A História de Ayrton Senna
A equipes na F-1
1983, 18 de julho. O jovem Ayrton Senna havia acabado de vencer a etapa de Silverstone da Fórmula 3 Inglesa, aos 23 anos. Na terça-feira seguinte, o brasileiro teria a oportunidade de testar pela primeira vez um carro de Fórmula 1. A pista seria um pouco diferente, mas não muito longe dali: Donington Park. A equipe, nada menos do que a atual campeã mundial: a Williams.
Antes de acelerar, Senna mostrava a natural ansiedade do momento: soltou a frase “é hoje!", seguida de dois toques na asa traseira, em cena registrada na célebre reportagem da TV Globo, que acompanhava com bastante interesse o dia que marcaria para sempre a carreira de Senna e, como se veria nos anos seguintes, para a história da própria F-1.Naquele primeiro contato com um carro da maior categoria do automobilismo, Senna já mostrou seu potencial: foi 09s mais rápido que qualquer outro piloto que havia testado naquela pista com este tipo de carro. Após o teste da Williams, Senna andou em um McLaren em virtude da conquista do título da F-3 Inglesa. Stefan Bellof e Martin Brundle, seus concorrentes na disputa do campeonato, também andaram, mas Senna foi o mais rápido do dia em Silverstone Senna chegaria também a testar a Brabham em 1983, mas foi no circuito inglês, no dia 9 de novembro de 1983, que o brasileiro andou pela primeira vez com o carro da equipe Toleman, o time com o qual assinaria contrato para disputar a temporada seguinte na F-1.
Toleman
Senna na Toleman: 1984
A Toleman era uma equipe média: se não era a menos competitiva do grid, vencer beirava o impossível em condições normais. Mas, em condições mais adversas, o talento de Senna poderia sobressair e foi justamente o que aconteceu em Mônaco, debaixo de um temporal no Principado localizado na costa mediterrânea.Largando na 13a colocação, Senna chegou em segundo em poucas voltas, superando nomes como Lauda, Rosberg e Piquet. Quando estava prestes a assumir a liderança, a prova foi interrompida e Alain Prost foi declarado vencedor. Mesmo assim, o resultado foi considerado histórico para a Toleman (o melhor do time até então) e foi o dia em que o nome Senna entrou definitivamente como um dos grandes da F-1.
Com o evidente talento demonstrado em sua temporada de estreia, o brasileiro consegue contrato com uma das equipes mais tradicionais da F-1 para as temporadas seguintes: a Lotus, com a qual competiu em 1985, 1986 e 1987.
Lotus
Senna na Lotus: 1985 a 1987
Nesta passagem pelo time, Senna conquistou sua primeira vitória, em 1985, em Portugal, e venceu ao todo seis corridas, chegando a disputar o título da temporada em 1986 e 1987. Mesmo sem conquistar o campeonato (foi 3o em 1987), o brasileiro selou seu destino de sucesso na F-1.
As conquistas e desempenhos nestes três anos com o time inglês chamaram a atenção da McLaren, que dominava a categoria com Alain Prost nos últimos anos. Sem um companheiro que lhe incomodasse muito desde Lauda em 84, o francês se sentia confortável dentro do time inglês.
McLaren
Senna na McLaren: 1988 a 1993
A chegada da estrela em ascensão (Senna) balançou as estruturas da equipe e de Prost. Na McLaren, o brasileiro viveu sua era mais vitoriosa. Foram três títulos mundiais e dois vices em seis anos. Lá, Ayrton comemorou 35 de suas 41 vitórias, deixando um legado e escrevendo seu nome no hall dos melhores do mundo.
Também foi a era mais vitoriosa da McLaren, que venceu quatro títulos de pilotos e construtores seguidos. Até hoje, a maioria dos especialistas em F-1 considera que a formação do time em 1988, com a dupla de pilotos Ayrton Senna e Alain Prost, bem como o confiável carro MP4/4 e o excelente motor Honda Turbo como a melhor equipe de todos os tempos da F-1. É difícil mesmo duvidar: foram 15 vitórias em 16 corridas, com dois pilotos escrevendo um dos capítulos mais importantes da história do esporte a motor.
Williams
Senna na Williams: 1994
Após uma passagem que marcou a história pilotando os carros de pintura vermelha e branca, Senna se muda para a Williams, time que havia vencido os últimos dois campeonatos. Conseguir um lugar no então melhor time da F-1 foi uma conquista importante do brasileiro após a frustração nos anos anteriores .
Em 1992, após as dificuldades da McLaren e com a saída já anunciada de Nigel Mansell, o brasileiro tentou a vaga no time para a temporada seguinte, mas recebeu um “não” como resposta por um simples motivo: Alain Prost já havia assinado com o time e bloqueado por contrato a presença de Senna no mesmo time.
Assim, o brasileiro só conseguiu mesmo a transferência para a Williams em 1994, quando a FIA baniu boa parte da eletrônica presente nos carros que era o grande diferencial do time.
Em suas três corridas daquele ano com a Williams, Senna conquista 100% das pole positions da temporada de 1994, mas o fatídico GP de Ímola interrompe a história que começou de maneira promissora, quando Ayrton ainda sonhava com a F-1, naquele seu primeiro teste em 1983 em Donington Park.
A marca Senna, até hoje, está presente em todos os carros que a Williams disputou corridas na F-1, homenagem feita pelo próprio dono da equipe, Sir Frank Williams.
Rivalidade Senna X Prost
Estréia
Quem ri por último ri melhor
O próximo capítulo da rivalidade veio ainda em 1984, mais precisamente na sexta corrida de Senna na F-1, o GP de Mônaco. Debaixo de chuva, o brasileiro mostrou seu grande potencial e, após passar diversos adversários, descontava vertiginosamente a diferença para o primeiro colocado, Alain Prost. A direção de prova, em uma polêmica decisão tomada pelo ex-piloto belga Jacky Ickx, interrompeu a corrida na volta 32. Senna chegou a passar em primeiro, mas o regulamento dizia que, em caso de bandeira vermelha, vale a volta anterior, e a vitória ficou com Prost.
"Foi a primeira vez que tivemos pneus na mesma condições do que os outros, assim como a potência do motor, que fica igualada assim. Foi muito difícil: largando lá de trás você não enxerga nada, você vai atrás de uma nuvem de água o tempo todo. Nesta situação, você não consegue andar rápido e fica arriscando muito. Eu passei momentos difíceis, mas ao final tudo deu certo. Deus ajudou e os brasileiros deram bastante força", disse Ayrton Senna após o GP de Mônaco, que estava visivelmente contrariado no início da cerimônia de pódio, por imaginar que tinha chance de vencer a corrida e foi impedido por conta da decisão do chefe de provas de interromper a prova poucas voltas antes do final.
