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Corcovado ou Cristo Redentor, lindo !!!

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Ouro Preto, MG: O Barroco mineiro e a Inconfidência de Minas.

Ouro Preto, MG: O Barroco mineiro e a Inconfidência de Minas

AGO 21, 2008

Uma pedrinha preta e um oratório foram a origem mais remota do barroco mineiro 
O Pôr-do-Sol no dia 15 de Agosto de 2008 - Uma breve visita a Ouro Preto
Todas as artes expressas em cada obra arquitetônica

Uma pedrinha preta e um oratório foram a origem mais remota do barroco mineiro 

OS oratórios eram trazidos em lombos de burros pelos bandeirantes. Uma pedrinha preta e não as tão almejadas verdes foi a única encontrada pelos caçadores de esmeraldas. Na rota das esmeraldas as pedras verdes jamais foram de fato encontradas, mas aquela primeira pedrinha preta que escondia o ouro sob uma camada de óxido de ferro que lhe conferia o feio aspecto guardava em seu interior o que viria a ser a Serra Pelada dos anos 1.700. E assim tudo começou.
Os sobrados geminados, marca registrada do urbanismo ouropretano: português na origem

NÃO se sabe ao certo quem descobriu a primeira pedrinha de ouro, mas corriam os anos entre 1693 e 1698, quando a expedição comandada por Duarte Lopes seguia as linhas tortuosas das encostas das montanhas de Minas. Algum dos anônimos homens de sua tropa descobriu as pedrinhas escuras nas margens do Rio Tripuí.

Nos detalhes das sacadas, o colonial mineiro enche os olhos

VISITAR Ouro Preto é experimentar uma sensível carga de energia que vem dos becos, das pedras do calçamento, dos sobrados, das igrejas e dos chafarizes. Parecem ainda espreitar-nos os escravos em cada beco. Esta linda cidade setecentista encravada nas encostas das montanhas de Minas é fascinante por sua monumentalidade, por sua riquíssima história viva em cada esquina, por vezes romântica quando vive-se o amor de Marília de Dirceu, por vezes cruel, quando conhecem-se as senzalas e as estreitas minas onde apenas os escravos conseguiam penetrar.
O Museu da Inconfidência e a Igreja do Carmo

FOI o ouro que deu à Capitania de Minas Gerais sua fisionomia e sua personalidade social, cultural, religiosa, arquitetônica e artística. Se não fosse o tumulto aventureiro em busca de riqueza não haveriam igrejas e capelas, palácios e esculturas, retábulos e tamanho esplendor artístico. Do ouro, e pelo ouro, fez-se Vila Rica. E nela o barroco-rococó importado de Portugal e amineirado por Aleijadinho e por Manuel da Costa Athaíde  o Mestre Ataíde o último grande mestre da pintura barroca brasileira. Também deixaram belíssimos e requintadíssimos trabalhos Manuel Rebelo e Souza, Bernardo Pires, João Nepomuceno Correia e Castro e tantos outros mineiros e portugueses que tornaram a Arte Barroca Mineira um acervo artístico de incomparável plenitude e a mais profunda manifestação cultural que se pode chamar de genuinamente brasileira.

Telhados e sacadas, portadas e janelas

O Mestre Athaíde e o genial Aleijadinho - este filho de uma escrava com um português representam o coroamento da maior manifestação do barroco na pintura e na escultura brasileiras, ambos com obras magistrais espalhadas pela região de Ouro Preto e demais cidades do Ciclo do Ouro. Entre elas o monumental Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, com sua série de grandes grupos escultóricos nas capelas das estações da Via Crucis e os célebres Doze Profetas, no adro daquela igreja, obras máximas do Aleijadinho.
Ouro Preto surpreende até nas sombras

ESTA tão grandiosa expressão levou o francês Germain Bazin a escrever alguns dos melhores tratados sobre a arquitetura religiosa barroca brasileira em obras como “A Arquitetura religiosa barroca no Brasil” e “O Aleijadinho e a escultura barroca no Brasil” (Rio de Janeiro: Record, 1963)

