MEU DESCESSO
Mensagem (parte) recebida
em 03/05/1994 por um médium do Grupo D.Bosco da comunhão Espírita de Brasília.
Não escutando a voz da
minha consciência, deixando-me levar pela euforia do meu instinto, antecipei 01
de Maio deste ano de 1994, meu retorno ao mundo dos espíritos.
Não culpo outros.
Várias foram às vezes em
que fui alertado na minha trajetória, nas pistas de competição
automobilísticas, principalmente nos últimos tempos.
Simples pensamentos, que
me falavam constantemente para abandonar as corridas até a falta de velocidade,
e eu achando que era defeito do carro, o que na verdade não era.
A falta de coragem em
correr mais, às vezes deixava-me sem entender tal comportamento.
A falta de rendimento
deixava-me muitas vezes irritado, tinha os meus compromissos, tinha um
contrato, um público.
Tinha coragem sim.
Não, não poderia aceitar o
fracasso.
Não era muito, bastava
apertar um pouco mais o acelerador e já ganhar mais velocidade.
A cada dia que passava, cobrava mais o meu rendimento.
A cada dia que passava, cobrava mais o meu rendimento.
Não respeitei o meu
limite, achava muito pouco, não dei ouvidos à minha consciência, chamando e
alertando para o momento de parar.
Somente agora, neste
momento, percebo a realidade.
A fortuna bem cedo chegou,
a minha porta como prometido.
Era o momento de parar e
seguir outro caminho já traçado e planejado por mim e meus preparadores
espirituais no plano espiritual.
Menos perigoso, mas com
muitos compromissos com esta grande e rica nação, que sofre por ser berço de
tantos irmãos em provas que aqui aportam vindos de outras velhas e sofridas
nações a quem tanto mal causaram.
Voz outras, como disse
anteriormente chamavam-me para esses compromissos, mas fiz-me de surdo e cego
para o alerta que recebia a todo instante.
Sem dúvida, foi vaidade
interior que falou mais alto dentro de mim.
Foi meu orgulho.
Sair em buscar uma
velocidade maior, querendo mais, uma coisa que não estava mais ao meu alcance,
mas que eu queria a todo preço.
Este foi o meu erro.
Por várias vezes, eu e Frank Williams
discutimos reservadamente sobre o meu limite de velocidade.
Percebia a minha falta de
rendimentos para correr mais, facilitando assim outras escuderias a subirem ao pódio,
o que me deixava sem ponto neste campeonato.
Isto me chateava, e
ultimamente sentia uma certa frustração, não vendo um resultado satisfatório
que fizesse jus ao meu contrato com a Williams.
O senhor Frank me dizia
que temia eu não conseguir acompanhar a potência do motor do novo carro, tão
bem preparado para mim, temendo chegar ao final da temporada com um baixo
resultado.
A voz da minha consciência
falava mais forte dentro de mim, alertando-me, para o perigo que bem próximo
estava.
Os acidentes do Rubinho, a
morte do companheiro da Áustria, foram, sem dúvida, um forte aviso.
Senti abalo terrível,
senti uma agonia muito grande, era tudo muito estranho. Lutei, debati,
denunciei.
Mas não parei, não voltei
atrás, não voltaria, nunca voltei.
Provaria com a minha
coragem, a minha equipe, que nós éramos os melhores.
Provaria, era só esperar.
Frank cobrou-me um
resultado positivo, pois o meu contrato estava ficando ameaçado.
Pensativo e preocupado fui
para o Box onde estava o meu carro, fiquei apoiado pensando por alguns
segundos, quando veio a memória como num filme, tudo quanto já tinha
conquistado.
Se eu quisesse poderia,
naquele momento jogar tudo para o alto e desfazer o contrato, mesmo com grandes
prejuízos.
Tive vontade de voltar e
dizer a ele que naquelas atuais circunstâncias não poderia correr e, assim,
deixaria a equipe naquele momento.
Seria o certo?...
Apoiado ainda no carro em
estado de meditação relembrei, não sei por que, da minha família.
De novo no Grid, motores
roncando, passa-se
algum tempo, nova largada
é dada, os motores roncam mais fortes, tomo meu lugar, os demais buscando o seu
melhor lugar, disparamos veloz.
Passados alguns momentos
algo estranho domina-me.
Ouvia a voz de Frank
Williams ao meu lado
dizendo-me:
Corra! Cora! Homem!
Este é o momento.
Não, não poderia ser
verdade, além de ouvir sua voz, ele estava ali ao meu lado.
Como poderia?
Estava sentado junto a
mim!
Estaria ficando louco?
Olho o retrovisor para me
certificar do que estava acontecendo ao meu redor.
Não vejo os companheiros
retardatários e sim a imagem fixa dos cavalos correndo em alta velocidade, como
querendo alcançar-me.
Volto a olhar para frente,
também não vejo nada familiar, só uma grande reta.
De repente, um silêncio me
invade, só um estrondo percebo.
Olho para ambos os lados,
estou só.
Olho o retrovisor, não
vejo mais ninguém, nem cavalos nem bigas.
Falou-me a voz da minha
consciência, agora mais do que nunca viva, frente a frente, sem esperar para
depois a cobrança dos meus atos.
Era como um porteiro de
teatro a só deixar passar para o outro lado quando da apresentação do ingresso.
Assim estava me sentindo e
ouvindo a sua quase sentença.
A reta continuava sem fim,
sentia-me sonolento, não ouvi mais a voz, fui sentindo um adormecimento.
Uma voz foi
acalentando-me, tudo foi se tornando em silêncio profundo.
Queria falar, mas não
tinha forças, estava anestesiado.
Só ouvia agora um canto
suave...
Dormi.
AIRTON SENNA.
Extraído por mim do PPS AYRTON SENNA.
Ver.... Vídeo destes momentos finais, antes da largada no dia fatal em Imola.
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