O que a primeira vista pode parecer um capítulo positivo para o francês teve sabor amargo no final do ano: o rival de Senna perdeu o título por apenas 0,5 para seu companheiro de equipe, Niki Lauda. Se a corrida tivesse sido completada normalmente, mesmo com Senna vencendo e Prost em segundo, o francês levaria o título. "Nunca é fácil perder um campeonato desta maneira (meio ponto atrás de Lauda), mas, se existe uma forma melhor de perder um campeonato, é melhor assim, como fiz, ganhando sete corridas", disse Prost ao final da temporada de 1984.
Em todo caso, o GP de Mônaco de 1984 também entrou para história como a primeira vez que os dois pilotos da maior rivalidade do esporte a motor dividiram um pódio na F-1.
A primeira disputa direta pelo títuloMostrando a sua já reconhecida velocidade, Ayrton fez 8 das 16 poles da temporada, recorde em 1986. Em ritmo de corrida, porém, a Lotus nem sempre conseguia acompanhar a Williams e a McLaren. Ainda assim, na antepenúltima etapa do ano (prova 14 de 16), no tradicional circuito de Estoril, em Portugal, onde havia conquistado no ano anterior sua primeira vitória, Senna estava firme na disputa pelo título.
O quarteto que sonhava com a taça de 1986 àquela altura se reuniu para fazer uma foto que ficaria famosa em Estoril, imagem histórica por reunir em um único encontro quatro grandes talentos da F-1: Mansell, primeiro na tabela até então, com 70 pontos, o bicampeão Piquet, segundo, com 60, o atual campeão Prost, com 59, e Senna, com 51.
Ayrton largou na pole e manteve acesa a chance de título até o final da corrida, mas uma pane seca na última volta o tirou do pódio e, mesmo o quarto lugar obtido com uma volta de desvantagem, não foi o suficiente para mantê-lo com chances matemáticas de ser campeão. Após um segundo lugar no México e uma eletrizante vitória na Austrália, Prost conquistou seu bicampeonato na F-1.
Senna 1 X Prost 0
Em 1988, a rivalidade Senna X Prost ganha novo status: os dois passam, agora, a dividir o mesmo time, a McLaren. A junção da equipe inglesa em seu auge de desenvolvimento, com os potentes motores turbo da Honda e uma dupla de pilotos como esta forma o que até hoje é considerado o “time dos sonhos” da F-1. Os números comprovam: foram incríveis 15 vitórias em 16 corridas.
Mesmo tendo um companheiro bicampeão do mundo, Senna não se intimidou e conquistou seu espaço com velocidade (sobretudo nos treinos classificatórios) e na extrema dedicação ao trabalho, conquistando os japoneses da Honda. O título em Suzuka veio de maneira dramática, com uma ultrapassagem sobre Prost em momento decisivo, após uma leve chuva cair na pista japonesa.
"Essa foi a melhor corrida da minha vida. O acidente em Mônaco me levou para perto de Deus, mudou muito a minha mentalidade. Aprendi a medir o preço do trabalho com a reflexão solitária", disse Ayrton, que caiu da pole position para a 14a colocação na primeira volta, fazendo uma recuperação incrível até ultrapassar Prost e assumir a liderança. “Já ganhei esse título, agora ninguém me tira”, disse Senna, que venceu 8 corridas, contra 7 do rival, e soube se aproveitar do regulamento da época, em que apenas os melhores 11 resultados eram válidos para o campeonato (5 descartes eram obrigatórios).
Senna 1 X Prost 1
Na temporada seguinte, o clima de amizade e ajuda entre os companheiros de equipe se deteriora. No GP de San Marino, Prost acusa Senna de não cumprir o pacto de não-agressão na primeira curva. Para o brasileiro, porém, o acordo só valeria para a primeira largada. A rivalidade atinge seu auge e, no jogo político, até mesmo manobras de Jean-Marie Balestre, presidente da FISA, entram em cena: Senna tenta passar Prost na freada da chicane, mas Prost joga o carro para tirar os dois da corrida. Senna consegue voltar pra pista e, mesmo com uma parada extra para trocar o bico do carro, consegue vencer. Porém, é desclassificado do GP do Japão por “cortar a chicane” e perde o título para Prost.A polêmica foi tanta que o próprio chefe da equipe McLaren, Ron Dennis, deu sua versão dos fatos para a imprensa a favor de Senna.
"O que eu gostaria de fazer agora é mostrar alguns trechos de vídeo que acho bem relevantes, pois nos disseram que não se pode usar áreas de escape para voltar à corrida. Áreas de escape não servem para isso. Elas servem para parar, manobrar e voltar à corrida" disse Ron Denis em declaração após a corrida, onde um vídeo mostrava o GP da Áustria de 1981, onde Villeneuve e Reutemann usaram a área de escape para evitar um acidente. "Só lembro a vocês que não houve exclusões, punições ou desclassificações (no caso do incidente citado acima). E por que fazer o mesmo aqui no Grande Prêmio do Japão. Cadê a consistência? Isso não pode estar certo!", finalizou Dennis.
Além de perder a chance de ser campeão com uma desclassificação polêmica, Senna ainda enfrentou a ira de Jean-Marie Balestre, presidente da FISA na época. "A Corte de Apelações declara uma suspensão de seis meses à licença de Senna como advertência não só para ele, mas a todos os pilotos, bem como uma multa de US$ 100.000. Por mais que ele seja um dos maiores pilotos do mundo, você não tem direito de causar um acidente estúpido", Jean-Marie Balestre, sede da FISA, Paris.
A prova de Suzuka em 1989 é um marco de como a rivalidade Senna X Prost ganhou contornos políticos, incluindo decisões fora das pistas que deixaram o brasileiro bastante decepcionados com os rumos do esporte na época. “Este caso todo está sendo tratado como se eu fosse o único responsável pelo que aconteceu. Fui culpado por tudo, fui penalizado por tudo. Fui tratado como um criminoso e isso é totalmente inaceitável”, falou Senna sobre as acusações.
Senna 2 X Prost 1
Já sem clima para seguir na McLaren, o francês leva o número 1 para a Ferrari em 1990, e começa o ano vencendo justamente na casa de Ayrton Senna, em Interlagos. Mas o brasileiro reage em seguida e leva novamente a decisão do título para o Japão. Só que, desta vez, o abandono é vantagem para o brasileiro, que se faz valer desta matemática ao dar o troco em Prost logo na primeira curva do GP. A batida dá o título de bicampeão ao brasileiro.