“A somática dos personagens do Aleijadinho, que já vimos em relação à talha, responde a esse sentido de energia: corpos atarracados, músculos vigorosos, cabeças viris, olhares arrogantes, mãos e pés largos, o que em parte alguma se exprime melhor que nos brasões dos estigmas de Ouro Preto e de São João del-Rei. A arte ornamental está tão afastada do estilo afetado do Alentejo e de Lisboa como do lirismo anárquico do Minho-Douro. A inspiração artística é um ato de desdobramento. O Criador faz seu aquilo que ele representa. Explica-se não ser sempre necessário a um artista crer para ser um artista cristão”. Germain Bazin
Obra prima de Aleijadinho, obra prima do Barroco mineiro: a Capela de São Francisco de Assis

“Ouro branco! Ouro preto! Ouro podre!
De cada ribeirão trepidante e de cada recosto
De montanha o metal rolou na cascalhada
Para fausto d’El-Rei: para a glória do imposto
Que restou do esplendor de outrora? Quase nada:
pedras....templos que são fantasmas ao sol-posto."

Manoel Bandeira - Ouro Preto - Lira dos 50 anos

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O século do ouro

A descoberta das lavras de ouro ocorreu nas Minas Gerais no final do século XVII e começo do XVIII. Os portugueses já acreditavam, nos primórdios da colonização, que o Brasil tinha ouro e pedras preciosas, além de Pau Brasil. Foram necessários dois séculos de ocupação para que essa riqueza começasse a ser encontrada.

Os pés-de-moleque e pedras de mão: o calçamento da antiga Vila Rica parece querer contar histórias

ATÉ o final do século XVII a área correspondente a Minas Gerais tinha sido ignorada pelos portugueses, que limitavam-se a permanecer na costa. Todavia, com a descoberta do ouro pelos bandeirantes paulistas na região de Ouro Preto, esta situação mudou e a até então desprezada região foi invadida por aventureiros à procura de riquezas que só o ouro poderia proporcionar em tão curto espaço de tempo. A região tornou-se a Serra Pelada dos anos 700. Sendo o ouro de Minas de aluvião, facilmente encontrável e espalhado por ampla área todos podiam minerar e rapidamente enriquecer.
Umas "seguram" as outras em completa harmonia, cada qual com sua personalidade 

OS portugueses, atraídos pela riqueza migraram para Minas Gerais na primeira década do Setecentos e logo a coroa portuguesa estabeleceu a Capitania das Minas Gerais, instalada em 1721, cuja chamava-se Vila Rica do Pilar.

Ouro Preto escala as vertentes das montanhas de Minas

O extrativismo que caracterizava a economia colonial até então começou a deixar de ser um mero tráfico de pau-brasil para transformar-se lentamente numa exploração racional da terra, através da implantação dos engenhos de açúcar e das lavouras de tabaco que se desenvolveram predominantemente no litoral do Nordeste. Foi durante este período de progresso econômico limitado que os portugueses começaram a estimular que os bandeirantes paulistas desbravassem o sertão em busca do ouro e da esmeralda.
Da janela lateral, do quarto de dormir.... República Corsário, onde morou Beto Guedes

Lendas e mistérios parecem escondidos nos becos e ladeiras

O Padre André João Antonil (1), que escreveu o clássico “Cultura e Opulência no Brasil”, relatou que um mulato que teria acompanhado uma bandeira paulista, tendo sido o primeiro a encontrar ouro no Cerro Tripuí, em Minas Gerais. Segundo seu relato eram “granitos cor de aço” que foram vendidos em Taubaté por qualquer preço, sem de fato saber que sob aquelas pedrinhas pretas havia ouro. Algumas amostras chegaram ao governador do Rio de Janeiro, Arthur de Sá, ocasião em que verificou-se trata-se de “ouro puríssimo”. Alguns historiadores citam Antônio Rodrigues Arzão, que por volta de 1693 teria garimpado uma grande lavra, e depois um concunhado seu o fez também em Itaverava.

