Na Grécia, tochas eram usadas em homenagens à deusa Atena
Uma tradição desde a antiguidade que as Olimpíada moderna manteve
Atriz representa papel de sacerdotisa em cerimônia para a qual a chama olímpica nasce dois raios do sol em santuário de Olímpia, para os Jogos de Atenas-2004 - Aris MESSINIS / AFP
A chama acompanha os Jogos Olímpicos desde a antiguidade. Mas, curiosamente, a Grécia antiga jamais organizou uma competição antecedida pelo revezamento de tochas, como ocorre na Era Moderna desde Berlim, em 1936.
Segundo a mitologia grega, o primeiro portador da chama foi o titã Prometeu, que roubou o fogo de Zeus para entregá-lo à humanidade. Zeus era o patriarca dos deuses do Olimpo. Como vingança, ele acorrentou Prometeu ao Monte Cáucaso, onde deveria permanecer por 30 mil anos. Como parte do castigo, Zeus enviava uma águia todos os dias para bicar o fígado de Prometeu. O titã acabou sendo libertado por Hércules.
O mito fez com que o fogo ganhasse status de elemento sagrado, e esta é a razão pela qual tochas eram mantidas acesas nos templos. Em Olímpia, onde eram disputadas as Olimpíadas da Antiguidade, uma chama ficava acesa, e sacrifícios eram feitos em honra a Zeus, no templo de Hera. O competidor que ganhasse uma corrida até o local onde se encontravam os sacerdotes recebia como prêmio o direito de transportar a tocha, e acender a chama do altar do sacrifício.
Embora não houvesse um revezamento de tochas nas Olimpíadas da Antiguidade, que começaram em 776 a.C., a troca de condutores ocorria em festas religiosas, principalmente nos eventos em homenagem a deusa Atena, quando havia corridas de revezamento com o objeto. As provas cobriam um percurso de mil metros, entre a muralha da Acrópole e o altar de Prometeu. Os competidores se posicionavam em cinco grupos de 40 pessoas, cada um.
“Postados a uma distância de 25 metros um do outro, o desafio era correr com uma tocha acesa e passá-la ao companheiro de revezamento sem que ela se apagasse. A vitória pertencia ao grupo cujo último corredor chegasse primeiro ao altar com a tocha acesa”, explica o estudo do Departamento de Linguística, disciplina de Língua e Literatura Grega da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, de Araraquara (SP).
Nas Olimpíadas modernas, o uso de tocha foi retomado nos Jogos de Amsterdã (1928). Mas, só em 1936 (Berlim), as chamas usadas na pira olímpica começaram a vir da Grécia. A cerimônia de acendimento atual conta com atrizes vestidas de sacerdotisas gregas, numa tentativa de reproduzir as cerimônias da antiguidade.
A BUSCA PELA CHAMA PURA
A chama é acesa em frente às ruínas do templo de Hera. O objetivo é obter uma chama considerada “pura”. Uma “sacerdotisa” coloca uma tocha num espelho parabólico que concentra raios de luz do sol até que as chamas sejam acesas, anunciando a realização de uma nova edição das Olimpíadas. As demais chamas são colocadas em lanternas.
Em seguida, a chama é transferida para uma urna, que é levada até o local do antigo estádio. Aí, a chama é usada para acender a tocha olímpica, transportada pelo atleta no primeiro percurso da estafeta, que conduzirá a chama ao longo do trajeto até o estádio onde se realizam os Jogos.
O francês Pierre de Frédy (1863-1937), conhecido como Barão de Coubertin, entrou para a história ao conceber os princípios dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, participando da organização da primeira edição em Atenas (1896). Mas na história do movimento olímpico moderno existem muitos outros personagens que ajudaram a transformar o evento num grande espetáculo, como a cerimônia de revezamento da tocha. Os conceitos para a criação do revezamento têm vários responsáveis. Entre esses personagens, encontram-se o arquiteto holandês Jan Wills (1891-1972) e o alemão Carl Diem (1882-1962).
Ao conceber o estádio olímpico de Amsterdã (em funcionamento até hoje) para as Olimpíadas de 1928, Wills resolveu construir a pira para manter uma chama acesa em referência ao evento. A pira também foi desenhada por ele, tendo sido acesa na cerimônia de abertura e apagada no encerramento da festa. Na época, um funcionário da empresa de eletricidade de Amsterdã foi até Olímpia buscar a chama para acendê-la no estádio.
ACENDIMENTO DA TOCHA
Ainda não havia um programa de revezamento da tocha. Em 1932, durante os Jogos de Los Angeles, uma tocha também foi acesa no Estádio Olímpico, mas seguindo a mesma concepção da edição de Amsterdã. No encerramento, foi lembrada uma citação do Barão de Coubertin: “Que a tocha olímpica siga o seu curso através dos tempos para o bem da humanidade cada vez mais ardente, corajosa e pura”.
Os conceitos atuais, com algumas modificações nas edições futuras, só seriam introduzidos a partir dos Jogos Olímpicos realizados em Berlim (1936). E a ideia do revezamento tem sido atribuída, por boa parte dos historiadores, a Diem, na época secretário-geral do comitê de organização do evento. Existe uma corrente, no entanto, que afirma que a ideia surgiu de políticos da Alemanha nazista, como forma de propaganda política, e que Diem apenas executou o plano.
De qualquer forma, em 1936, o revezamento se revelou um verdadeiro desafio devido às limitações técnicas da época: como transportar o “fogo sagrado” por milhares de quilômetros da Grécia à Alemanha, sem que se apagasse? Surgiu, então, a ideia de fazer uma tocha de aço inoxidável e combustível a base de magnésio, que só ardia por, no máximo, dez minutos.
PLANO B PARA CÉU NUBLADO
Ao todo, mais de 3 mil condutores participaram do revezamento, num percurso de 3.422 quilômetros. Entre a Grécia e a Alemanha, passou por Bulgária, as antigas Tchecoslováquia e Iugoslávia, Hungria e Áustria. Naquele ano, também foi realizada na Alemanha uma edição dos Jogos Olímpicos de Inverno, com tocha, mas sem revezamento. Na época, as Olimpíadas de Inverno não ocorriam em datas intercaladas com os Jogos de Verão, a cada dois anos, como ocorre hoje.
A tradição de sempre acender a chama olímpica na Grécia só se aplica para os Jogos de Verão. Em caso do tempo estar nublado ou chuvoso no dia do evento, usa-se uma “chama reserva”, coletada dias antes.
Depois de 1936, o rodízio da tocha só voltaria a ocorrer em Londres (1948), na primeira edição depois da Segunda Guerra Mundial. O evento teve uma homenagem ao Barão de Coubertin. No caminho da Grécia para o Reino Unido, a tocha passou pelo cemitério onde o criador das Olimpíadas modernas está enterrado, em Lausanne (Suíça). Em 1952 (Helsinque), a tocha viajou de avião pela primeira vez.
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... idealizada e feita pelos atenienses em homenagem à deusa Atenas (protetora da cidade). Em 2007, foi eleita como uma das Sete Novas Maravilhas do Mundo.
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