Sempre na minha mente e no coração...

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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Quando falta algo para ser feliz - Bel Cesar

fonte imagem: jemqs.tumblr.com

Quando falta algo para ser feliz 

Bel Cesar

Quem não conhece a sensação de que falta algo para ser feliz? 
Um sentimento de estar suspenso, à espera de poder se soltar e sentir um grande alívio. 
É como se nos faltasse uma longa expiração, capaz de nos relaxar a ponto de nos sentirmos profundamente enraizados, seguros em nosso mundo interior. 


Falando assim, pode até parece que o sentimento de completude seja semelhante ao processo da morte: afinal, se não fosse mais preciso nos esforçarmos para ir atrás de nada, poderíamos nos entregar e nos sentirmos completos, como uma missão cumprida com um final feliz. 
Escutei de um paciente que tentou se suicidar que esta era sua intenção finalmente se entregar, mas que conforme começou a sofrer viu logo que as coisas não eram bem assim... 
Pois a sua angústia continuava presente durante toda sua tentativa de morrer. 

A morte nas telas do cinema muitas vezes é mostrada assim:
após um longo suspiro, a pessoa morre como se entrasse suavemente num sono profundo, onde, finalmente, estivesse em paz. 


Em nossa sociedade cristã, associamos a morte à paz eterna. Esta é uma visão que pode nos ajudar a aceitar nossa própria morte e a daqueles que amamos. Mas, este não é o ponto sobre o qual iremos nos apoiar nesta reflexão. 

Pois, para muitos, estar diante do processo de morte é uma vivência de entrega sofrida, onde soltar-se é uma experiência tão desconhecida quanto a de se sentir completo e satisfeito.


Gangchen Rinpoche certa vez nos falou sobre este sentimento de incompletude: "Frequentemente, sentimos falta de algo quase imperceptível, algo que não é mental, intelectual. 

Até mesmo nas situações privilegiadas, em que pensamos estar satisfeitos, logo surge esse sentimento sutil de que algo nos falta. 
Temos, então, a prova de que a vida material não é suficiente, e saímos em busca de algo mais espiritual.
"Esse algo que nos falta é tocar nosso próprio potencial de paz".


A paz, segundo o Budismo, é uma manifestação natural da mente, por isso encontra-se sempre pronta e disponível. Os mestres budistas nos estimulam a compreender que aquilo que estamos procurando fora de nós se encontra em nosso interior. Neste sentido, procurar a paz fora de nós pode nos levar para mais longe dela. É como se nos desesperássemos para chegar a algum lugar, quando não há lugar nenhum para ir. 


A paz não é algo que podemos compreender com um raciocínio lógico, isto é, por meio de conceitualizações.
Por isso, não é possível idealizá-la, apenas reconhecê-la.


A boa notícia é que não precisamos mais esperar por algo que nos fará finalmente inteiros e felizes. Para tanto, podemos desde já reconhecer os estados de calma de nossa mente como nosso melhor patrimônio.


Lama Gangchen nos lembra: 
"Nosso problema é que não sabemos reconhecer a positividade. 
Primeiro, é preciso reconhecer a paz interna, para depois desenvolvê-la, senão a perderemos novamente".


Este é o primeiro passo: 
reconhecer a presença de uma mente satisfeita. 
Podemos começar apenas identificando este estado mental no momento em que vamos dormir, quando aliviamos a sede ao tomar um copo d´água, quando refrescamos o corpo quente com um banho de água fresca, quando nos sentimos em sintonia com o olhar de uma outra pessoa, com a cena de um filme ou com nossa própria respiração.


Pode parecer simples demais, mas a lógica do Budismo é bem clara: o efeito dos estados mentais é semelhante àquele cultivado. Ou seja, só paz gera paz. Neste sentido, a insatisfação em si nunca pode se tornar satisfação, assim como a tristeza não se transforma naturalmente em felicidade. 


Por isso, Lama Yeshe nos fala:
"Não podemos esperar atingir nossa meta de felicidade universal e completa ficando sistematicamente mais tristes. Só com o cultivo, hoje, de pequenas experiências de calma e satisfação, é que seremos capazes de atingir nossa meta última de paz e tranqüilidade no futuro".


Ao aprender a reconhecer nossa mente de paz e satisfação estaremos treinando a confiança em nosso potencial de entrega e relaxamento. 

Quem sabe assim, estaremos também mais preparados para aceitar o processo da morte como uma experiência de grande relaxamento!


Bel Cesar é psicóloga e pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano. 
Email: belcesar@ajato.com.br


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