A República Corsário e a Ponte e Marília (de Dirceu)

(1) Giovanni Antonio foi um jesuíta que nasceu em Lucca, na Toscana, Itália, que adotou o nome André João Antonil. Formado em Direito Civil pela Universidade de Perúgia, aos dezoito anos, em maio de 1667, ingressou na Companhia de Jesus, em Roma, lecionando no seminário jesuíta. O Padre Antônio Vieira o admirava e convidou-o a vir para o Brasil em 1681. Chegou a Salvador, na Capitania da Bahia, e, nunca mais deixou a cidade, onde morreu, em 1716. Lá exerceu o cargo de Reitor do Colégio por duas vezes e foi o Provincial de 1705 a 1709. Fez algumas visitas à Capitania de Pernambuco e à do Rio de Janeiro. Observador atento, notadamente da economia, escreveu com profundidade e erudição sobre a realidade econômica da Colônia, notadamente sobre a produção de açúcar, de tabaco, sobre a criação de gado e a mineração, embora sobre esta última baseado apenas em informações de terceiros. Além de apresentar dados sobre a produção, descreveu ainda as técnicas produtivas então utilizadas, comentando as condições de trabalho, sociais e políticas.

 Cada fachada surpreende de alguma forma. Ouro Preto transpira personalidade em mínimos detalhes

            Em 1711, publicou em Lisboa a obra Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas, escrita até 1710, considerado o melhor que se escreveu sobre as condições sociais e econômicas do Brasil no início do século XVIII. A Coroa, advertida do risco de divulgação de tão detalhadas informações sobre as drogas e minas da sua principal Colônia, proibiu-a e confiscou os seus exemplares. Os poucos que restaram, tornaram-se raridades bibliográficas. Essencial para a compreensão da vida social e econômica do Brasil colônia, só viria à luz em 1837, quando foi integralmente reeditada no Rio de Janeiro. Nela, entre outras, Antonil relata os danos causados no Brasil pela descoberta do ouro das Minas Gerais:

Ouro Preto é uma cidade de belos horizontes que descortinam-se em cada esquina

"Convidou a fama das Minas tão abundantes do Brasil homens de toda casta e de todas as partes, uns de cabedal, outros vadios. Aos de cabedal, que tiraram muita quantidade dele nas catas, foi causa de se haverem com altivez e arrogância, de andarem sempre acompanhados de tropas de espingardeiros de animo pronto para executarem qualquer violência, e tomar sem temor algum da justiça, grandes e estrondosas vinganças. Convidou-os o ouro a jogar largamente e gastar em superfluidades quantias extraordinárias sem reparo, comprando por exemplo um negro trombeteiro por mil cruzados (400 mil réis, ou seja, quatro vezes mais o que valia um escravo) e uma mulata de mau trato por dobrado preço, para multiplicar com ela contínuos e escandalosos pecados. Os vadios que vão às Minas tirar ouro não dos ribeiros mas dos canudos em que o ajuntam e guardam os que trabalham nas catas, usaram de traições lamentáveis e de mortes mais que cruéis, ficando estes crimes sem castigo, porque nas Minas a justiça humana não teve ainda tribunal nem o respeito de que em outras partes goza, aonde há mineiros de suposição, assistidos de numeroso e seguido presídio; e só agora poderá esperar-se algum remédio, indo lá governar governado e mineiros." (supostamente uma alusão ao novo governador da Minas, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho)
Cada fachada parece querer contar seu testemunho de 300 anos de histórias

"E até os Bispos e prelados de algumas religiões sentem sumamente o não se fazer conta das censuras para reduzir os seus bispados e conventos não poucos clérigos e religiosos que escandalosamente por lá andam ou apóstatas ou fugitivos. O irem também às Minas os melhores gêneros de tudo o que se pode desejar foi causa que crescessem de tal sorte os preços de tudo o que se vende, que os senhores de engenho e os lavradores se achem grandemente empenhados, e que por falta de negros não possam tratar do açúcar nem do tabaco como faziam folgadamente nos tempos passados que eram as verdadeiras Minas do Brasil e de Portugal. E o pior é que a maior parte do ouro que se tira das minas passa em pó e em moedas para os reinos estranhos, e a menor é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil, salvo o que se gasta em cordões, arrecadas e outros brincos, dos quais se vêem hoje carregadas as mulatas de mau viver e as negras muito mais do que as senhoras. Nem há pessoa prudente que não confesse haver Deus permitido que se descubra nas Minas tanto ouro para castigar com ele ao Brasil, como está castigando, no mesmo tempo tão abundante de guerras, aos Europeus com o ferro."

