VICIADOS EM SEXO: DO PRAZER À OBSESSÃO
Entenda distúrbio que
torna pessoas dependentes do próprio desejo.
Recentemente lançado,
o filme Shame, dirigido pelo famoso Steve McQueen, traz à tona um assunto
polêmico em sexualidade: a compulsão sexual ou, como é mais popularmente
conhecido, o vício em sexo.
Trata-se de um distúrbio capaz de prejudicar a pessoa em diversas dimensões, como na profissão, na vida familiar e afetiva e no meio social em que convive.
Trata-se de um distúrbio capaz de prejudicar a pessoa em diversas dimensões, como na profissão, na vida familiar e afetiva e no meio social em que convive.
Produções
cinematográficas anteriores já abordaram o tema, porém com tramas enfeitadas de
certa dose de fantasia erótica e, por vezes, até sugerindo que envolvimentos
sedutores podem fugir do controle e provocar acontecimentos mais trágicos do
que se pode imaginar. Shame, por sua vez, aproxima-se mais da realidade, pois
além de chamar a atenção para o problema, insinua que se trata de um desvio e,
portanto, merece cuidado terapêutico.
Longe das imagens
eróticas e das fantasias, estamos falando aqui de uma síndrome sexual com
sérias implicações para o sujeito, decorrentes de um comportamento compulsivo,
o qual é tido como um transtorno necessário de ser tratado como um distúrbio
psicopatológico.
ESCRAVOS DO DESEJO
Portadores dessa
anomalia apresentam, espontânea e constantemente, elevados níveis de desejo,
com fantasias sexualmente excitantes, impetuosas e recorrentes. Isso os impede
de controlar seus impulsos sexuais e, mais que isso, o sexo acaba por comandar
seus hábitos. Tornam-se, assim, escravos do próprio desejo e passam a viver em
função de sua atividade sexual.
Em geral, trata-se de
um distúrbio presente em indivíduos que não apresentam qualquer evidência de
disfunções sexuais, tais como a ejaculação precoce e a disfunção erétil, no
caso dos homens, ou anorgasmia (ausência de orgasmo) e transtorno de excitação,
entre as mulheres. No entanto, essas pessoas podem ser consideradas
potencialmente sujeitas a contraírem doenças sexualmente transmissíveis, dada a
alta rotatividade em relação ao número de parceiros que usualmente passam a ter
e, muito provavelmente, com mais promiscuidade.
Por desenvolverem um
alto grau de ansiedade o que pode gerar Transtorno de Ansiedade aliado à
compulsão sexual e uma excessiva inquietação em busca de possibilidades que
possam propiciar sua atividade sexual, as pessoas compulsivas sexuais
direcionam seus sentimentos e pensamentos quase que exclusivamente para esta
dimensão. Com isso, prejudicam desde suas atividades cotidianas mais simples
até seus relacionamentos sociais e afetivos, envolvendo a infidelidade com os
parceiros e a perda de amizades, experimentando, assim, a sensação de vergonha
e culpa.
É muito difícil medir
o desejo sexual humano, mas poderíamos dizer que ele varia numa escala extrema,
que vai desde onde ele praticamente não existe - que corresponde ao Transtorno
de Aversão Sexual até o oposto, em que o desejo é absoluto e incontrolável,
situação denominada de Desejo Sexual Hiperativo (DSH) ou Hipersexualidade.
Neste caso, em geral se desencadeia a obsessão sexual, determinada por um
aumento considerável da frequência na atividade sexual, com compulsividade ao
ato e à sua consumação. Em mulheres, o Desejo Sexual Hiperativo também é
conhecido como Ninfomania e entre os homens, denomina-se Satiríase.
COMO SABER SE SOFRO DE COMPULSÃO
SEXUAL?
A sexualidade humana
expressa e realiza o ser integral de cada pessoa. Faz parte das experiências do
cotidiano como fonte de prazer, realização emocional e estruturação da nossa
identidade. É muito influenciada pelos aspectos socioculturais e cada indivíduo
é tocado em sua particularidade, pelo meio em que vive. Uma vez que os valores
sociais das culturas são dinâmicos, as condutas sexuais se alteram
constantemente. Assim, não é tão fácil mensurar um padrão de normalidade para a
atividade sexual. Podemos, portanto, estar apenas diante de uma questão de
saúde, ética ou meramente íntima de cada indivíduo.
Segundo determinações
em psicopatologia, a compulsão sexual pode ser entendida como distúrbio ou
patologia, quando causa sofrimento emocional para a pessoa, com prejuízos
consideráveis na dimensão relacional, afetiva e familiar. Ou seja, o limite
pode ser percebido quando a pessoa começa a machucar a si mesma e ao outro.