“Infelizmente nos tocamos na primeira curva quando estávamos disputando pela liderança", disse Senna logo após o acidente. Quando indagado se a mudança na posição da largada o atrapalhou, ele comentou: "Com certeza. Você luta, você se esforça muito para largar na pole, e aí eles te colocam do lado errado da pista", explicou o brasileiro, citando o fato de que a pole em Suzuka deveria ficar no lado limpo do traçado algo que não foi atendido mesmo com a reclamação do brasileiro antes do classificatório. “Prost sabia que eu estava junto dele, e ele entrou para a linha de dentro na primeira curva. Estava o perseguindo e ele abriu a porta. E, me conhecendo como ele me conhece, ele tinha que saber se houvesse a chance, eu iria tentar ultrapassar", explicou Ayrton sobre a manobra que lhe rendeu o título de 1990.
O francês ficou enfurecido com o novo capítulo de sua rivalidade com o brasileiro. “Eu queria dar um soco na cara dele, mas estava tão enojado que não pude. Ele me enoja. A Fórmula 1 não tem mais graça para mim. Ele me fez perder a corrida na largada porque se eu ficasse à frente ele não me alcançaria mais", disse Prost logo após o acidente.
Senna X Prost: capítulo final
Em 1993, Senna e Prost iniciam o ano como tricampeões. A luta pelo tetra fica mais fácil para o francês após o contrato com a Williams, a equipe que tinha o carro “de outro planeta”, como o brasileiro definiu. O caminho do título, porém, não foi fácil para Prost, que amargou duas derrotas das mais significativas da rivalidade: no GP Brasil e no da Europa, onde levou uma volta de Ayrton em um GP disputado sob chuva. A superioridade da Williams, no entanto, foi bem aproveitada por Prost, que faturou o tetra. Mas na Austrália, prova final de 1993, Senna venceu, com seu rival em segundo – em vitória marcada pela dedicação da cantora Tina Turner com a música “Simply the Best” para o brasileiro.
Quis o destino que o pódio de despedida de Prost da F-1 também fosse o da última vitória de Senna na categoria.
A reconciliação de Senna e Prost
Nas pistas, no último pódio, Senna e Prost estiveram juntos: o brasileiro em primeiro e o francês em segundo na pista de Adelaide em 1993, invertendo o resultado da primeira vez que estiveram na cerimônia de premiação do GP de Mônaco de 1984.Mas ainda houve um momento especial nesta rivalidade, justamente no fatídico final de semana do GP de Ímola de 1994. Já na Williams, Senna brinca com o rival durante a transmissão da TV durante um dos treinos.
"Um alô especial para meu querido amigo, Alain! Sinto sua falta, Alain!", disse Senna no rádio de sua Williams, sabendo que Prost, comentarista de uma emissora francesa, estaria na escuta. Escute o áudio com a mensagem de Senna para Prost abaixo:
VER VÍDEO:
https://www.youtube.com/watch?v=be3g3mBwGJQ
A reconciliação dos dois maiores rivais da história da F-1 era, agora, de conhecimento de todos os fãs do esporte a motor. E, de fato, a história de dois dos maiores gênios do automobilismo, Ayrton Senna e Alain Prost, jamais poderá ser contada de forma separada.
Antes de Senna chegar à Fórmula 1, um nome reinava absoluto em Monte Carlo: Graham Hill, apelidado pela imprensa de “Mister Mônaco”. Com suas cinco vitórias no principado (1963, 1964, 1965, 1968 e 1969), Hill era, de fato, sinônimo de conquistas no tradicional circuito de rua.
Mas, a partir de 1984, quando Senna estreou na categoria, logo este apelido teria também que ser aplicado a outro piloto. A primeira grande demonstração foi na chuva, com a modesta equipe Toleman. Veja, ano a ano, o desempenho do Brasileiro em Mônaco.
Rei de Mônaco
Mas, a partir de 1984, quando Senna estreou na categoria, logo este apelido teria também que ser aplicado a outro piloto. A primeira grande demonstração foi na chuva, com a modesta equipe Toleman. Veja, ano a ano, o desempenho do Brasileiro em Mônaco.
Se a média de tempo de voltas de Ayrton e Prost se mantivessem, Senna teria oportunidade de assumir a primeira colocação ainda naquela volta. Como não havia sido completado 50% da prova, apenas metade dos pontos foram entregues aos pilotos, saindo Prost com 4,5 pontos no campeonato e Ayrton com 3. Curiosamente, se o francês tivesse terminado em segundo, mas com a prova terminada em sua totalidade, o título de 1984, que ficou com Niki Lauda, seria seu.
"É fantástico ganhar aqui em Mônaco. Foi uma boa largada e eu já vinha pensando em como seria bom comemorar a vitória aqui quando a quebra (de Mansell) aconteceu. Quando você tem azar, nada se pode fazer. Ele forçou demais o carro. O final não foi tão tranquilo. Fui engatar a segunda marcha (na volta 63, nos 'Esses' da Piscina) e ela não entrou. Tive que parar os carros nos freios e quase rodei", explicou Senna sobre a sua primeira vitória no circuito monegasco.Mônaco marcou a carreira de Ayrton Senna pela sua primeira grande aparição para o público da F-1, em 1984, e pelas suas seis vitórias. Mas uma prova em especial também merece ser citada: a de 1988.
A pole position, a melhor volta da prova e os quase 1 minuto de frente para o segundo colocado não foram o suficiente para Senna vencer no principado em 1988. Foi a prova que o próprio Ayrton considerou como a “vitória mais perdida de sua carreira” ao errar a entrada do túnel e bater no guard rail, deixando a vitória para seu maior rival, Alain Prost.
O episódio rendeu uma passagem engraçada para Isabel Gomes, empregada da casa de Senna em Mônaco – e que até hoje trabalha com a família, inclusive no período de Bruno Senna na F-1. Com o abandono, Ayrton chegou muito mais cedo em casa, surpreendendo Isabel. “Eu estava vendo pela televisão, e o menino Ayrton estava liderando. Tocaram na porta, apanhei um susto: era ele", disse.
É também de Mônaco, em 1988, uma história bastante marcante da carreira de Ayrton. O carro que foi considerado o melhor de todos os tempos (McLaren MP 4/4) e o piloto que conseguiu beirar a perfeição da pilotagem nas apertadas ruas de Monte Carlo renderam uma combinação incrível no treino classificatório.
