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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

VICIADOS EM SEXO: DO PRAZER À OBSESSÃO


VICIADOS EM SEXO: DO PRAZER À OBSESSÃO

Entenda distúrbio que torna pessoas dependentes do próprio desejo.
Recentemente lançado, o filme Shame, dirigido pelo famoso Steve McQueen, traz à tona um assunto polêmico em sexualidade: a compulsão sexual ou, como é mais popularmente conhecido, o vício em sexo. 
Trata-se de um distúrbio capaz de prejudicar a pessoa em diversas dimensões, como na profissão, na vida familiar e afetiva e no meio social em que convive.
Produções cinematográficas anteriores já abordaram o tema, porém com tramas enfeitadas de certa dose de fantasia erótica e, por vezes, até sugerindo que envolvimentos sedutores podem fugir do controle e provocar acontecimentos mais trágicos do que se pode imaginar. Shame, por sua vez, aproxima-se mais da realidade, pois além de chamar a atenção para o problema, insinua que se trata de um desvio e, portanto, merece cuidado terapêutico.
Longe das imagens eróticas e das fantasias, estamos falando aqui de uma síndrome sexual com sérias implicações para o sujeito, decorrentes de um comportamento compulsivo, o qual é tido como um transtorno necessário de ser tratado como um distúrbio psicopatológico.

ESCRAVOS DO DESEJO

Portadores dessa anomalia apresentam, espontânea e constantemente, elevados níveis de desejo, com fantasias sexualmente excitantes, impetuosas e recorrentes. Isso os impede de controlar seus impulsos sexuais e, mais que isso, o sexo acaba por comandar seus hábitos. Tornam-se, assim, escravos do próprio desejo e passam a viver em função de sua atividade sexual.
Em geral, trata-se de um distúrbio presente em indivíduos que não apresentam qualquer evidência de disfunções sexuais, tais como a ejaculação precoce e a disfunção erétil, no caso dos homens, ou anorgasmia (ausência de orgasmo) e transtorno de excitação, entre as mulheres. No entanto, essas pessoas podem ser consideradas potencialmente sujeitas a contraírem doenças sexualmente transmissíveis, dada a alta rotatividade em relação ao número de parceiros que usualmente passam a ter e, muito provavelmente, com mais promiscuidade.
Por desenvolverem um alto grau de ansiedade o que pode gerar Transtorno de Ansiedade aliado à compulsão sexual e uma excessiva inquietação em busca de possibilidades que possam propiciar sua atividade sexual, as pessoas compulsivas sexuais direcionam seus sentimentos e pensamentos quase que exclusivamente para esta dimensão. Com isso, prejudicam desde suas atividades cotidianas mais simples até seus relacionamentos sociais e afetivos, envolvendo a infidelidade com os parceiros e a perda de amizades, experimentando, assim, a sensação de vergonha e culpa.
É muito difícil medir o desejo sexual humano, mas poderíamos dizer que ele varia numa escala extrema, que vai desde onde ele praticamente não existe - que corresponde ao Transtorno de Aversão Sexual até o oposto, em que o desejo é absoluto e incontrolável, situação denominada de Desejo Sexual Hiperativo (DSH) ou Hipersexualidade. Neste caso, em geral se desencadeia a obsessão sexual, determinada por um aumento considerável da frequência na atividade sexual, com compulsividade ao ato e à sua consumação. Em mulheres, o Desejo Sexual Hiperativo também é conhecido como Ninfomania e entre os homens, denomina-se Satiríase.

COMO SABER SE SOFRO DE COMPULSÃO SEXUAL?

