Poucas paredes, arte e o Cristo Redentor
Um ‘apartamento galeria’ by Dado Castello Branco
21/10/2012 | POR PAULA PORFÍRIO PAIVA; FOTOS FILIPPO BAMBERGHI
O Cristo Redentor era presença eventual no apartamento, visto de relance vez ou outra. Agora, estende os braços em asa sobre os 14 m de extensão do ambiente que agrega living, jantar e um lounge sem paredes. No máximo, um painel de madeira ripada se ergue no entres salas, em uma sutilíssima divisão. O abre-alas se deu por obra do arquiteto paulistano Dado Castello Branco, que já havia feito os escritórios do casal no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quando o apartamento de 450 m² foi comprado, Dado já tinha se tornado próximo dos moradores, ambos colecionadores de arte, o que fez da reforma uma feliz ação entre amigos.
Com as mudanças, a luz pode entrar à vontade. Ou quase. Painéis automáticos de tela descem nos horários de maior insolação. Tudo somado, o espaço é tão harmônico que ninguém diria que envolveu um desafio: boa iluminação natural significou menos paredes. E, com menos paredes, onde dispor as obras que se sucederiam profusas, instigantes, em escalas variadas de tamanho? “Tenho clientes colecionadores, estou acostumado”, conta o arquiteto. Mas admite: “Não é fácil ganhar luz, ganhar vista e ainda ter paredes”.
Não fossem mãos habilidosas, o espaço correria o risco de assumir ares de galeria. O fundo neutro, a começar pelo mármore travertino navona em todo o piso, permitiu que os olhos deslizassem de Frans Krajcberg a Vik Muniz, de Nazareth Pacheco a Daniel Senise, detendo-se nas fotos de Miguel Rio Branco ou nos relevos de Joaquim Tenreiro. Entre as obras, dispõem-se, silenciosos, sofás e poltronas claros, sem estampas, cumprindo o que se espera: design de qualidade e ergonômico para acomodar o corpo como se deve.
Os outros cômodos rezam pela mesma cartilha, unindo conforto e arte, do escritório-biblioteca ao quarto principal. Ainda neste ano, chega o primeiro bebê do casal, e Dado já está a todo vapor, preparando o espaço da garotinha, que certamente vai saber quem é Leda Catunda e Nelson Leirner antes de ouvir falar em Pero Vaz de Caminha ou Pedro Álvares Cabral.
Alguns truques foram essenciais para criar o clima contemporâneo e acolhedor na medida certa, como ocultar a pequena janela que dava para um prédio lateral, “a um metro da sala”, exagera o arquiteto, que fechou a indesejável abertura (mantendo, naturalmente, os caixilhos na área externa) e ainda instalou sobre o fechamento um díptico de Beatriz Milhazes. A saída não poderia ter sido mais honrosa e criativa.
A iluminação do apartamento, item essencial ao espaço de qualquer colecionador que se preze, teve projeto de Maneco Quinderé. Suas intervenções ajudaram a transformar o hall, antes acanhado e escuro, em área nobre, indicando ao visitante que a seguir virão novas surpresas e não apenas na forma de obra de arte. Uma delas é o lounge criado pelo arquiteto junto à mesa de jantar. É ali que o casal se aconchega após o café da manhã, rodeado pelo design feito também para ser saboreado com os olhos, como a poltrona de Joaquim Tenreiro que ganhou do arquiteto particular predileção. “Ela é pequena, baixa, uma gracinha”, derrete-se Dado sobre a peça do mestre. Lá fora, a vista do Cristo e da Lagoa completa a cena.
* Matéria publicada em Casa Vogue #326 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)
http://casavogue.globo.com/Interiores/noticia/2012/10/apartamento-lagoa-dado-castello-branco.html
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