Sem se preocupar em poupar equipamento, o brasileiro entrou na pista e cravou a pole. Até aí, algo de certa forma rotineiro para Senna. Mas, ao invés de voltar aos boxes, o piloto continuou acelerando, melhorando seu tempo a cada volta. "Entrei numa espécie de transe, num túnel, e não conseguia parar", revelou. De repente, Senna "despertou" e, assustado, levou o carro aos pits. O saldo do "transe": o brasileiro impôs 1s427 sobre o companheiro Alain Prost, segundo no grid. Algo incrível, considerado o nível técnico do francês, o circuito de rua mais desafiador da temporada e o fato dos dois rivais estarem no mesmo time.
"Não posso entender como se pode ganhar ou perder por causa de um tipo como este", disse Prost, que perdeu preciosos segundos tentando ultrapassar Rene Arnoux. No fim da prova, o brasileiro havia perdido a primeira e segunda marchas (que em Mônaco, são fundamentais): “Fiquei em duas marchas, mas tentei manter o ritmo para o Prost não perceber", falou Senna.
Mas Prost, o segundo, perdeu tempo quando o incidente De Cesaris-Piquet travou a curva Lowes. "Eu tive que parar e colocar a marcha em ponto morto. Quase ri dentro do carro", falou Prost se referindo ao acidente de Piquet e De Cesaris. Ao final da prova Senna conquistou a vitória com 52s5 de vantagem para o francês.
Com os grandes nomes da época fora de combate em virtude de acidentes e problemas, Senna reduziu ainda mais o ritmo no fim, o que fez com que Jean Alesi, da Tyrrell, e Gerhard Berger, seu companheiro de McLaren, se aproximassem. “Eu vi que eles se aproximaram, mas poderia acelerar mais se fosse necessário”, completou o brasileiro.
Thierry Boutsen, da Williams-Renault, Alex Caffi, da Arrows e Éric Bernard, da Lola, foram os únicos que completaram a prova, fechando os seis primeiros.
1991: pavimentando o caminho para o tri
“Reclamei com Ron (Dennis) ao final da prova via rádio, perguntando se a prova havia acabado. Ele me mandou acelerar pois as placas da Ferrari diziam a mesma coisa. Aumentei a velocidade sem saber se podia, ou não, e deu problema no motor”, explicou.O carro muito rápido e eficiente da Williams de 1991 se transformou em uma máquina praticamente imbatível em 1992. Sem se comparar à McLaren de Senna, Mansell cravou a pole position da corrida com 1s1 em cima do brasileiro. Na prova, Senna conseguiu tirar proveito de estar largando no lado limpo da reta e sair melhor do que Patrese na largada. Mansell estilingava na frente, com o brasileiro tentando acompanhar. Patrese até tentou forçar o ritmo para cima de Senna, mas com problemas em seu câmbio eletrônico, perdia rendimento.
Na volta 60, a Footwork de Michele Alboreto rodou na frente de Ayrton, quase coletando o brasileiro. Para evitar a batida, Senna teve que manobrar sua McLaren, perdendo diversos segundos naquela volta. “Esta perda de tempo foi enorme, quase tive que parar completamente o carro”, falou Senna.
A vitória estava nas mãos de Mansell, mas a oito voltas do fim, uma das rodas do inglês perdeu a porca, obrigando o piloto da Williams tivesse que retornar aos pits para uma parada não programada. Senna se aproveitou da situação e tomou a ponta.
Com pneus novos, Mansell saiu em segundo, voando para cima de Senna. Com um carro nitidamente mais veloz, o que se viu nas voltas finais foi um incansável balé de defesa de Ayrton, que fez tudo que podia para evitar a ultrapassagem de Mônaco. Essa foi a mais difícil vitória de Ayrton no principado.
"Nós damos o nosso melhor em todos os treinos e no classificatório, mas as Williams eram mais rápidas. Na corrida as coisas melhoraram um pouco. Usei toda a minha experiência de provas anteriores para me sobressair. No final, normalmente você tenta se motivar para chegar bem no final, mas nesta corrida, eu tentei forçar muito para que a diferença não ficar tão alta para qualquer problema eventual que poderia acontecer com Mansell. Depois, com o problema que aconteceu com ele, eu não tinha mais pneus, e ainda faltavam cinco voltas para o fim. Mansell veio com tudo, foi muito emocionante, mas extremamente difícil. Ele era sete segundos mais rápido do que eu e eu não tinha aderência para colocar tração na pista. Parecia que estava sobre o gelo", disse Senna.
Para Mansell, a dificuldade não era o carro, e sim o espaço para conseguir ultrapassar o brasileiro.
"Meu problema foi na saída do túnel, com isso, até eu chegar aos pits, eu demorei 12 a 15 segundos. Não tinha freios também, pois o carro estava em três rodas. Nosso pit foi demorado e vi Ayrton passando e pensei que a prova já era. Mas como tínhamos algumas voltas, dei tudo que pude e consegui colar nele, mas seu carro era muito largo para ultrapassar", brincou o inglês.
Novamente enfrentando uma Williams superior, Senna agora não tinha Mansell como rival na equipe azul e amarela, mas sim Prost, que retornava de um ano sabático para conquistar seu quarto título na Fórmula 1. Mas, naquele começo de ano, Senna se sobressaiu com vitórias incríveis, como a do GP do Brasil e do GP da Europa.
Após bater muito forte nos treinos de quinta-feira, Senna conquistou a terceira posição do grid, atrás de Prost e Schumacher. Mas para sua alegria, o ímpeto do francês fez com que ele queimasse a largada e fosse punido com um Stop and Go, caindo para 22º. Schumacher estava tranquilo na liderança da prova quando, em quase sua metade, na volta 33, parou com problemas hidráulicos. Com tranquilidade, Senna soube administrar o ritmo para conquistar sua sexta vitória no principado, a quinta consecutiva, um novo recorde no circuito mais tradicional da F-1.
"Eu vinha visualizando esse resultado mesmo antes da largada. Tinha muito desejo da vitória após este acidente. Mentalmente, não desisti. Pensei muito nela na noite de sábado, cheguei a titubear um instante, mas realmente pensei muito nessa vitória e ela veio do jeitinho que tinha que vir", disse Senna.
Alguns jornalistas presentes naquele fim de semana em Monte Carlo falaram que a vitória só veio por causa da infelicidade dos concorrentes, o que foi rebatido por Ayrton: "Acredito em Deus, não em sorte", finalizou.