Delicadas sacadas com gradis de ferro fundido adornam janelas em arcos

Em cada igreja e sobrado há um pouco de história a ser contada
A notícia da descoberta do maior manancial de ouro até então encontrado em toda história ocidental, provocou a primeira corrida do ouro da história moderna, só depois superados pelo da Califórnia em 1848 e o do Yukon em 1890. Antonil observou que a “cada ano vêm nas frotas quantidades de portugueses e de estrangeiros, para passarem às minas. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil, vão brancos, pardos e pretos, muitos índios de que os paulistas se servem.”

Cada fachada parece querer competir com sua vizinha em delicadeza e beleza

FOI tamanho o fluxo que o rei D.João V resolveu por lei de 1720 controlar a saída dos seus súditos com medo do despovoamento das aldeias e dos campos portugueses. Não evitou porém que ao longo do século 18, 800 mil deles viessem dar nos garimpos brasileiros. Os navios vindos para o porto do Rio de Janeiro passaram a ser vigiados e vistoriados ainda em Portugal, cujo objetivo era refrear o fluxo dos aventureiros.

Aqui nasceu Aleijadinho, aqui viveu Tiradentes


De platibandas e baldaquinos a botaréus e cartuxas, de arcos a volutas, o barroco mineiro se mostra em cada detalhe

TAMBÉM aqui na colônia vinham em massa habitantes de Taubaté, de Guaratinguetá, de Santos e da Bahia, o que alarmou as autoridades. Em 1702, o governador-geral do Brasil, D.Rodrigo Costa comunica ao rei D.Pedro II que a situação beirava a calamidade e que as capitanias ficaram despovoadas porque seus habitantes foram para os garimpos. Houve uma explosão demográfica assustadora. Em 1690 havia cerca de 190 mil habitantes, e em 1780 já havia 2.523.000 e apenas 18 anos depois, em 1798, 3.250.000! Destes, os brancos eram 31%, os índios 7,7%; os escravos libertos 12,5%, os pardos 6,8% e os negros escravos 42%.

A Ponte de Marília (de Dirceu) com a Igreja Sta. Efigênia ao fundo: história e paisagem românticas
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Os caminhos das minas

EM fins do século XVII, bandeirantes paulistas atravessaram a serra do Mar através das matas então habitadas por índios em busca de tesouros que eram meras suposições. Entre eles os bandeirantes mais famosos foram Bartolomeu Bueno de Siqueira, Garcia Paes, Braz Cubas, Fernandes Tourinho, Lourenço Jaques e Fernão Dias Paes. Nos fins do Século XVII outros bandeirantes formaram os primeiros arraiais que viraram mais tarde as cidades de Ouro Preto, Sabará, Diamantina, Serro, Mariana, São João del Rei e Tiradentes.


Ouro Preto e seus belos horizontes: do adro da Matriz de Antonio Dias avistam-se o Hotel Luxor Ouro Preto e a Igreja de Sta. Efigênia

       DOIS caminhos eram usados para chegar às minas: o Caminho Geral do Sertão, que acompanhava o vale do Paraíba através da Serra da Mantiqueira e o Caminho Novo, que saia de São Paulo, desde Pindamonhangaba, e pelo qual em 20 dias se chegava às lavras. Com a chegada interminável de forasteiros o monopólio deles tornou-se insustentável e a população que era de 70 mil em 1710 da qual os paulistas não eram mais de mil, fez com que a região se tornasse o “País da Desordem”. Para melhor administrar e fiscalizar os achados, a Coroa indicou como seu representante um Procurador da Coroa e um Guarda-mor.

Um solitário ipê-amarelo florido adorna o pátio da Casa de Marília (de Dirceu)

UM dos governadores-gerais da época, D. João de Lencastre, enviou uma carta ao reino informando ser perigoso para os interesses de el-Rei a enorme concentração de riqueza e opulência nas mãos dos paulistas, que “são capazes de apetecer sujeitar-se a qualquer Nação estrangeira que.... Os conserve na liberdade e na insolência com que vivem” .

Chafarizes, pontes e casas evocam o lirismo de Marília e Dirceu

FIGURA extremamente popular na época do descobrimento do ouro foi o 'tropeiro', que além de peça importante na função econômica, teve papel social de portador de notícias, representando um fundamental elo entre os grandes e os pequenos núcleos urbanos. Era o tropeiro quem comprava gêneros de toda a espécie e os levava para o interior, ganhando, sobre as vendas valores altíssimos que aos poucos tornaram alguns deles com expressiva fortuna e prestígio social, alguns dos quais ingressando na carreira política.

