Poema da Família
"Se não era amor, era da mesma família.
Pois sobrou o que sobra dos corações
abandonados.
A carência.
A saudade.
A mágoa.
Um quase desespero, uma espécie de avião em
queda que a gente sabe que vai se estabilizar só não se sabe se vai ser antes
ou depois de se chocar contra o solo.
Eu bati a 200 km por hora e estou
voltando á pé pra casa, avariada.
Eu sei, não precisa me dizer outra vez.
Era uma diversão, uma paixonite, um
jogo entre adultos.
Talvez este seja o ponto.
Talvez eu Não seja adulta o suficiente
para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas.
Onde é que eu estava com a cabeça, de
acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que
bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida
satisfatória, sem sequelas, sem registro de ocorrência?
Eu não amei aquele cara. Eu tenho
certeza que não.
Eu amei a mim mesma naquela verdade
inventada.
Não era amor, era uma sorte.
Não era amor, era uma travessura.
Não era amor, eram dois travesseiros.
Não era amor, eram dois celulares
desligados.
Não era amor, era de tarde.
Não era amor, era inverno.
Não era amor, era sem medo.
NÃO ERA AMOR, ERA MELHOR”
Martha Medeiros
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