Até hoje, com as seis vitórias no principado de Mônaco, Ayrton Senna é o maior vencedor da corrida. Graham Hill, o ex-recordista, e Michael Schumacher, possuem cinco vitórias cada. Dos pilotos em atividade, apenas Alonso possui mais de uma conquista (2006 e 2007). Kimi Raikkonen, Jenson Button, Lewis Hamilton, Sebastian Vettel e Nico Rosberg também já venceram, mas somente uma vez cada.Enquanto o Brasil vibrava com as vitórias de Emerson Fittipaldi na F-1 (em 1972, ele se tornou o primeiro piloto do País a se tornar campeão mundial), um jovem paulistano circulava anonimamente no kartódromo de Interlagos. Ayrton Senna começou sua carreira no kart com a curiosa história que muitos fãs conhecem: antes de fazer sua primeira prova oficial em São Paulo, em julho de 1973, o piloto correu pela primeira vez aos 9 anos em um GP de kart em Campinas contra pilotos mais experientes e com muito mais idade.
O grid foi definido por sorteio, e Senna tirou o número 1 a primeira pole de uma carreira marcada por várias.
O jovem Ayrton comemorou, mas seu pai, Milton, considerava aquilo uma loucura. “Imagine, um novato em primeiro, vão atropelar o menino!”, pensou, tentando de todas as maneiras convencer seu filho para não largar em primeiro. Mas não teve jeito: Senna conseguiu o que queria e manteve a pole, segurando a liderança por boa parte da corrida, até que um adversário mais experiente acaba tirando o jovem Ayrton da prova. Milton vê o acidente e sai correndo ao encontro do filho pensando “mataram o moleque”! mas felizmente nada aconteceu e Ayrton saiu ileso, e muito irritado com a manobra do adversário.É desta época do kart que outra história de superação e dedicação do anônimo piloto Ayrton Senna ficou bem conhecida e está relacionada à chuva. Depois de um péssimo desempenho em pista molhada bem no começo da sua carreira, o jovem piloto colocou na cabeça que seria o melhor nestas condições. A determinação era tanta que toda vez que chovia ele ia para correndo ao kartódromo. Tanta dedicação e talento logo seriam conhecidos pelo mundo nas pistas de F-1...
O talento e dedicação do jovem Ayrton Senna já era conhecida no meio do kart, como atestava Lucio Pascual Gascon, oTchê, primeiro preparador dos karts do piloto. Sua forma de pilotar também já arrancava elogios de Angelo Parilla, um dos melhores fabricantes internacionais de kart. “Nunca havia visto um piloto como este”, disse, citando Ayrton Senna.
Com diversos títulos no kart, Ayrton Senna começa a chamar a atenção do meio especializado mais ainda longe da chamada “grande mídia”.
A importante revista “Quatro Rodas” destaca o potencial do jovem piloto brasileiro em matéria no começo dos anos 1980 e um pequeno equívoco mostra que o caminho para a fama ainda era longo para ser percorrido pelo promissor piloto “Airton Senna”, como grafado na reportagem. Na Inglaterra, suas vitórias começaram a tornar o piloto conhecido no meio especializado, batizando Silverstone de “Silvastone” – usando o último sobrenome de Ayrton como trocadilho para a pista inglesa.
O título de campeão da F-3 era, na época de Senna, um atestado de qualidade que credenciava seu portador a buscar uma vaga na F-1. Não por acaso, alguns times deram ao jovem brasileiro a chance de acelerar um carro da categoria e, no caso de Ayrton, esta estreia foi justamente com o time campeão do ano anterior, a Williams. Senna já era tido como a mais nova promessa brasileira, trilhando o caminho de sucesso aberto por Emerson Fittipaldi e seguido com louvor com Nelson Piquet que seria campeão da F-1 em 1983.
Sabendo que a estreia de Senna seria algo muito relevante para o esporte do País, a TV Globo registrou as imagens do primeiro teste do piloto, no circuito inglês de Donington Park. “É hoje!”, disse Senna ao ver o cinegrafista da emissora e o repórter Reginaldo Leme. De fato, foi um dia histórico: o piloto bateu o recorde da pista e começou a mostrar para toda F-1 que tinha potencial para ser um futuro campeão.
Em poucas voltas, Senna já tinha igualado o tempo de Jonathan Palmer, piloto de testes da Williams, em 1min01s7. Nas 83 voltas que deu, melhora cada vez mais, atingindo o recorde de 1m00s5, “o melhor que a equipe já havia conseguido neste circuito de Donington Park em mais de um segundo”, conforme atestou reportagem da TV Globo da época, feita por Reginaldo Leme.Na sexta corrida de Senna na F-1, o GP de Mônaco, o que os brasileiros já sabiam se tornou mundialmente conhecido: era apenas questão de tempo até que o então jovem piloto da Toleman, com 24 anos, ingressasse o hall de grandes nomes da F-1.
Debaixo de forte chuva, Senna largou em 13o e passou diversos adversários, descontando vertiginosamente a diferença para o primeiro colocado, Alain Prost. Em uma polêmica decisão, a direção de prova interrompeu a corrida na volta 32.
Senna chegou a passar em primeiro, mas, em caso de bandeira vermelha, vale a volta anterior, e a vitória ficou com Prost.
Foi a primeira vez que os dois maiores rivais da história da F-1 dividiram um pódio.
E que o mundo todo viu do que Senna era capaz em poucos meses depois, no início da temporada de 1985, no GP de Portugal, o brasileiro conquistaria já sua primeira vitória, também debaixo de chuva, já com a equipe Lotus.
"É fantástico ganhar aqui em Mônaco. Foi uma boa largada e eu já vinha pensando em como seria bom comemorar a vitória aqui quando a quebra (de Mansell) aconteceu. Quando você tem azar, nada se pode fazer. Ele forçou demais o carro. O final não foi tão tranquilo. Fui engatar a segunda marcha (na volta 63, nos 'Esses' da Piscina) e ela não entrou. Tive que parar os carros nos freios e quase rodei", explicou Senna sobre a sua primeira vitória no circuito monegasco.Mônaco marcou a carreira de Ayrton Senna pela sua primeira grande aparição para o público da F-1, em 1984, e pelas suas seis vitórias. Mas uma prova em especial também merece ser citada: a de 1988.
A pole position, a melhor volta da prova e os quase 1 minuto de frente para o segundo colocado não foram o suficiente para Senna vencer no principado em 1988. Foi a prova que o próprio Ayrton considerou como a “vitória mais perdida de sua carreira” ao errar a entrada do túnel e bater no guard rail, deixando a vitória para seu maior rival, Alain Prost.
O episódio rendeu uma passagem engraçada para Isabel Gomes, empregada da casa de Senna em Mônaco – e que até hoje trabalha com a família, inclusive no período de Bruno Senna na F-1. Com o abandono, Ayrton chegou muito mais cedo em casa, surpreendendo Isabel. “Eu estava vendo pela televisão, e o menino Ayrton estava liderando. Tocaram na porta, apanhei um susto: era ele", disse.
