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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Por que a ciência possui credibilidade?

POR QUE A CIÊNCIA POSSUI CREDIBILIDADE?
Como vimos no artigo da semana passada, Karl Popper proporciona através de seu Racionalismo Crítico um dos mais sólidos pilares para solucionar o problema da demarcação em Filosofia da Ciência, ou seja, distinguir o científico do não científico. E a essência dessa distinção está em seu célebre princípio da falseabilidade.
Em síntese, todo o conceito para ser considerado científico deve admitir em seu próprio enunciado a possibilidade de ser refutado.
Com isso a ciência resolveu um dos grandes impasses que é o argumento de autoridade. Por não atender o princípio da falseabilidade todo argumento de autoridade não é considerado científico.
Além disso, Karl Popper propõe uma solução para outra questão em Filosofia da Ciência que é o problema de indução, que procuraremos tratar de forma sucinta nesse artigo,  sem a pretensão de esgotar o tema.
O método indutivo, ou indução empírica, é o raciocínio que, após considerar um número suficiente de casos particulares por meio da observação, conclui uma verdade geral.
Parte da experiência sensível, dos dados particulares para chegar-se à generalização.
Típico das ciências naturais a indução também aparece na Matemática por intermédio da Estatística, na qual as características de alguns componentes de um conjunto são utilizadas para caracterizar todo o conjunto, estabelecendo-se aí maior ou menor grau de probabilidade quanto maior for o universo de dados que possam ser utilizados na construção desse modelo. Em outras palavras, já que tantos se comportam de tal forma, é muito provável que todos se comportem assim.
Em função deste “salto” do particular ao geral, existe uma grande possibilidade de erro nos raciocínios indutivos, uma vez que basta encontrarmos uma exceção para invalidar a regra geral.
Por outro lado, é esse mesmo “salto” em direção ao provável que torna possível a descoberta, a inovação, a proposta de novos modos de compreender o mundo, bem como a generalização, tão útil em efetuar previsões de cenários futuros.
Aliás, o ser humano adora generalizações. Por isso o cuidado que se deve ter com a indução.
Vejamos a alguns exemplos:
Exemplo 1 – Amostragem
Retirando uma amostra de uma saca de arroz que foi previamente sacudida e revirada para que ficasse com composição homogênea, observou-se que aproximadamente 95% dos grãos são do tipo extrafino. Conclui-se, então, que a saca de arroz é do tipo extrafino.
Exemplo 2- Pesquisa Eleitoral
Através da amostragem de eleitores realiza-se uma pesquisa, que aponta a tendência de votação, simulando os resultados que se obteria no dia da eleição.
É evidente que a validade dos resultados dependerá da representatividade da amostra e da correta aplicação dos métodos estatísticos.
No primeiro caso poderemos encontrar alguns grãos de arroz que não se encaixam no padrão “arroz extrafino” e a pesquisa em boca de urna poderá prever como ganhador o candidato errado, embora também seja possível retirar muitos quilos de arroz que se encaixem no padrão, bem como acertar os resultados da eleição.
As conclusões obtidas por intermédio do método indutivo correspondem a uma verdade que não está contida nas premissas consideradas como hipóteses, por essa razão chega-se a conclusões que são apenas prováveis, porém muito mais gerais do que o conteúdo das hipóteses iniciais. Isso é bom ou é ruim?
O problema da indução é, portanto, proposto por uma questão filosófica que pode ser assim enunciada:
O raciocínio indutivo, ou seja, a generalização, leva ao conhecimento?
Será que afirmar acerca de todos, aquilo que foi possível observar apenas em alguns não produziria muito mais erros do que acertos?
O problema põe em evidência todas as reivindicações empíricas feitas na vida cotidiana ou por intermédio do método científico.
Assim, Popper, propõe uma solução simples ao problema da indução, que é justamente embutir em toda a afirmação científica o princípio da falseabilidade.
Em outras palavras não aceitar com credulidade qualquer generalização. Deve-se buscar pela observação e/ou experimentação pelo menos um caso que refute a afirmação e evidentemente isso obrigue a reformulação da afirmação ou a busca de novas hipóteses.
Por exemplo, ao assistir um programa do canal de compras encontramos:
“Compre o nosso chá emagrecedor! É um produto natural! Logo não faz mal à saúde!”
É fácil observar a indução: ar, alimentos e água são produtos naturais e fazem bem para saúde.
Consequentemente todos os produtos naturais fazem bem para a saúde!
Agora, aplicando o princípio da falseabilidade de Popper:
Basta encontrarmos apenas um produto natural que faça mal para a saúde que a generalização foi falseada e o problema da indução foi resolvido.
De fato: só no nosso jardim poderemos encontrar algumas plantinhas tóxicas que põe por terra o argumento do chá emagrecedor. Afinal, nem tudo que é natural faz bem para a saúde.
Como vimos anteriormente, esse princípio de falseabilidade proposto por Popper é o principal motor do Racionalismo Crítico e um dos mais sólidos pilares para a demarcação entre ciência e não ciência.
E por que é tão importante essa demarcação?
Por que a ciência possui credibilidade?
E é justamente dessa credibilidade que muitos “vendedores de chás milagrosos” querem se valer, quando procuram revestir com o manto do cientificismo suas artimanhas para explorar a ignorância e a boa fé alheias?
A meu ver, esse não é o principal foco da questão.
Essa demarcação entre ciência e não ciência é fundamental para protegermos a principal conquista histórica que temos contra o obscurantismo e a impostura: que é o pensamento crítico.
Nas palavras de Carl Sagan:
“Queremos buscar a verdade, não importa aonde ela nos leve. Mas para encontrá-la, precisaremos tanto de imaginação quanto de ceticismo. Não teremos medo de fazer especulações, mas teremos o cuidado de distinguir a especulação do fato”.

http://hypescience.com/karl-popper-e-o-problema-da-inducao/

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