AS TARDES DE DOMINGO
Este é só mais um texto sobre as tardes de domingo. As tardes de domingo de uma cidadã solteira. Avulsa mesmo. Sozinha. Em casa. Mora sozinha. Almoça sozinha nos finais de semana. Dorme sozinha. Acorda sozinha no domingo com a cara borrada de maquiagem da noite anterior. Viaja sozinha. Dirige sozinha pela estrada. Dança sozinha em casa com o som alto. Chora sozinha. Uma cidadã que está cansada de todos acharem que ela é uma super-mulher. E ela se sentir uma menina ainda. Carente. Intensa. Que quer abraçar o mundo. Que tem preguiça profunda de gente que mente. De gente que se entrega pela metade.
E a cidadã enfrenta mais uma tarde de domingo daquelas que não se tem nada pra fazer. Ninguém pra quem ela gostaria de ligar. Seu celular toca uma vez. END. Toca duas. END. Toca três. END mortal. E ela começa a colecionar números. Sete cidadãos ligando no mesmo final de semana. Seis ENDs. 160 contatos no MSN. 32 bloqueados. Alguns scraps com cantadas baratas no orkut. 492 amigos. Zero sentido nisso tudo.
A cidadã-super-mulher-de-uma-figa é metida a entender os homens. Mas não entende nem sobre si mesma. Não entende como consegue não se apaixonar pelo vizinho que lhe mandou uma cesta de café-da-manhã porque a viu uma única vez na vida. Uma cesta deliciosa com um bilhete mais do que gentil. Um convite pra sair que nunca saiu do papel. Ou porque ela não se apaixonou por aquele cara que cozinhava quando ela tinha preguiça de sair pra almoçar. E a recebia em casa com taças de champagne na mão e um sorriso no rosto.
E ela não entende o que leva um cidadão a convidá-la pra sair. Buscá-la em casa num carro importado que vale mais do que seu apartamento. Levá-la ao melhor restaurante. Ser um gentleman. Pagar a conta. Abrir (e fechar!) a porta do carro. Depois sumir. Aparecer novamente. Sumir. Aparecer novamente. A cidadã simplesmente não entende porque ele não some de vez.
A cidadã-filósofa-barata-de-merda entende é que os homens fazem tudo errado. Que não adianta abrir a porta do carro, se ele não abre o coração. Que não adianta mandar flores, se ele não manda no rumo da sua vida. Que não adianta convidar pra sair, se ele não a convida pra fazer parte da vida dele. Que não adianta passar a noite se, no dia seguinte, ele some sem dar notícias. Que não adianta pagar a conta se o que ela quer mesmo não tem preço.
E a tarde de domingo vai chegando ao fim. Aquele gosto azedo de segunda-feira no ar. Pra começar tudo de novo. Sozinha. De saco cheio de promessas baratas. De bocas aleatórias. De pessoas que nada sabem a seu respeito. De carinho com muita mão e pouco sentimento. De músculos fortes e cabeça fraca. De agenda cheia e vida vazia. Uma cidadã sem saco pra joguinhos. Que fala o que pensa. O que sente. Que não passa vontade. Mas que, às vezes, não liga pro único cidadão que ela quer por puro medo de ser mal interpretada. Por puro medo de dar tudo errado. Essa cidadã acha que controla o futuro, mas morre de medo dele. E não controla a própria vida. Muito menos os próprios sentimentos. E lá vai ela começar tudo de novo. Com aquela pose de super-mulher. Aquela barriga dura e aquele coração mole.
http://www.ateondevai.com/2006/05/este-s-mais-um-texto-sobre-as-tardes.html
A ressaca...Nas estradas a volta de um fim de domingo...Ufa!
Cambicho de domingo
A última estrela ainda brilha
Para o lado do horizonte
E antes que o sol desponte
Já estou de pé no galpão
Acendo o fogo de chão
Bem à moda missioneira
Com a água da chaleira
Preparo o meu chimarrão
Enquanto cevo o meu mate
Vou planejando meu dia
Hoje é dia de folia
Fim de semana aguardado
Já juntei alguns trocados
Com o trabalho da semana
Vou gastar toda essa grana
Com as prendas do povoado
Para um guri da campanha
É assim todo domingo
Quando vejo vou saindo
Para um rumo diferente
Não tem frio, nem tempo quente
Para isso me aprumo
O meu pingo sabe o rumo
Do cambixo do vivente
À noite volto pra o rancho
Faceiro, porém cansado
Mas deixando meu recado
Para as meninas do povo
Foi um domingo gostoso
Aguardem que outra semana
Assim que juntar mais grana
Eu aqui volto de novo
Publicado no site: O Melhor da Web em 02/11/2011
Código do Texto: 84900
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