É também de Mônaco, em 1988, uma história bastante marcante da carreira de Ayrton. O carro que foi considerado o melhor de todos os tempos (McLaren MP 4/4) e o piloto que conseguiu beirar a perfeição da pilotagem nas apertadas ruas de Monte Carlo renderam uma combinação incrível no treino classificatório.
Sem se preocupar em poupar equipamento, o brasileiro entrou na pista e cravou a pole. Até aí, algo de certa forma rotineiro para Senna. Mas, ao invés de voltar aos boxes, o piloto continuou acelerando, melhorando seu tempo a cada volta. "Entrei numa espécie de transe, num túnel, e não conseguia parar", revelou. De repente, Senna "despertou" e, assustado, levou o carro aos pits. O saldo do "transe": o brasileiro impôs 1s427 sobre o companheiro Alain Prost, segundo no grid. Algo incrível, considerado o nível técnico do francês, o circuito de rua mais desafiador da temporada e o fato dos dois rivais estarem no mesmo time.
"Não posso entender como se pode ganhar ou perder por causa de um tipo como este", disse Prost, que perdeu preciosos segundos tentando ultrapassar Rene Arnoux. No fim da prova, o brasileiro havia perdido a primeira e segunda marchas (que em Mônaco, são fundamentais): “Fiquei em duas marchas, mas tentei manter o ritmo para o Prost não perceber", falou Senna.
Mas Prost, o segundo, perdeu tempo quando o incidente De Cesaris-Piquet travou a curva Lowes. "Eu tive que parar e colocar a marcha em ponto morto. Quase ri dentro do carro", falou Prost se referindo ao acidente de Piquet e De Cesaris. Ao final da prova Senna conquistou a vitória com 52s5 de vantagem para o francês.
1990: barba, cabelo e bigode
Com os grandes nomes da época fora de combate em virtude de acidentes e problemas, Senna reduziu ainda mais o ritmo no fim, o que fez com que Jean Alesi, da Tyrrell, e Gerhard Berger, seu companheiro de McLaren, se aproximassem. “Eu vi que eles se aproximaram, mas poderia acelerar mais se fosse necessário”, completou o brasileiro.
Thierry Boutsen, da Williams-Renault, Alex Caffi, da Arrows e Éric Bernard, da Lola, foram os únicos que completaram a prova, fechando os seis primeiros.
1991: pavimentando o caminho para o tri
Na volta 60, a Footwork de Michele Alboreto rodou na frente de Ayrton, quase coletando o brasileiro. Para evitar a batida, Senna teve que manobrar sua McLaren, perdendo diversos segundos naquela volta. “Esta perda de tempo foi enorme, quase tive que parar completamente o carro”, falou Senna.
A vitória estava nas mãos de Mansell, mas a oito voltas do fim, uma das rodas do inglês perdeu a porca, obrigando o piloto da Williams tivesse que retornar aos pits para uma parada não programada. Senna se aproveitou da situação e tomou a ponta.
Com pneus novos, Mansell saiu em segundo, voando para cima de Senna. Com um carro nitidamente mais veloz, o que se viu nas voltas finais foi um incansável balé de defesa de Ayrton, que fez tudo que podia para evitar a ultrapassagem de Mônaco. Essa foi a mais difícil vitória de Ayrton no principado.
"Nós damos o nosso melhor em todos os treinos e no classificatório, mas as Williams eram mais rápidas. Na corrida as coisas melhoraram um pouco. Usei toda a minha experiência de provas anteriores para me sobressair. No final, normalmente você tenta se motivar para chegar bem no final, mas nesta corrida, eu tentei forçar muito para que a diferença não ficar tão alta para qualquer problema eventual que poderia acontecer com Mansell. Depois, com o problema que aconteceu com ele, eu não tinha mais pneus, e ainda faltavam cinco voltas para o fim. Mansell veio com tudo, foi muito emocionante, mas extremamente difícil. Ele era sete segundos mais rápido do que eu e eu não tinha aderência para colocar tração na pista. Parecia que estava sobre o gelo", disse Senna.
Para Mansell, a dificuldade não era o carro, e sim o espaço para conseguir ultrapassar o brasileiro.
"Meu problema foi na saída do túnel, com isso, até eu chegar aos pits, eu demorei 12 a 15 segundos. Não tinha freios também, pois o carro estava em três rodas. Nosso pit foi demorado e vi Ayrton passando e pensei que a prova já era. Mas como tínhamos algumas voltas, dei tudo que pude e consegui colar nele, mas seu carro era muito largo para ultrapassar", brincou o inglês.
1993: recorde em Mônaco
Novamente enfrentando uma Williams superior, Senna agora não tinha Mansell como rival na equipe azul e amarela, mas sim Prost, que retornava de um ano sabático para conquistar seu quarto título na Fórmula 1. Mas, naquele começo de ano, Senna se sobressaiu com vitórias incríveis, como a do GP do Brasil e do GP da Europa.
Após bater muito forte nos treinos de quinta-feira, Senna conquistou a terceira posição do grid, atrás de Prost e Schumacher. Mas para sua alegria, o ímpeto do francês fez com que ele queimasse a largada e fosse punido com um Stop and Go, caindo para 22º. Schumacher estava tranquilo na liderança da prova quando, em quase sua metade, na volta 33, parou com problemas hidráulicos. Com tranquilidade, Senna soube administrar o ritmo para conquistar sua sexta vitória no principado, a quinta consecutiva, um novo recorde no circuito mais tradicional da F-1.
"Eu vinha visualizando esse resultado mesmo antes da largada. Tinha muito desejo da vitória após este acidente. Mentalmente, não desisti. Pensei muito nela na noite de sábado, cheguei a titubear um instante, mas realmente pensei muito nessa vitória e ela veio do jeitinho que tinha que vir", disse Senna.
Alguns jornalistas presentes naquele fim de semana em Monte Carlo falaram que a vitória só veio por causa da infelicidade dos concorrentes, o que foi rebatido por Ayrton: "Acredito em Deus, não em sorte", finalizou.
Até hoje, com as seis vitórias no principado de Mônaco, Ayrton Senna é o maior vencedor da corrida. Graham Hill, o ex-recordista, e Michael Schumacher, possuem cinco vitórias cada. Dos pilotos em atividade, apenas Alonso possui mais de uma conquista (2006 e 2007). Kimi Raikkonen, Jenson Button, Lewis Hamilton, Sebastian Vettel e Nico Rosberg também já venceram, mas somente uma vez cada.Enquanto o Brasil vibrava com as vitórias de Emerson Fittipaldi na F-1 (em 1972, ele se tornou o primeiro piloto do País a se tornar campeão mundial), um jovem paulistano circulava anonimamente no kartódromo de Interlagos. Ayrton Senna começou sua carreira no kart com a curiosa história que muitos fãs conhecem: antes de fazer sua primeira prova oficial em São Paulo, em julho de 1973, o piloto correu pela primeira vez aos 9 anos em um GP de kart em Campinas contra pilotos mais experientes e com muito mais idade.
