Burt Lancaster, o acrobata de Hollywood que alcançou a eternidade
Um físico prodigioso, um sorriso brilhante e uma dicção impecável transformaram um trapezista de circo em uma das maiores estrelas do cinema clássico americano. Sua carreira foi um fulgurante caminho rumo ao sucesso, seu nome: Burt Lancaster, uma lenda que neste sábado teria completado 100 anos.
Destinado a brilhar por um caminho próprio, Lancaster nasceu no Spanish Harlem de Nova York, no seio de uma família humilde. No entanto, sua paixão pelo esporte o levaria à universidade, que abandonaria mais tarde quando os trapézios cruzaram sua vida.
Amante das peripécias, dos riscos e da adrenalina, se transformou em acrobata de circo. No entanto, uma lesão na mão lhe obrigaria a deixar essa "grande vida", segundo confessou em uma ocasião.
Deprimido por abandonar o sonho de sua juventude, começou a fazer pequenos trabalhos, mas com um físico espetacular (media 1,85 metros) um cabelo comprido dourado e um encantador sorriso foi só questão de tempo até que alguém lhe descobrisse para o espetáculo.
Seu primeiro trabalho como intérprete foi em uma peça teatral de Broadway, "A Sound of Hunting". Um rotundo fracasso, já que se manteve apenas três semanas em cartaz, mas que lhe serviu para abrir uma brecha na indústria do cinema.
Seu primeiro papel em um filme já lhe garantiu um sucesso incondicional. Junto com Ava Gadner protagonizou "Os Assassinos" (1946), que obteve quatro indicações ao Oscar, entre elas melhor diretor e trilha sonora original.
A partir deste momento sua carreira foi meteórica. Com papéis principais em filmes como "O Gavião e a Flecha" (1950) e "O Pirata Sangrento" (1952), Lancaster se tornou uma referência do cinema de aventuras da década de 1950.
Seu papel de homem rude se encaixava perfeitamente com sua personalidade, sempre tachada, por cineastas e colegas, de violenta e difícil de conduzir, mas foram seus saltos e acrobacias que lhe levaram direto até o tapete vermelho.
No entanto, pouco a pouco o artista teve a necessidade de superar a si mesmo e aceitou papéis cada vez mais complexos dramaticamente.
Lancaster se transformou na primeira "estrela" independente com sua própria produtora, rompendo com as amarras dos estudos, algo que não tinha sido sequer concebido anteriormente.
O ícone do cinema clássico americano estampou sua atlética figura nos anais da sétima arte ao protagonizar uma das cenas mais tórridas da cinematografia do século 20 em "A Um Passo da Eternidade" (1953).
A cena do beijo nas areias do Havaí ao lado da atriz Deborah Kerr lhe valeu sua primeira indicação ao Oscar, concorrendo por uma estatueta de melhor ator.
No entanto, o reconhecimento da Academia só viria em 1960, por sua atuação em "Entre Deus e o Pecado". O papel foi "fácil", disse em uma ocasião, já que interpretava a si mesmo na tela, um charlatão, farsante apaixonado pelas mulheres e pelo uísque.
Voando solitário como uma águia, Lancaster alcançou os papéis mais elevados de sua carreira: "O Homem de Alcatraz" (1962), "O Leopardo" (1963), que considerava como sua melhor atuação, e "Atlantic City" (1980).
Rebelde, idealista e revolucionário; comprometido com as causas sociais e políticas, era comum ver o nova-iorquino liderando manifestações em favor das minorias raciais e da igualdade sexual.
Além disso, protestou energicamente contra as guerras e as intrigas políticas em filmes como "Assassinato de um Presidente" (1973) e "O Último Brilho do Crepúsculo" (1977).
Casado três vezes e pai de cinco filhos, Lancaster morreu em 20 de outubro de 1994, aos 80 anos em Los Angeles, vítima de um infarto. Condenado a uma cadeira de rodas e mudo três anos antes, morreu sem deixar que nenhum conhecido se despedisse pessoalmente dele.
"Desejo que lembrem de mim como me conheceram e não que vejam no que me transformei", disse através de uma mensagem a seus amigos.
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