Chafariz de Marília, volutas e rocailles barrocas em pedra de cantaria...

COMO era inevitável, atritos ocorreram-se entre os paulistas e os emboabas. Diga-se que desde o início os paulistas tentaram se precaver fazendo com que se se enviasse, como apoio da Câmara local, em 16 de abril de 1700, uma carta com a solicitação ao governador da praça do Rio de Janeiro com o pedido de resguardar para eles as minas recém encontradas, “expondo os direitos planaltinos acerca das terras minerais e pleiteando para os mesmos o monopólio delas”. As desavenças e rivalidades culminaram com a Guerra dos Emboabas (1709-10), quando a Coroa apoiou sua gente contra os paulistas, aproveitando para exercer controle mais efetivo na região.


Cada sobrado parece "segurar" seu vizinho

          O Circuito do Ouro foi palco de vários conflitos ocorridos na zona mineradora, mas o mais importante foi a "Guerra dos Emboabas", cuja luta baseou-se na disputa do controle do sistema de mineração pelos paulistas que julgavam-se no direito de possuí-las, já que as haviam descoberto, conquistando assim privilégios econômicos e políticos.

A Igreja do Carmo, requintada por dentro e por fora, um esplendor barroco mineiro

A partir daí a Coroa estabeleceu a Casa de Quintar para arrecadar o quinto, o imposto real, hoje conhecida como “das Contas”, ou Casa dos Contos, que tinha um administrador, um escrivão e um fundidor que transformava o ouro em barras e lhes afixava o cunho real.


Cada sobrado ou casa tem sempre algo diferente das demais.

É impossível não apaixonar-se pela arquitetura

DERROTADOS, os paulistas resolveram emigrar para outras áreas em busca de outros campos de mineração, como os de Goiás e do Mato Grosso, onde novas jazidas foram descobertas, mas alguns dedicaram-se à pecuária._____________________________________

O século do ouro e a Inconfidência

As leis e as lavras

“Ai, que rios caudalosos, e que montanhas tão altas!
Ai, que perdizes nos campos, e que rubras madrugadas!
Ai, que rebanhos de negros, e que formosas mulatas!
Ai, que chicotes tão duros, e que capelas douradas!
Ai, que modos tão altivos, e que decisões tão falsas...
Ai, que sonhos tão felizes...que vidas tão desgraçadas!

Cecília Meirelles - Romanceiro da Inconfidência



     
PARA a Vila Rica de Ouro Preto a política da Coroa era a de fixar a população em aldeamentos, o que começou a ser feito pelo Governador Antônio Albuquerque com a fundação da Vila de Ribeirão do Carmo, (atual Mariana), em 1711, a Vila Rica de Ouro Preto, 1711, a Vila Real de Sabará, também 1711, e entre 1713 e 1718, as vilas de Nova Rainha, de Pitanguí, de São João del Rei, de São José e Vila do Príncipe.

Escadaria em cantaria do Museu da Inconfidência, Praça Tiradentes

ISSO foi acontecendo por conta da mudança nos processos de extração do ouro, que na primeira fase, de 1693-1720, era de aluvião, ou seja, os “faiscadores” se deslocavam à procura do ouro de lavra em lavra nas barrancas dos rios. Depois de 1720 esse processo esgotou-se, e a mineração passou a exigir mais recursos e mão de obra, técnica e trabalho, já que passou-se à escavação de minas sob as montanhas, o que por conseguinte obrigou também aos mineiros a construírem casas para residência e estocagem do ouro nas minas a que tinham direito explorar.

              NA Serra de Ouro Preto, na Serra do Espinhaço, a 1.061 m de altitude, a Vila Rica de Ouro Preto converteu-se rapidamente no maior garimpo da lavra do ouro da região. A partir de 1711, tornou-se a capital da Província, situação que manteve até 1897. Nela construíram-se as mais belas igrejas das Minas Gerais, tornando-se um centro cultural e civilizador. Surgiram movimentos culturais abundantes em todas as áreas, desde a musical, a escultura, literatura, pintura, arquitetura e ornamentação.

