Taj Mahal. Eu preferi ficar em Agra três dias e deixar as outras cidades para uma próxima vez. Achava que precisava ir com calma para me ambientar à Índia. Tive o privilégio de ver o sol nascer atrás do Taj Mahal da janela do meu quarto, no Oberoi Amarvilas. Mágico. Estando em Agra, aproveitei para visitar com calma a cidade abandonada de Fatehpur Sikri, a 60 quilômetros. Fui e voltei sem pressa, a tempo de ver o por do sol no Taj Mahal. Perfeito. Passei três dias fantásticos em Agra. Recomendo



Taj Mahal, Agra. 


MINHAS PRÓXIMAS PARADAS (NUMA SEGUNDA VIAGEM À INDIA)

JAIPUR

A uma hora de vôo (cinco de trem, ou seis de carro) de Délhi, onde fica a Cidade Rosa que foi a grande estrela da novela “Caminho das Índias”.

JODHPUR

Seis horas de carro a partir de Jaipur. Onde fica o bairro brâmane com casas azuis.

JAISALMER

Lugar considerado imperdível no Rajastão. Jaisalmer é uma cidade murada no meio do deserto, quatro horas de carro ao norte de Jodhpur.

UDAIPUR

À beira de um lago, fica a cinco horas ao sul de Jodhpur.

VARANASI

A cidade sagrada dos hindus, com seus incríveis rituais no Ganges ao amanhecer, está a uma hora de voo de Delhi.

KHAJURAHO

Com templos adornados por entalhes eróticos.

Até breve com os relatos de Agra e Fatehpur Sikri. Espero vocês!

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