Saturday, June 28, 2014
50 anos de Beatlemania
O fenômeno cultural conhecido pelo nome The Beatles suscita todo ano centenas de explicações em artigos, filmes, livros, teses acadêmicas, cursos universitários. É impressionante o triturador simbólico que esses quatro artistas populares vindos de uma cidade industrial inglesa, Liverpool, passaram por cima da sensibilidade, da consciência, dos desejos e das pulsões dos jovens nos últimos 50 anos.
Por que, depois de tantos anos, os Beatles, músicos nascidos na década de 1940, ainda continuam a fascinar as pessoas dessa maneira?
Há de fato o lado comportamental, o jeito como souberam encarnar as ideias de mudança de sua época. “Estava acontecendo aquela explosão da classe baixa, e sem dúvida fomos parte disso. Agora, era bacana ser do povo – os fotógrafos do East End, os atores da classe baixa. Por isso, agora éramos os carinhas amalucados do Norte”, disse Paul McCartney em 1963.
Há, ainda mais evidente, a grande aventura musical, que começa ingênua e com cálculos de marketing (como de resto é a estratégia de toda banda de garotos até hoje) e que se estende até março de 1963, quando estouram nas paradas com “Love Me Do” e “Please Please Me”. Em suas primeiras turnês, lutavam contra o frio na parte de trás de uma van enquanto dormiam empilhados formando um “sanduíche de Beatles de quatro andares”.
A partir daí, e até fevereiro de 1964, vem uma nova fase: a fama abre portas, privilégios, e também destampa ambições e talentos inatos. Os Beatles se vangloriam de abrir shows para Helen Shapiro e Roy Orbison. É quando saem de sua nativa Liverpool para morar em Londres e batem o recorde mundial de Elvis Presley com With The Beatles, seu segundo álbum.
Para acentuar tudo, havia ali em Londres, como que emoldurando o surgimento dos Beatles, um CLIMA de verdadeira revolução cultural. A arte pop e op art, o cinema, a moda, a pintura, além de um clima de emancipação feminina. “Era um resplandecente playground noturno, um mundo de estreias, de porteiros solícitos, tapetes vermelhos e coquetéis. À mesa e na cama, as filhas de aristocratas recebiam rapazes das classes baixas, vindos do norte da Inglaterra ou do East End. E, por sobre a alegria dos risos e bate-papos, ouvia-se o gemido agudo das câmeras fotográficas de disparo rápido, a trilha sonora dos anos 1960”, escreveu o biógrafo Barry Miles.
Os Beatles eram um tipo de “perigo” que seduzia. “Será que as pessoas nos assentos mais baratos podem bater palmas? E o restante de vocês pode apenas chacoalhar suas joias?”, afrontou John Lennon, durante apresentação para a corte britânica em 4 de novembro de 1963 – à sua frente, a rainha-mãe, a princesa Margaret, e seu marido, Lorde Snowdon.
Finalmente, em 1964, explode a Beatlemania como um fenômeno mundial. Entre fevereiro de 1964 e julho de 1964, há exatos 50 anos, eles chegam aos Estados Unidos para efetivar a conquista da América, participando do programa mais visto da TV na época, o Ed Sullivan Show, e fazendo uma turnê de puro delírio para seus fãs americanos – no embalo do sucesso de “I Wanna Hold Your Hand”. Também é a fase em que vão ao cinema, fazendo o filme Os Reis do Iê-Iê-Iê (A Hard Day’s Night). Cerca de 73 milhões de espectadores viram sua performance na TV, um recorde para a época.
George Harrison brincou que, durante os dez minutos em que estiveram ao vivo na televisão, os índices de criminalidade despencaram nos EUA. “Até os bandidos pararam para nos assistir”, disse.
Consequência do efeito que causaram nos Estados Unidos, a Beatlemania se propagou pelo planeta. Em seguida, entre agosto de 1964 e agosto de 1965, eles começam a amadurecer. Encontram-se com Bob Dylan em Nova York (um artista cuja compreensão social era imensa) e fazem 32 shows em 34 dias pela América. Surgia a primeira superbanda do mundo, com apresentações em estádios para mais de 50 mil pessoas. Em contrapartida, os Beatles começam a desgostar do palco, mas transferem para o estúdio sua inquietação, gravando dois discos fantásticos: Rubber Soul (1965) e Revolver (1966).
Iniciam-se turnês mirabolantes pelo mundo, e John começa uma fase de polêmicas. É nessa época a grande polêmica que leva religiosos a queimarem seus discos e fotos e a organizarem passeatas e protestos. Tudo por causa de uma frase de Lennon. “Somos mais populares do que Jesus Cristo hoje em dia. Não sei o que vai acabar primeiro, se o rock'n'roll ou o cristianismo”, disse John ao jornal London Evening Standard em 4 de março de 1966.
Quando finalmente gestam Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), a maturidade musical dos Beatles era evidente e desafiava catalogações. Um álbum conceitual, que flertava com as experiências mais radicais das vanguardas (não é por acaso que Stockhausen está na capa do disco) e inovava em seu posicionamento sobre o mundo artístico. Mas ainda uma arte livre da angústia modernista e estimulada pelo otimismo pop.
Em 1968, Paul casa-se com Linda e John com Yoko. Os Beatles se despedem com o disco Abbey Road. George Martin, seu produtor, diz: “Foi um disco muito feliz porque todos sabiam que seria o último”. O rompimento seria “abafado” por um TEMPO, mas era evidente. Por encarnarem a busca contínua por uma nova energia criativa, deixaram a marca indelével no espírito de tantas gerações.
http://www.vocerealmentesabia.com/2014/06/50-anos-de-beatlemania.html
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