               VILA Rica foi sede do primeiro movimento literário expressivo do Brasil, a “Escola Mineira”, ou Movimento Arcadiano, que teve em Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto seus representantes mais expressivos e consagrados. Tal movimento acabou por tornar-se um núcleo intelectual e político de nacionalismo, formado por intelectuais, funcionários, padres e militares, os quais passaram a imaginar a possibilidade de livrar as Minas do colonialismo português, o que culminou com o episódio da Inconfidência Mineira, em 1789.

Deste lugar tem-se a mais bela vista de Ouro Preto

A inconfidência foi a revolta anti-colonialista, antecedida pela rebelião de Felipe dos Santos, eme 1720, à qual eclodiria em Vila Rica no dia do lançamento do imposto denominado “derrama’ uma nova taxação criada pelos portuguesas para aumentar a arrecadação tributária na região. Os conspiradores foram traídos por Joaquim Silvério dos Reis, que denunciou-os em carta às autoridades. Mas o único a ser executado foi Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes, o alferes, enforcado e esquartejado no Rio de Janeiro em 21 de abril de 1792, tendo seus restos expostos na Estrada Real que ligava o Rio de Janeiro a Vila Rica, queimada sua casa e salgado o seu terreno. Os demais insurgentes foram condenados ao degredo em Angola e Moçambique.



Em cada esquina, sacada, fachada, detalhe, a arquitetura colonial encanta o visitante


Beirais, janelas, sacadas, portas: um harmonioso conjunto de belíssima arquitetura

OS mestres do barroco em Ouro Preto foram o Aleijadinho, cujas obras-primas podem-se apreciar na Igreja de São Francisco de Assis e na fachada da Igreja da N.Sra. do Carmo, e o Mestre Ataíde, pintor das abóbadas das Igrejas. Na música, destacaram-se José Joaquim Emérico e o Padre José Maurício, este considerado o primeiro dos grandes compositores brasileiros, antes de Carlos Gomes e Villa Lobos.

Atual Museu de Ciência e Técnica, antigo Palácio do Governo da Capitania

              A legislação que tratava da exploração das minas derivava das Ordenações Filipinas (Titulo XXXIV, livro 2) e determinava que o descobridor de veeiros ou minas de prata, de ouro, ou qualquer outro metal considerados propriedade da Coroa - necessitava da autorização especial do provedor de metais para sua exploração. O descobridor do veio era obrigado a ceder uma data para el’Rei e outra para o Guarda-mor. Também era obrigado a pagar um quinto, o “quinto”, de tudo aquilo que garimpasse. Devido aos excessos tributários decorreu a sonegação. Estudiosos afirmam que cerca de 35% do ouro foi contrabandeado do Brasil.


O teor do ouro brasileiro alcançava os 22,5 quilates e era de cor variável, do brilhante ouro amarelo ao cor de latão, do ouro escuro chamado de ouro preto ao avermelhado, de tom bronze. Para Roberto Simonsen, em “História Econômica do Brasil”, entre 1700-1770 a produção do ouro brasileiro alcançou cerca de 50% do que o resto do mundo extraiu entre os séculos XVI e XVIII.

Quantidades de ouro extraídas


Período
Total (Kg)
1691 - 1700
15.000
1701 - 1720
55.000
1721 - 1740
177.000
1741 - 1760
292.000
1761 - 1780
207.000
1781 - 1800
109.000



Fonte: Roberto Simonsen - História Econômica do Brasil, p. 237
PRÓXIMO CAPÍTULO

Para entender o Barroco Mineiro


http://interata.squarespace.com/jornal-de-viagens/2008/8/21/ouro-preto-mg-o-barroco-mineiro-e-a-inconfidencia-de-minas.html


Altar da igreja de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, totalmente feito em ouro. Enquanto a Inglaterra aplicava o ouro obtido com o Tratado de Methuen em indústrias, Portugal e sua


Ordem Terceira de São Francisco de Assis (Ouro Preto-MG). Projeto de 1766 e esculturas da entrada de 1774-75. Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa) – arquiteto, Domingos Moreira de Oliveira – mestre de obras.
Igreja de N. Senhora do Carmo, Ouro Preto
Antonio, de Nossa Senhora da Conceição e de Nossa Senhora do Pilar.
Igreja Matriz de N. Senhora do Pilar, Ouro Preto

Igreja de N. Senhora do Carmo, Ouro Preto
Igreja Matriz de Santo Antonio em Tiradentes/ MG

Altar-mor da Matriz de Santo Antônio

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