O indivíduo se ocupa
da masturbação compulsivamente ou do ato sexual que em algumas vezes pode ser
pela prostituição quase que integralmente, apesar de estar diante da
possibilidade de perder suas relações amorosas. Quando tenta controlar o
impulso sexual intenso, a pessoa experimenta uma grande tensão e ansiedade, que
a faz retornar à atividade sexual, com posterior estado depressivo.
Além disso, este
estado patológico também pode causar danos à profissão e prejuízo financeiro,
devido aos gastos extras decorrentes da necessidade da expressão sexual a
qualquer custo. Gastos estes que incluem, muitas vezes, o uso de substâncias
psicoativas, como álcool e drogas, as quais estão relacionadas à necessidade de
desinibição do comportamento.
Quase sempre o objetivo é intensificar o prazer ou abrandar a vergonha e a culpa, que são comuns nestes casos.
Quase sempre o objetivo é intensificar o prazer ou abrandar a vergonha e a culpa, que são comuns nestes casos.
DESCUBRA AS CAUSAS DA COMPULSÃO
SEXUAL
Alguns autores afirmam
que uma das possibilidades, em termos fisiológicos, para a causa desta anomalia
está ligada a alterações no equilíbrio dos neurotransmissores relacionados à
atividade sexual. Pessoas com lesões nos lobos cerebrais temporais podem
desenvolver a hipersexualidade, cujas alterações caracterizam a Síndrome de
Kluver-Bucy.
Outros especialistas,
porém, explicam a compulsão sexual como uma dependência ao sexo. Isto é, um
problema de adição ou vício, muito próximo do uso de álcool e drogas, como a
cocaína, por exemplo.
Segundo a Psicanálise,
o desejo é o que movimenta o homem. No entanto, especialmente os desejos
sexuais, estão sempre em conflito, seja com convenções sociais, com a própria
realidade ou, ainda, simplesmente por existirem. Freud afirmava que tais
desejos são fundamentais à saúde, mesmo que nunca satisfeitos totalmente. O ser
humano deseja o que não tem ou aquilo que perdeu, e esses desejos não
satisfeitos e reprimidos podem gerar angústia e ansiedade, ou serem causas de
expressões sexuais surpreendentes e até perturbadoras, a ponto de culminar no
comportamento compulsivo.
Há, ainda, teorias
psicológicas que afirmam ser um transtorno de adaptação comportamental, baseado
no fato de que o ato repetitivo em busca de prazer feito por meio do sexo está ligado à aprendizagem de algo que proporciona tranquilidade. Para essa
corrente de pensamento, o sexo funciona como uma espécie de droga sintética,
capaz de diminuir sentimentos de medo, solidão e ansiedade.
Neste caso, ocorre uma hiperestimulação do processo natural decorrente da atividade sexual, que é entendido pelo cérebro como uma recompensa prazerosa.
Neste caso, ocorre uma hiperestimulação do processo natural decorrente da atividade sexual, que é entendido pelo cérebro como uma recompensa prazerosa.
Percebemos, então, que
o conjunto de sintomas apresentados pelo Desejo Sexual Hiperativo pode, na
verdade, representar transtornos diferentes, de acordo com a história de vida
do paciente, devendo cada qual ser tratado de forma distinta, conforme sua
possível causa.
Problema fisiológico,
adição ou transtorno, o fato é que o comportamento sexual compulsivo que pode
ser decorrente de diferentes patologias tem graves consequências como:
·
Perda do autocontrole
·
Sofrimento subjetivo profundo
·
Incapacidade de adaptação psicossocial
Por esse motivo, o
distúrbio deve como dissemos, ser tratado de modo particular e distinto,
conforme sua possível causa, a partir de um criterioso diagnóstico, vastamente
pesquisado e explorado pelo terapeuta.
Isto significa que esse processo anômalo pode ser controlado e até revertido, na medida em que for devidamente cuidado e acompanhado por especialistas em saúde sexual humana.
Isto significa que esse processo anômalo pode ser controlado e até revertido, na medida em que for devidamente cuidado e acompanhado por especialistas em saúde sexual humana.
PARA CONTINUAR REFLETINDO SOBRE O TEMA
Sobre o AUTOR
Química, pedagoga,
mestre em Educação, pós-graduada em Sexualidade e Psicologia, e orientadora
sexual. Faz palestras e escreve artigos sobre educação, família e sexualidade. Saiba mais »
contato: abmazon@terra.com.br
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