A sexualidade humana expressa e realiza o ser integral de cada pessoa. Faz parte das experiências do cotidiano como fonte de prazer, realização emocional e estruturação da nossa identidade. É muito influenciada pelos aspectos socioculturais e cada indivíduo é tocado em sua particularidade, pelo meio em que vive. Uma vez que os valores sociais das culturas são dinâmicos, as condutas sexuais se alteram constantemente. Assim, não é tão fácil mensurar um padrão de normalidade para a atividade sexual. Podemos, portanto, estar apenas diante de uma questão de saúde, ética ou meramente íntima de cada indivíduo.
Segundo determinações em psicopatologia, a compulsão sexual pode ser entendida como distúrbio ou patologia, quando causa sofrimento emocional para a pessoa, com prejuízos consideráveis na dimensão relacional, afetiva e familiar. Ou seja, o limite pode ser percebido quando a pessoa começa a machucar a si mesma e ao outro.
O indivíduo se ocupa da masturbação compulsivamente ou do ato sexual que em algumas vezes pode ser pela prostituição quase que integralmente, apesar de estar diante da possibilidade de perder suas relações amorosas. Quando tenta controlar o impulso sexual intenso, a pessoa experimenta uma grande tensão e ansiedade, que a faz retornar à atividade sexual, com posterior estado depressivo.
Além disso, este estado patológico também pode causar danos à profissão e prejuízo financeiro, devido aos gastos extras decorrentes da necessidade da expressão sexual a qualquer custo. Gastos estes que incluem, muitas vezes, o uso de substâncias psicoativas, como álcool e drogas, as quais estão relacionadas à necessidade de desinibição do comportamento.
Quase sempre o objetivo é intensificar o prazer ou abrandar a vergonha e a culpa, que são comuns nestes casos.

DESCUBRA AS CAUSAS DA COMPULSÃO SEXUAL

Alguns autores afirmam que uma das possibilidades, em termos fisiológicos, para a causa desta anomalia está ligada a alterações no equilíbrio dos neurotransmissores relacionados à atividade sexual. Pessoas com lesões nos lobos cerebrais temporais podem desenvolver a hipersexualidade, cujas alterações caracterizam a Síndrome de Kluver-Bucy.
Outros especialistas, porém, explicam a compulsão sexual como uma dependência ao sexo. Isto é, um problema de adição ou vício, muito próximo do uso de álcool e drogas, como a cocaína, por exemplo.
Segundo a Psicanálise, o desejo é o que movimenta o homem. No entanto, especialmente os desejos sexuais, estão sempre em conflito, seja com convenções sociais, com a própria realidade ou, ainda, simplesmente por existirem. Freud afirmava que tais desejos são fundamentais à saúde, mesmo que nunca satisfeitos totalmente. O ser humano deseja o que não tem ou aquilo que perdeu, e esses desejos não satisfeitos e reprimidos podem gerar angústia e ansiedade, ou serem causas de expressões sexuais surpreendentes e até perturbadoras, a ponto de culminar no comportamento compulsivo.
Há, ainda, teorias psicológicas que afirmam ser um transtorno de adaptação comportamental, baseado no fato de que o ato repetitivo em busca de prazer  feito por meio do sexo está ligado à aprendizagem de algo que proporciona tranquilidade. Para essa corrente de pensamento, o sexo funciona como uma espécie de droga sintética, capaz de diminuir sentimentos de medo, solidão e ansiedade. 
Neste caso, ocorre uma hiperestimulação do processo natural decorrente da atividade sexual, que é entendido pelo cérebro como uma recompensa prazerosa.
Percebemos, então, que o conjunto de sintomas apresentados pelo Desejo Sexual Hiperativo pode, na verdade, representar transtornos diferentes, de acordo com a história de vida do paciente, devendo cada qual ser tratado de forma distinta, conforme sua possível causa.
Problema fisiológico, adição ou transtorno, o fato é que o comportamento sexual compulsivo que pode ser decorrente de diferentes patologias tem graves consequências como:
·                                 Perda do autocontrole
·                                 Sofrimento subjetivo profundo
·                                 Incapacidade de adaptação psicossocial

Por esse motivo, o distúrbio deve como dissemos, ser tratado de modo particular e distinto, conforme sua possível causa, a partir de um criterioso diagnóstico, vastamente pesquisado e explorado pelo terapeuta.
Isto significa que esse processo anômalo pode ser controlado e até revertido, na medida em que for devidamente cuidado e acompanhado por especialistas em saúde sexual humana.

PARA CONTINUAR REFLETINDO SOBRE O TEMA


Sobre o AUTOR

Química, pedagoga, mestre em Educação, pós-graduada em Sexualidade e Psicologia, e orientadora sexual. Faz palestras e escreve artigos sobre educação, família e sexualidade. Saiba mais »



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