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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

COMPORTAMENTO - MULHER... 50 ANOS A dama do laboratório

50 ANOS
A dama 
do laboratório

Mayana Zatz escapou dos estereótipos de sua geração
para se tornar uma das maiores cientistas brasileiras
 


Foto Bruno Veiga
Mayana Zatz, 53 anos, cientista

Roupa: camisa Huis Clos e calça Maria Bonita

Diz-se que aos 50 anos algumas céticas mudam de lado. Inexplicavelmente, elas se tornam esotéricas, vão fazer ioga, meditação, encomendam um mapa astral. 
Pode ser porque é nessa idade que começa a se processar internamente um balanço sobre o que de fato se fez na vida. 
A cientista Mayana Zatz, 53 anos, costuma dizer que é uma exceção, pois nunca se deixou levar por fenômenos que não consegue explicar. 
Em seu vocabulário não há espaço para marolas místicas. 
O que lhe interessa é a vida prática. Mayana continua a manter a mesma taxa de dedicação ao trabalho que revelou aos 20, 30 e 40. "Sei que muitas mulheres de minha idade estão revendo conceitos, mas este não é o meu caso", comenta. 

Myana quer entender por que ainda não há cura para a distrofia muscular, uma doença hereditária que atinge 80.000 brasileiros. Ou destrinchar o sequenciamento genético da Xylella fastidiosa, uma praga que ataca laranjais e dá um prejuízo de 180 milhões de reais por ano ao Brasil.


Foi assim, pragmática, cartesiana e racional, que Mayana se consagrou como uma das mais importantes cientistas brasileiras. Nascida em Israel e paulistana desde os 7 anos, ela foi vencedora do prêmio Mulheres Cientistas, conferido pela Unesco e pela empresa L'Oréal, no ano passado, em Paris. Suas pesquisas são reconhecidas mundialmente. 

Dos 185 trabalhos escritos, 163 foram publicados em renomadas revistas científicas, entre as quais o American Journal of Medical Genetics. 
Professora titular de genética do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, Mayana ainda coordena o Centro de Estudos do Genoma Humano e passa doze horas por dia dentro de um laboratório. 

Essa  concentração desperta certa ciumeira no marido e nos dois filhos adultos.
 Ao contrário de muitas mulheres de sua geração, criadas para ser donas-de-casa exemplares e mães irretocáveis, Mayana também se tornou uma exceção.
Foi graças a um acordo com o marido, Ivo, dono de uma construtora, seu primeiro namorado, que ela pôde traçar sua biografia.
"Eu não ganhava nada quando comecei a fazer pesquisa. Se fosse homem teria de abandonar tudo para ganhar dinheiro e sustentar a família. Como mulher, não.
 Só pude me dedicar à ciência com afinco porque meu marido bancava tudo", diz.


Há um mito de que, depois dos 50 anos, você tem de optar por um rosto bonito ou um corpo bem-feito. Ter as duas coisas é impossível. 
A francesa Catherine Deneuve é o primeiro caso. 
Ninguém nota que há anos ela só veste roupas largas e escuras para disfarçar os quilos a mais. A atriz americana Sigourney Weaver é o outro exemplo.
Suas formas sensacionais aos 52 anos são estampadas freqüentemente em capas de revistas femininas. 
Suas rugas?
 Que rugas? 
Espantosamente, Mayana consegue fugir do estereótipo. Elegante, chique, sem um pingo de peruagem, ela está perfeitamente em forma (60 quilos em 1,73 metro) e ainda conserva uma face atraente. 
Mas ela pouco se preocupa em cuidar da aparência. 
No máximo, vai ao cabeleireiro fazer escova. 
Cremes para o rosto, não tem. Plástica, nem cogita. 
"Morro de medo de mudar de rosto. Acho que meu ego é complacente", diz.
Há vinte anos, corre diariamente quarenta minutos pelas ruas de São Paulo. 

"Corro por uma questão de saúde, não por vaidade", afirma. 
Assegura que é assim também nas compras: direta. 
"Não dá para ficar indo ao shopping ver vitrine. Se vejo uma sandália de que gosto, compro de duas ou três cores. Não posso perder tempo com essas coisas."


O fantasma do envelhecimento passa à sua frente sem assustar. Seu grande medo é deixar de aprender. "Outro dia meu porteiro perguntou quando eu ia parar um pouco para descansar. Respondi que para isso temos a eternidade. Não está na hora." Apesar do ritmo de vida frenético, a chegada dos 50 anos a deixou mais tranqüila sem precisar recorrer à ioga ou aos florais de Bach. 
"O envelhecimento aumenta nossa capacidade de compreender a vida e nos deixa mais equilibrados emocionalmente." 
Mas ainda deixa espaço para cultivar sonhos.
 "Ainda vou descobrir algo muito importante para a ciência", afirma.


http://veja.abril.com.br/especiais/mulher2/50_anos.html

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