O grid foi definido por sorteio, e Senna tirou o número 1 a primeira pole de uma carreira marcada por várias.
O jovem Ayrton comemorou, mas seu pai, Milton, considerava aquilo uma loucura. “Imagine, um novato em primeiro, vão atropelar o menino!”, pensou, tentando de todas as maneiras convencer seu filho para não largar em primeiro. Mas não teve jeito: Senna conseguiu o que queria e manteve a pole, segurando a liderança por boa parte da corrida, até que um adversário mais experiente acaba tirando o jovem Ayrton da prova. Milton vê o acidente e sai correndo ao encontro do filho pensando “mataram o moleque”! mas felizmente nada aconteceu e Ayrton saiu ileso, e muito irritado com a manobra do adversário.É desta época do kart que outra história de superação e dedicação do anônimo piloto Ayrton Senna ficou bem conhecida e está relacionada à chuva. Depois de um péssimo desempenho em pista molhada bem no começo da sua carreira, o jovem piloto colocou na cabeça que seria o melhor nestas condições. A determinação era tanta que toda vez que chovia ele ia para correndo ao kartódromo. Tanta dedicação e talento logo seriam conhecidos pelo mundo nas pistas de F-1...
O talento e dedicação do jovem Ayrton Senna já era conhecida no meio do kart, como atestava Lucio Pascual Gascon, oTchê, primeiro preparador dos karts do piloto. Sua forma de pilotar também já arrancava elogios de Angelo Parilla, um dos melhores fabricantes internacionais de kart. “Nunca havia visto um piloto como este”, disse, citando Ayrton Senna.
Os primeiros reconhecimentos
A importante revista “Quatro Rodas” destaca o potencial do jovem piloto brasileiro em matéria no começo dos anos 1980 e um pequeno equívoco mostra que o caminho para a fama ainda era longo para ser percorrido pelo promissor piloto “Airton Senna”, como grafado na reportagem. Na Inglaterra, suas vitórias começaram a tornar o piloto conhecido no meio especializado, batizando Silverstone de “Silvastone” – usando o último sobrenome de Ayrton como trocadilho para a pista inglesa.
Sabendo que a estreia de Senna seria algo muito relevante para o esporte do País, a TV Globo registrou as imagens do primeiro teste do piloto, no circuito inglês de Donington Park. “É hoje!”, disse Senna ao ver o cinegrafista da emissora e o repórter Reginaldo Leme. De fato, foi um dia histórico: o piloto bateu o recorde da pista e começou a mostrar para toda F-1 que tinha potencial para ser um futuro campeão.
Em poucas voltas, Senna já tinha igualado o tempo de Jonathan Palmer, piloto de testes da Williams, em 1min01s7. Nas 83 voltas que deu, melhora cada vez mais, atingindo o recorde de 1m00s5, “o melhor que a equipe já havia conseguido neste circuito de Donington Park em mais de um segundo”, conforme atestou reportagem da TV Globo da época, feita por Reginaldo Leme.Na sexta corrida de Senna na F-1, o GP de Mônaco, o que os brasileiros já sabiam se tornou mundialmente conhecido: era apenas questão de tempo até que o então jovem piloto da Toleman, com 24 anos, ingressasse o hall de grandes nomes da F-1.
Debaixo de forte chuva, Senna largou em 13o e passou diversos adversários, descontando vertiginosamente a diferença para o primeiro colocado, Alain Prost. Em uma polêmica decisão, a direção de prova interrompeu a corrida na volta 32.
Senna chegou a passar em primeiro, mas, em caso de bandeira vermelha, vale a volta anterior, e a vitória ficou com Prost.
Foi a primeira vez que os dois maiores rivais da história da F-1 dividiram um pódio.
E que o mundo todo viu do que Senna era capaz em poucos meses depois, no início da temporada de 1985, no GP de Portugal, o brasileiro conquistaria já sua primeira vitória, também debaixo de chuva, já com a equipe Lotus.
As vitórias de Senna na chuva
Uma vitória histórica de Senna em 1993 é considerada por muitos especialistas como a melhor exibição de um piloto na chuva em todos os tempos na F-1. Em Donington Park, o brasileiro jogou muito bem com o clima inglês, mantendo-se na pista com pneus secos mesmo quando a chuva apertava e, com isso, fazer menos pits stops do que seus rivais, especialmente Alain Prost.
Mesmo com um carro muito superior (fez a pole com um tempo de 1s6 melhor que Senna), o francês tomou uma volta de seu arquirrival, chegando em terceiro. Hill foi o segundo, 1min23s atrás. De quebra, foi em Donington Park onde o brasileiro também fez a “melhor primeira volta da F-1”, ultrapassando cinco adversários, entre eles Prost, Hill (que viria a ser campeão mundial em 1996) e Schumacher (que seria heptacampeão).
“Eu fiz uma corrida dos meus velhos tempos. De coração, mandando ver, e usando a cabeça quando tinha que usar, nos dois sentidos: apertando quando tinha que apertar, aliviando quando tinha que aliviar. Foi uma corrida tremenda, fantástica... foi um sonho”, disse Senna.
Confira a volta mais fantástica da história da Fórmula 1:
Uma vitória histórica de Senna em 1993 é considerada por muitos especialistas como a melhor exibição de um piloto na chuva em todos os tempos na F-1. Em Donington Park, o brasileiro jogou muito bem com o clima inglês, mantendo-se na pista com pneus secos mesmo quando a chuva apertava e, com isso, fazer menos pits stops do que seus rivais, especialmente Alain Prost.
Mesmo com um carro muito superior (fez a pole com um tempo de 1s6 melhor que Senna), o francês tomou uma volta de seu arquirrival, chegando em terceiro. Hill foi o segundo, 1min23s atrás. De quebra, foi em Donington Park onde o brasileiro também fez a “melhor primeira volta da F-1”, ultrapassando cinco adversários, entre eles Prost, Hill (que viria a ser campeão mundial em 1996) e Schumacher (que seria heptacampeão).
“Eu fiz uma corrida dos meus velhos tempos. De coração, mandando ver, e usando a cabeça quando tinha que usar, nos dois sentidos: apertando quando tinha que apertar, aliviando quando tinha que aliviar. Foi uma corrida tremenda, fantástica... foi um sonho”, disse Senna.
