Meu Velho!
Filho...Meu amado filho. Minha amada
filha.
No dia que esse teu velho não for mais o mesmo, tenha paciência
e
compreende-me.
Quando eu derramar comida sobre a minha roupa e me esquecer
de
como amarrar os meus sapatos, tenha paciência comigo.
E lembra-te então, das horas
que eu passei para ensinar-te estas
mesmas coisas.
Se quando conversares comigo e eu
repetir as mesmas histórias
que já sabes como terminam, não me interrompas e
escuta-me.
Quando eras criança, para que você dormisse, tive que te contar
milhares de vezes a mesma história. E isso todos os dias até que
fechaste os
olhinhos e dormisse.
Quando estivermos reunidos e, sem
querer, eu fizer as minhas
necessidades, não fiques com vergonha de mim.
Compreenda-me e saiba que não tenho culpa disso pois já não
consigo mais
controlar. E lembre-te de quantas vezes
pacientemente eu troquei a tuas roupas,
troquei as tuas fraldas.
Te limpei e te quis sempre limpinho e cheiroso.
Não me reproves se eu não quiser tomar
banho, mas tenha
paciência, comigo. Lembra-te dos momentos em que te persegui
e dos mil pretextos e desculpas que você procurava encontrar e
inventava para
tentar me convencer a não precisar tomar banho.
Quando me vires inútil e ignorante na
frente de novas
tecnologias, não sabendo mexer direito no computador ou no
celular, peço-te que me dês todo o tempo que seja necessário.
Não me critique
com um sorriso sarcástico.
Lembra-te que fui eu que te ensinou tanta coisa.
Ensinei você a como comer, a se vestir, e a andar.
Tudo isso é resultado do meu
esforço, da minha dedicação e da
minha perseverança.
Se em algum momento, quando conversamos
eu me esquecer do
que estávamos a falar, tenha paciência e não grite comigo e
me
ajude a lembrar.
Talvez a única coisa importante para mim naquele momento
seja
o fato você perto de mim dando me atenção.
Se alguma vez eu não quiser comer que
você saiba insistir com
carinho assim como eu fiz tantas vezes contigo.
Que
também compreendas e como o tempo não terei dentes
fortes e nem agilidade para
engolir.
Daí você deverá pôr a comida na minha boca.
Tenha paciência comigo.
E quando minhas pernas falharem por
estarem tão cansadas e eu
já não conseguir mais me equilibrar, tenha ternura e
dê-me a tua
mão para que eu possa me apoiar como eu fiz quando tu
começaste a
caminhar com a tuas perninhas tão frágeis.
E se algum dia me ouvires dizer eu não
quero mais viver, não te
aborreças comigo. Algum dia entenderás que isso não
tem nada a
ver com teu carinho ou com quanto eu te amo.
Compreendas que é
difícil ver a vida abandonando aos poucos o
meu corpo e que é duro admitir que
já não tenho mais vigor para
correr ao teu lado ou para tomar-te nos meus
braços como antes.
Sempre quis o melhor para ti. E sempre
me esforcei para que o
teu o mundo fosse mais confortável, mais belo e mais
florido.
E até quando eu me for desta vida terei deixado para ti outra
rota em
outro tempo. Mas eu estou certo de estar sempre presente
no teu pensamento.
Não te sintas triste ou impotente por
me veres assim.
Não me olhes com cara de pena ou dó.
Dá-me apenas o teu coração.
Compreenda-me, apoia-me como eu fiz quando tu começastes a
viver.
Isso
me dará muita força e me dá muita coragem.
Da mesma maneira como eu te acompanhei
no início da tua
jornada, peço-te carinhosamente que me acompanhes para
terminar a minha vida.
Não me deixe sozinho.
Trata-me com amor e com paciência e eu
te devolverei o meu
sorriso e a minha gratidão.
Com imenso amos que eu sempre tive por
ti.
Atenciosamente:
Teu velho.
Teu velho.
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