Violência doméstica mata muito, muito mais do que guerras
De acordo com uma nova pesquisa da Universidade de Stanford (EUA) em conjunto com a Universidade de Oxford (Inglaterra), a violência doméstica mata muito mais pessoas do que as guerras civis em todo o mundo.
O estudo, feito pelo cientista político James Fearon em parceria com Anke Hoeffler, que o custo econômico e social de toda a violência no mundo é de cerca de US$ 9,5 trilhões por ano (cerca de R$ 22,5 trilhões), o equivalente a 11,2% do produto interno bruto mundial.
Os dados foram produzidos usando os índices de criminalidade em países em desenvolvimento e os custos econômicos e sociais de diferentes tipos de crimes violentos nos EUA para produzir estimativas aproximadas.
Em seguida, eles compararam essas estimativas com os custos econômicos e sociais de guerras civis no mundo todo.
Problema muito maior
A conclusão é que a prevalência de homicídios, violência por parceiro íntimo e abuso infantil é muito maior do que a prevalência da violência e danos devido a guerras civis, portanto as formas mais domésticas de violência são um problema muito maior a partir da perspectiva do bem-estar humano.
Usando as melhores estimativas disponíveis, o relatório afirma que, nos últimos anos, o número global de homicídios foi de oito a nove vezes maior que o número global de mortes em combate em guerras civis por ano.
“Achamos que ambas as estimativas (em 2008, cerca de 420 mil homicídios contra cerca de 49 mil mortes em combate) são provavelmente baixas. Os homicídios são subnotificados significativamente em muitos países em desenvolvimento, e as estimativas de mortalidade de batalha não costumam incluir outras mortes que são menos diretamente causadas pela violência da guerra civil. É difícil dizer se melhores estimativas tornariam essa proporção maior ou menor, mas o nosso melhor palpite é que não iria mudar radicalmente”, explica Fearon.
As guerras civis podem ser terrivelmente letais e destrutivas, mas estão concentradas em um número relativamente pequeno de países e geralmente em pequenas partes desses países. Por outro lado, cerca de um em três países tem uma taxa de homicídios superior a 10 por 100 mil habitantes, o que a Organização Mundial de Saúde considera um nível epidêmico. O abuso físico grave de crianças e mulheres é definitivamente muito mais comum do que 10 por 100 mil em um número muito grande de países.
De acordo com os cientistas, em países de baixa renda, cerca de 15% das crianças são regularmente sujeitas a disciplina física grave, o que significa ser atingida na cabeça, rosto ou orelhas repetidamente ou batidas com algum objeto.
Além disso, globalmente, cerca de 30% das mulheres com idade acima de 15 anos sofrem violência por parceiro íntimo em algum momento de suas vidas. Ainda outras formas de agressão ocorrem em diferentes partes do mundo, como casamento precoce, que pode ser considerado uma forma de violência contra as mulheres por causa de efeitos negativos de saúde documentados, altos índices de abuso sexual e mutilação genital feminina.
Como resolver o problema?
Segundo o relatório, houve alguns momentos terríveis na história quando a violência coletiva certamente superou a violência interpessoal como durante a Segunda Guerra Mundial mas, desde então, por uma série de razões, a guerra entre países tem grandemente diminuído. Nos últimos 20 anos, mesmo a violência da guerra civil diminuiu um pouco, embora com um pequeno aumento recente devido aos conflitos no Oriente Médio.
Se o problema da violência doméstica é pior, como enfrentá-lo?
No estudo, Fearon e Hoeffler fazem sugestões como aumentar a confiança na polícia em países de baixa renda, nos quais ela é muitas vezes ineficaz e abusiva, ou está em conluio com as próprias redes criminosas. “A reforma e profissionalização das forças policiais é algo que tanto doadores internacionais quanto os governos dos países em desenvolvimento devem dedicar mais esforços”, aconselha Fearon.
Para os países de alta renda, diversos programas que visam a redução da criminalidade nas comunidades, incluindo a violência doméstica, têm funcionado. Uma avaliação da eficácia de cada um pode mostrar a melhor estratégia. No entanto, quase não há paralelo para países de baixa renda, e há razões para se pensar que os programas e abordagens que funcionam em um país de alta renda podem não funcionar para países de baixa renda. “Valeria a pena considerar um foco na identificação, financiamento e avaliação de diferentes ideias para programas comunitários destinados a reduzir a violência em países de baixa renda”, argumenta o cientista político.
Finalmente, grandes mudanças podem ser provocadas por movimentos sociais. A ajuda internacional tem financiado organizações de sociedade civil voltadas para o aumento da democracia e melhoria da governação a nível local, e essa ajuda tem de fato melhorado os números da violência da guerra civil. Por que não fazer o mesmo com a violência doméstica? [MedicalXpress]
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