Confira a volta mais fantástica da história da Fórmula 1:
VER VÍDEO
https://www.youtube.com/watch?v=25KfRPkcMcs
A Volta Mais Fantástica da História da F1 - Ayrton Senna - Doningto
1º colocação: Ayrton Senna, (McLaren)
2º colocação: Damon Hill, (Williams), a 1min23s199
3º colocação: Alain Prost, (Williams), 1 volta atrás
4º colocação: Johnny Herbert, (Lotus), 1 volta atrás
5º colocação: Riccardo Patrese, (Benetton), 2 voltas atrás
Ao todo, das 41 conquistas de Senna na Fórmula, 12 foram neste tipo de piso.
Vejam quais foram as vitórias de Ayrton na categoria:
1985, GP de Portugal, Estoril: frio e chuva
1985, GP da Bélgica, Spa-Francorchamps: Seco e molhado, com a pista tendo diferentes condições
1988, GP da Grã-Bretanha, Silverstone: chuva
1988, GP da Alemanha, Hockenheim: chuva
1988, GP do Japão, Suzuka: chuvas esparsas
1989, GP da Bélgica, Spa-Francorchamps: chuva e tempo nublado
1990, GP do Canadá, Montreal: início com pista molhada
1991, GP do Brasil, Interlagos: chuva no fim
1991, GP de San Marino, Ímola: início com pista molhada
1991, GP da Austrália, Adelaide, tempestade torrencial
1993, GP do Brasil, Interlagos: chuva forte no meio da prova
1993, GP da Europa, Donington Park: chuva e neblina
Os anos da McLaren marcam não apenas os três títulos mundiais de Senna (1988, 1990 e 1991), mas também a consolidação de seu nome como um dos maiores do esporte. Os três títulos conquistados em Suzuka, no Japão, aliado à parceria de sucesso com a Honda tornou o brasileiro um grande ídolo para os nipônicos. Neste período, era comum ver cenas de histeria com a presença de Senna bem como no Brasil, onde a épica vitória de 1991 ganhou contornos históricos, com uma multidão invadindo a pista, em cena repetida também na vitória de 1993. Neste período, Senna inspirou uma geração de pilotos Fernando Alonso tinha um kart pintado de branco e vermelho imitando o carro do brasileiro. Lewis Hamilton pintou o capacete de amarelo para ficar mais parecido com o ídolo.
Na Austrália, prova final de 1993, Senna venceu de maneira sublime, mesmo com a McLaren tendo um carro reconhecidamente inferior. O brasileiro já tinha dado show de pilotagem em outros GPs naquele ano, como o histórico GP da Europa, na chuva em Donington Park, mas foi em Adelaide onde, após a corrida, a cantora pop Tina Turner fez uma homenagem que ficaria registrada para sempre: cantou a música “Simply the Best” e chamou o brasileiro para o palco.
Ela faz parte da Constelação de Auriga (cocheiro em grego) e, para visualizá-la, é preciso apontar um telescópio comum nas coordenadas de RA (ascensão reta) 6h53min55,43s, em D (declinação) de 37o 56’09.276, localizada entre as constelações de Andrômeda, Touro e Gêmeos. A estrela Senna é visível de dezembro a março, meses em que a constelação boreal atinge o seu zênite. Uma época em que o mundo da Fórmula 1 desacelera e, assim, pode admirar com mais calma o brilho da estrela que deixou tantas recordações incríveis nas pistas.
1985, GP de Portugal, Estoril: frio e chuva
1985, GP da Bélgica, Spa-Francorchamps: Seco e molhado, com a pista tendo diferentes condições
1988, GP da Grã-Bretanha, Silverstone: chuva
1988, GP da Alemanha, Hockenheim: chuva
1988, GP do Japão, Suzuka: chuvas esparsas
1989, GP da Bélgica, Spa-Francorchamps: chuva e tempo nublado
1990, GP do Canadá, Montreal: início com pista molhada
1991, GP do Brasil, Interlagos: chuva no fim
1991, GP de San Marino, Ímola: início com pista molhada
1991, GP da Austrália, Adelaide, tempestade torrencial
1993, GP do Brasil, Interlagos: chuva forte no meio da prova
1993, GP da Europa, Donington Park: chuva e neblina
Na Austrália, prova final de 1993, Senna venceu de maneira sublime, mesmo com a McLaren tendo um carro reconhecidamente inferior. O brasileiro já tinha dado show de pilotagem em outros GPs naquele ano, como o histórico GP da Europa, na chuva em Donington Park, mas foi em Adelaide onde, após a corrida, a cantora pop Tina Turner fez uma homenagem que ficaria registrada para sempre: cantou a música “Simply the Best” e chamou o brasileiro para o palco.
Ela faz parte da Constelação de Auriga (cocheiro em grego) e, para visualizá-la, é preciso apontar um telescópio comum nas coordenadas de RA (ascensão reta) 6h53min55,43s, em D (declinação) de 37o 56’09.276, localizada entre as constelações de Andrômeda, Touro e Gêmeos. A estrela Senna é visível de dezembro a março, meses em que a constelação boreal atinge o seu zênite. Uma época em que o mundo da Fórmula 1 desacelera e, assim, pode admirar com mais calma o brilho da estrela que deixou tantas recordações incríveis nas pistas.
Homenagens ao ídolo
Assista abaixo ao emocionante vídeo feito pela Shell e pelo Instituto Ayrton Senna com três pessoas que foram muito importantes na vida de Ayrton Senna. Eles falam sobre o carisma e a dedicação que marcaram a vida do ídolo.
Assista abaixo ao emocionante vídeo feito pela Shell e pelo Instituto Ayrton Senna com três pessoas que foram muito importantes na vida de Ayrton Senna. Eles falam sobre o carisma e a dedicação que marcaram a vida do ídolo.
Luis Pascoal Gascón "Tche" - Primeiro treinador do Senna - "Na proporção, o kart é mais rápido do que um carro grande. Quando ele pegou um carro grande, para ele era brincadeira. Ele passeava."
Edgard Mello Filho - Jornalista e Ex-administrador de Interlagos - "Ele fazia uma coisa que ele tinha paixão: era andar aqui nessa pista ao contrário. Ele gostava muito porque dobrava o desafio."
Alan Mosca - Designer de capacetes - "Ele tratava o meu pai como se fosse o pai dele, assim, com carinho, né... Era um cara normal."
Edgard Mello Filho - Jornalista e Ex-administrador de Interlagos - "Ele fazia uma coisa que ele tinha paixão: era andar aqui nessa pista ao contrário. Ele gostava muito porque dobrava o desafio."
Alan Mosca - Designer de capacetes - "Ele tratava o meu pai como se fosse o pai dele, assim, com carinho, né... Era um cara normal."
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