A busca ansiosa
A atração depende de encontrar alguém para amar ou que alguém encontre você, e aqui começam as dificuldades. Se nada é mais excitante do que se apaixonar, do mesmo modo nada parece despertar um medo maior. Uma busca constante e ansiosa pelo relacionamento parece assombrar toda a nossa sociedade.
Somos inundados com imagens de atração romântica, no entanto, ironicamente, a coisa verdadeira parece muito fugidia, e quanto mais pesadamente nossa televisão e filmes exageram no charme sedutor, mais dificilmente as pessoas parecem entender o que o amor realmente é.
A sensação de apaixonar-se não é difícil de descrever. Ela foi comparada com mil deleites, da doçura do mel à fragrância da rosa. Suas imagens são infinitas, e estamos cercados por elas, como se a imensidão total fosse de algum modo resolver nossa insegurança subjacente. Quando o romance finalmente aparece, contudo, ele é mais embevecedor do que qualquer imagem empacotada, porque o romance destila amor e desejo, anseio e terno sofrimento, a alegria do toque de um único momento e a agonia da separação de um único momento.
Tudo isso nós sabemos, mas o conhecimento fez pouco para dispersar o sentimento ansioso de que o amor nunca vai chegar, que não somos a pessoa certa de alguma forma, e que portanto não merecemos o impressionante dom chamado de paixão. A maioria de nós sai à procura do amor levado por duas forças psicológicas poderosas: a fantasia do romance ideal e um medo de que não o encontraremos e nunca sejamos amados.
Esses dois impulsos são auto sabotadores, embora de maneiras diferentes. Se você levar consigo uma fantasia idealizada de como deveria ser o amor, vai perder a coisa real quando ela cruzar o seu caminho. O amor real começa com interações cotidianas que possuem a semente da promessa, não com o êxtase total. A semente é fácil de ser ignorada, e nada nos cega mais em relação a ela do que imagens mentais e fixas.
Do mesmo modo, se você ficar num estado de ansiedade, perguntando-se se alguém vai escolher você para amar, nunca vai se tornar atraente para quem quer que seja, pois nada mata o romance mais rápido do que o medo.
Lutar para ser atraente é só outra forma de desespero, que os outros veem, por mais que você lute para disfarçar. Porém, tão forte é nosso condicionamento social, que as pessoas gastam muito mais em cosméticos, moda e cirurgia plástica do que na psicoterapia, por exemplo, apesar do fato de que trabalhar suas neuroses tornaria a pessoa muito mais atraente do que uma figura elegante ou roupas na moda.
Apesar da sua natureza auto sabotadora, essas duas motivações a fantasia e o medo são a base para a maioria de nós quando buscamos o amor. Levados por elas, os homens e as mulheres abordam o romance com comportamentos que nunca poderão trazer o que esperam alcançar. Todas essas táticas se criam de tanto escutarmos uma voz interior que nos deixa obcecados com o amor e direciona nossa busca, muito embora seja uma voz desprovida de amor. A maioria desses comportamentos fúteis parecerá extremamente familiar:
- comparamo-nos constantemente com um ideal que nunca poderemos realizar. A voz interior sem amor nos impulsiona dizendo “você não é bom o bastante magro o bastante, bonito o bastante, suficientemente feliz ou seguro”.
- procuramos a aprovação nos outros. Esse comportamento basicamente projeta nossa insatisfação interior conosco, na esperança de que alguma autoridade externa a retirará de nossas almas. Aqui a voz interior sem amor está dizendo “não faça nenhum movimento até que a pessoa certa apareça”. (A pessoa certa neste caso é algum personagem de contos de fadas que vai transformar o patinho feio num cisne.) Sendo uma ficção impossível, a pessoa certa nunca chega.
- deduzimos que apaixonar-nos é algo totalmente mágico, algo que vem do nada aleatoriamente, geralmente quando menos esperamos. Muitas pessoas esperam passivamente que essa magia apareça. Embora disfarçada como esperança, essa passividade é na verdade uma forma de desesperança, pois a voz interior sem amor está dizendo “não há nada que você possa fazer, a não ser esperar para ver se alguém ama você “. A crença subjacente aqui é que não temos a menor possibilidade de merecer o amor não o amor apaixonado e realizador dos nossos sonhos. A esperança de que alguém nos procure e nos dê amor é uma abdicação de nossa capacidade de criar nossas próprias vidas.
- finalmente, contamos com o amor para remover os obstáculos que o mantém afastado. Todos os tipos de comportamentos não amorosos teriam a permissão de persistir, com a presunção de que nos tornaremos afetuosos, abertos, confiantes e íntimos através de um simples toque da varinha mágica do amor. A voz interior sem amor nos mantém na inércia total dizendo “não importa como você trata todas essas pessoas. Afinal de contas, elas não amam você e, quando a pessoa ideal aparecer, essas pessoas importarão ainda menos”. A crença subjacente, nesse caso, é que podemos escolher quem vamos amar, deixando os rejeitados num limbo de indiferença.
Podemos encontrar outra maneira de abordar o romance, sem fantasia ou medo, sem escutar a voz assustadora dentro de nós mesmos que encontra uma maneira de afastar o amor.
Deepak Chopra
https://universonatural.wordpress.com/2016/09/15/a-busca-ansiosa/
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