AS PERDAS DO SER HUMANO!
Estação das perdas
Há horas em nossa vida que somos tomados por uma
enorme sensação de inutilidade, de vazio.
Questionamos o porquê de nossa existência e nada parece fazer sentido.
Concentramos nossa atenção no lado mais cruel da vida, aquele que é implacável
e a todos afeta indistintamente:
As perdas do ser humano.
Ao nascer, perdemos o aconchego, a segurança e a proteção do útero.
Estamos, a partir de então, por nossa conta.
Sozinhos.
Começamos a vida em perda e nela continuamos.
Paradoxalmente, no momento em que perdemos algo, outras possibilidades nos surgem.
Ao perdermos o aconchego do útero,
ganhamos os braços do mundo.
Ele nos acolhe: encanta-nos e nos assusta,
nos eleva e nos destrói.
E continuamos a perder e seguimos a ganhar.
Perdemos primeiro a inocência da infância.
A confiança absoluta na mão que segura nossa mão, a coragem de andar na bicicleta sem rodinhas por que alguém ao nosso lado nos assegura que não nos deixará cair...
E ao perdê-la, adquirimos a capacidade de questionar.
Por que? Perguntamos a todos e de tudo.
Abrimos portas para um novo mundo e fechamos janelas, irremediavelmente deixadas para trás.
Estamos crescendo.
Nascer, crescer, adolescer, madurecer,envelhecer, morrer.
Vamos perdendo aos poucos alguns
direitos e conquistando outros.
Perdemos o direito de poder chorar bem alto, aos gritos mesmo, quando algo nos
é tomado contra a vontade.
Perdemos o direito de dizer absolutamente
tudo que nos passa pela cabeça sem medo de causar melindres.
Assim, se nossa tia às vezes nos parece gorda
tememos dizer-lhe isso.
Receamos dar risadas escandalosamente da
bermuda ridícula do vizinho ou puxar as
pelanquinhas do braço da vó com a
maior naturalidade do mundo e ainda falar bem alto sobre o assunto.
Estamos crescidos e nos ensinam que não
devemos ser tão sinceros. E aprendemos.
E vamos adolescendo ganhamos peso, ganhamos seios, ganhamos pelos, ganhamos altura,
ganhamos o mundo.
Neste ponto, vivemos em grande conflito.
O mundo todo nos parece inadequado aos nossos sonhos,
ah! Os sonhos!
Ganhamos muitos sonhos.
Sonhamos dormindo, sonhamos acordados,
sonhamos o tempo todo.
Aí, de repente, caímos na real!
Estamos amadurecendo, todos nos admiram.
Tornamo-nos equilibrados, contidos, ponderados.
Perdemos a espontaneidade.
Passamos a utilizar o raciocínio, a razão acima de tudo.
Mas não é justamente essa a condição que nos coloca acima dos outros animais?
A racionalidade, a capacidade de organizar nossas ações de modo lógico e
racionalmente planejado?
E continuamos amadurecendo ganhamos um carro novo, um companheiro, ganhamos um
diploma.
E desgraçadamente perdemos o direito de gargalhar, de andar descalço, tomar
banho de chuva, lamber os dedos e soltar pum sem querer.
Mas perdemos peso !!!
Mas perdemos peso !!!
Já não pulamos mais no pescoço de quem amamos e tascamos-lhe aquele beijo
estalado, mas apertamos as mãos de todos,
ganhamos novos amigos, ganhamos um bom salário, ganhamos reconhecimento,
honrarias, títulos honorários e a chave da cidade.
E assim, vamos ganhando tempo, enquanto envelhecemos.
De repente percebemos que ganhamos algumas rugas, algumas dores nas costas (ou
nas pernas), ganharam celulite, estrias, ganhamos peso e perdemos cabelos.
Nos damos conta que perdemos também o brilho no olhar, esquecemos os nossos
sonhos,
deixamos de sorrir, perdemos a esperança.
Estamos envelhecendo.
Não podemos deixar pra fazer algo quando estivermos morrendo.
Afinal, quem nos garante que haverá mesmo um renascer, exceto aquele que se faz em vida, pelo perdão a si próprio, pelo compreender que as perdas fazem parte, mas que apesar delas, o sol continua brilhando e felizmente chove de vez em quando, que a primavera sempre chega após o inverno, que necessita do outono que o antecede.
Afinal, quem nos garante que haverá mesmo um renascer, exceto aquele que se faz em vida, pelo perdão a si próprio, pelo compreender que as perdas fazem parte, mas que apesar delas, o sol continua brilhando e felizmente chove de vez em quando, que a primavera sempre chega após o inverno, que necessita do outono que o antecede.
Que a gente cresça e não envelheça simplesmente. Que tenhamos dores nas costas
e alguém que as massageie.
Que tenhamos rugas e boas lembranças.
Que tenhamos juízo, mas mantenhamos o bom humor e um pouco de ousadia.
Que sejamos racionais, mas lutemos por n
ossos sonhos.
ossos sonhos.
E, principalmente, que
não diga apenas eu te ama, mas ajamos de modo que aqueles a quem amamos,
sintam-se amados mais do que se saibam amados.
Afinal, o que é o tempo?
Não é nada em relação a nossa grande missão.
E que missão!
Fique em Paz! Das perdas
BOA NOITE!
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